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Papa aceita renúncia de cardeal dos EUA acusado de acobertar abusos sexuais

Donald Wuerl anunciou em setembro que pretendia apresentar sua renúncia ao pontífice

Agência France-Presse
postado em 12/10/2018 12:19
Donald Wuerl anunciou em setembro que pretendia apresentar sua renúncia ao pontífice
A renúncia do cardeal americano Donald Wuerl a sua posição de arcebispo de Washington, depois de suspeita de acobertar casos de abusos sexuais por parte de padres pedófilos, foi aceita nesta sexta-feira pelo papa Francisco, de acordo com um comunicado da Santa Sé.

O próprio Wuerl, 77 anos, anunciou em setembro que pretendia apresentar sua renúncia ao pontífice.

Um extenso relatório do grande júri dos Estados Unidos divulgado em agosto revelou denúncias contra mais de 300 padres pedófilos e identificou mais de 1.000 vítimas de abuso sexual infantil encobertas durante décadas pela Igreja Católica no estado da Pensilvânia.

O relatório é considerado o mais abrangente até hoje em relação ao abuso na igreja dos EUA, mas quando os promotores entraram com acusações contra dois padres, a grande maioria dos crimes já havia prescrito.

No relatório, Wuerl, que foi bispo de Pittsburgh de 1988 a 2006, é repetidamente citado como um dos líderes da Igreja que ajudou a encobrir o escândalo. Ele enfrentava numerosos pedidos por sua renúncia, inclusive de seu próprio clero.

O cardeal, no entanto, defendeu-se em uma declaração, assegurando que o relatório provou que ele "agiu com diligência, no interesse das vítimas e para evitar novos abusos".

Seus defensores argumentaram que ele puniu alguns padres e até resistiu a uma liminar do Vaticano para restabelecer um sacerdote pedófilo.

Mas o procurador-geral da Pensilvânia, Josh Shapiro, acusou-o de mentir. "Muitas de suas declarações após o relatório do grande júri estão em contradição direta com os documentos internos da Igreja e os arquivos secretos, e suas declarações enganosas só aumentam os esforços de ocultação", afirmou.

Em meados de setembro, o Cardeal Wuerl prostrou-se no chão em sinal de arrependimento no início de uma "Missa da Penitência", na Catedral de São Mateus, em Washington.

"Nossas orações vão para aqueles que foram vítimas de graves abusos clericais e da indignação ainda maior de uma resposta inadequada", disse o prelado.

"Devemos estar prontos para fazer o que for necessário, incluindo a renúncia, e essa ação da minha parte será um aspecto essencial para a cura da Igreja", escreveu ele em carta aos sacerdotes de Washington.

Antes da publicação do relatório sobre a situação na Pensilvânia, a Igreja Católica tinha sido abalada pela renúncia, no final de julho, do cardeal Theodore McCarrick, 88 anos, ex-arcebispo de Washington, após acusações de agressão sexual a um adolescente que remonta à década de 1970.

Após a investigação realizada pela Igreja, o Papa chegou a aceitar sua renúncia do Colégio dos Cardeais, fato quase inédito na história da Igreja.

No sábado passado, Francisco anunciou uma investigação completa nos arquivos do Vaticano para lançar luz sobre o ex-cardeal Theodore McCarrick.

No final de setembro, o papa Francisco assegurou que agora há mais consciência sobre o fenômeno dos abusos sexuais dentro da Igreja, e afirmou que não hesitará em negar a graça a todo padre condenado por isso.

O pontífice argentino, a quem as vítimas exigem mais fatos e menos gestos contra padres pedófilos, assegurou que nos últimos tempos tem recebido "muitas condenações da Congregação da Doutrina da Fé" a padres pedófilos.

"Nunca assinei um pedido de graça depois de uma condenação. Sobre isso não há negociação", afirmou.

O papa assinalou que o fenômeno diminuiu nos últimos anos com relação aos anos 1970.

Diante da magnitude do fenômeno, o pontífice argentino convocou para fevereiro 2019, no Vaticano, os presidentes de todas as conferências episcopais do mundo para elaborar medidas para "proteger os menores" de idade dentro da instituição.

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