Agência France-Presse
postado em 09/10/2018 16:03
Washington, Estados Unidos - Como imaginar a vida com inflação de 10.000.000%? Quando isso acontece, um produto que custa 1 dólar passa a valer 100.000 dólares. Mas, na prática, existe alguma forma de calcular esse impacto?
Depois de os preços subirem impressionantes 1.000% no ano passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a hiperinflação na Venezuela, país submetido a uma grave crise econômica, poderá chegar a 1.350.000% em 2018.
No relatório Perspectivas da Economia Mundial publicado na noite de segunda-feira, o Fundo prevê que em 2019 a alta dos preços vai extrapolar esse limite, chegando a impactantes 10.000.000%.
A situação é tão grave que a Venezuela foi excluída da média regional e da lista de mercados emergentes para não afetar as cifras.
Após anos de crise, com a indústria petroleira - pulmão da economia - estagnada, a ONU calcula que cerca de 1,9 milhão de pessoas abandonaram o país desde 2015.
A saída em massa de pessoas levou os migrantes a fugirem para países vizinhos, como Colômbia e Brasil, em busca de alimentos e medicamentos.
A economia da Venezuela retraiu 14% no ano passado e deve recuar 18% neste ano, mas a boa notícia é que há pouca margem para cair. Assim, a previsão para 2019, é uma retração de 5%, de acordo com o relatório do FMI.
O FMI estima que o PIB per capita tenha caído mais de 35% entre 2013 e 2017 e projeta queda próxima de 60% entre 2013 e 2023.
O FMI ainda previu que "a hiperinflação na Venezuela deverá piorar rapidamente, impulsionada pelo financiamento monetário de um déficit de grande escala e pela perda de confiança na moeda".
A Venezuela desvalorizou sua moeda perto de 100% em 20 de agosto deste ano. Excluindo a Venezuela, a inflação nos países emergentes e em desenvolvimento deve chegar a 5% este ano, estimou o FMI.
Revisão para baixo
Embora as notícias em outras latitudes não sejam tão sombrias, o FMI reduziu sua previsão de crescimento mundial no relatório, ajustando- a 0,2 ponto, a 3,7% este ano, e 0,2 ponto, a 3,7% em 2019. O principal motivo é a esperada desaceleração do comércio no contexto da guerra comercial EUA-China.
O FMI também reduziu suas previsões de crescimento para países emergentes e em desenvolvimento, em comparação com as estimativas publicadas em julho, para 4,7% para 2018 e 2019.
Para a América Latina e o Caribe, a previsão também sofreu e foi reduzida em 0,4 ponto, a 1,2%, para este ano, e de 0,4 ponto, a 2,2% para o próximo, segundo o relatório.
Para o Brasil, a maior economia da América do Sul, a entidade espera um crescimento de 1,4% em 2018 e de 2,4% em 2019. Com relação às previsões de julho, isso representa uma degradação de 0,4 ponto neste ano e de 0,1 ponto no próximo. Entre os motivos, o FMI cita o aperto das condições financeiras e a greve dos caminhoneiros.
A Argentina não recebeu boas notícias: o FMI projeta uma retração de 2,6% em 2018, e a recessão continuará em 2019 com uma queda do PIB de 1,6%.
Esses dados contrastam com as previsões feitas em julho, quando o FMI ainda considerava um crescimento da economia argentina de 1,8% para 2018 e de 2,9% para 2019.
A moeda argentina perdeu 54% de seu valor em relação ao dólar neste ano, o que levou as autoridades a solicitarem assistência financeira ao FMI em junho, que foi posteriormente ampliada no final de setembro para um total de 57,1 bilhões de dólares.
Com relação à inflação, o FMI prevê que a acentuada depreciação da moeda causará um aumento nos preços de 31,8% em 2018 e 31,7% no ano seguinte.
Para o México, o Fundo prevê um crescimento de 2,2% para 2018 e 2,5% em 2019, ligeiramente abaixo das projeções de julho de uma expansão de 2,3% neste ano e de 2,7% no ano que vem.