Agência France-Presse
postado em 25/10/2018 16:32
Londres, Reino Unido - A identidade de um bilionário britânico acusado de assédio sexual foi revelada nesta quinta-feira (25) por um lorde britânico, que usou sua imunidade parlamentar para contornar a decisão judicial que mantinha em segredo a identidade do suspeito.
Trata-se de Philip Green, bilionário dono de um grande conglomerado da indústria da moda e varejo, revelou o lorde Peter Hain.
Hain, que disse ter estado em contato com uma pessoa "intimamente ligada" ao caso, afirmou que era seu "dever" e do "interesse público" revelar a identidade do suposto assediador, que "investiu uma quantia substancial para esconder a verdade sobre reiterados atos de assédio, racismo e abuso sexual".
O bilionário Green "negou total e categoricamente as acusações", em declarações feitas nesta quinta-feira à tarde.
O silêncio por imperativo judicial havia impedido que o jornal britânico Daily Telegraph publicasse a identidade do suspeito, o que provocou uma onda de indignação no Reino Unido.
"O escândalo #MeToo britânico não pode ser revelado", foi a manchete do jornal conservador de quarta-feira, após oito meses de investigação. A decisão judicial impediu a publicação das acusações de várias funcionárias contra o empresário.
O Tribunal de Apelações, a pedido da equipe jurídica de Green, adiou a publicação do artigo à espera de um julgamento. A corte considerou que as informações publicadas violavam os acordos de confidencialidade assinados por cinco funcionárias com o bilionário, que lhes pagou quantias "substanciais" de dinheiro.
O Daily Telegraph revelou que Green gastou 500.000 libras (640.950 dólares) com sua equipe de advogados, composta por sete funcionários do escritório Schillings, que também defende o jogador Cristiano Ronaldo, acusado de estupro.
"Parece que as nossas leis permitem que os homens mais ricos e poderosos façam praticamente tudo o que quiserem, desde que paguem para impor o silêncio", denunciou o deputado trabalhista Jess Phillips na Câmara dos Comuns.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, prometeu na quarta-feira rever as regras sobre acordos de confidencialidade e, assim, impedir o uso "imoral" dessas cláusulas legais.
O caso Green é comparado no Reino Unido com o do produtor de Hollywood Harvey Weinstein, acusado por dezenas de mulheres de assédio e agressão sexual, atos que supostamente foram silenciados por anos graças ao seu poder e acordos de confidencialidade.