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Vice-presidente americano acusa Pequim de querer se livrar de Trump

Vice-presidente americano Mike Pence faz o discurso mais duro contra a China desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca

Agência France-Presse
postado em 04/10/2018 17:51
Mike Pence ressaltou ainda que a interferência russa na política americana
Washington, Estados Unidos - Retrocesso nas liberdades, "agressão" econômica e militar e, sobretudo, interferência política para se livrar de Donald Trump: o vice-presidente americano Mike Pence fez o discurso mais duro contra a China desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca.

O número dois do governo dos Estados Unidos retomou as acusações proferidas nas últimas semanas por vários membros do governo americano, incluindo pelo presidente republicano na semana passada no Conselho de Segurança da ONU. E assim confirmou a impressão de uma ofensiva aberta contra Pequim em plena guerra comercial.

"A China lançou um esforço sem precedentes para influenciar a opinião pública americana, as eleições" legislativas de novembro, "e todo o ambiente para a eleição presidencial de 2020", denunciou no Hudson Institute, um círculo de reflexão conservador de Washington.

"A China interfere na democracia americana" e, "para dizer as coisas de forma clara, a China quer um presidente americano diferente", lançou.

Mike Pence ressaltou ainda que a interferência russa na política americana "é pouca coisa em comparação ao que a China faz nesse país".

A interferência russa em favor de uma vitória de Donald Trump na eleição presidencial de 2016 está no centro de uma investigação federal do procurador especial Robert Mueller, que também tenta determinar se houve conluio entre Moscou e a equipe de campanha do republicano.

Trump denuncia uma "caça às bruxas" e expressa regularmente dúvidas sobre as acusações de interferência russa, um assunto de consenso entre a classe política e a inteligência dos Estados Unidos.

Neste contexto, o presidente tenta desviar a atenção, acusando outros países de tentar, segundo ele, se intrometer na política americana, principalmente a China, e desta vez em seu detrimento.

Seu vice-presidente esmiuçou nesta quinta-feira essas acusações, assegurando que se baseia em descobertas das agências de inteligência.

Segundo ele, as autoridades chinesas, que tentam "explorar as divisões entre os níveis federal e local", têm uma estratégia precisa para influenciar os eleitores americanos antes das eleições cruciais de meio mandato, quando os republicanos correm o risco de perder a maioria no Congresso.

"Mais de 80% dos condados americanos visados pela China" através de tarifas alfandegárias "votaram pelo presidente Trump em 2016, e agora a China quer virar esses eleitores contra o nosso governo", estimou.

Fim do idílio

O idílio inicial entre Donald Trump e o presidente chinês Xi Jinping ficou claramente no passado. E o presidente dos Estados Unidos reconhece isso abertamente. Na semana passada, na ONU, ele afirmou que seu colega chinês "talvez não fosse mais meu amigo". "Esperamos que a relação com Pequim possa melhorar", disse Mike Pence nesta quinta-feira.

Ao mesmo tempo em que passou a agir desencadeando o conflito comercial para tentar reduzir seu déficit, o governo americano retomou o discurso virulento da campanha de Trump.

Denunciando uma "agressão econômica" com "roubo" de tecnologia, o vice-presidente confirmou que, após as tarifas impostas a US$ 250 bilhões em importações chinesas, Washington estava pronto para "fazer substancialmente mais do que dobrar o valor na ausência de um acordo justo".

A Casa Branca também afirmou que está tentando formar "uma coalizão" com outras grandes economias para "combater a China no campo comercial". Mike Pence também adotou um tom forte a respeito de outros assuntos.

Sobre o que chamou de "agressão" militar, especialmente no Mar da China Meridional, ele garantiu que o seu país "não será intimidado".

Quanto à falta de democracia, ele finalmente protestou, citando Taiwan como um modelo "para todos os chineses" - uma afirmação que provavelmente enfureceu as autoridades de Pequim.

"A China construiu um Estado de vigilância inigualável, que não para de crescer e se tornar mais intrusivo, muitas vezes com a ajuda da tecnologia americana", disse ele.

"Por um tempo, Pequim avançou em direção a mais liberdade e respeito aos direitos humanos, antes de um retrocesso drástico nos últimos anos", declarou o fervoroso cristão evangélico, denunciando o destino das minorias religiosas cristã, budista e muçulmana.

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