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Milhares de túmulos são desenterrados por obras de linha de trem em Londres

O projeto causou muita controvérsia no Reino Unido, devido ao seu custo, às desapropriações que causa e ao trecho que atravessa o interior da Inglaterra

Agência France-Presse
postado em 01/11/2018 16:32
Londres, Reino Unido - Um exército de arqueólogos emerge do barro denso e úmido onde estão milhares de túmulos que terão que ser realocados de uma área de Londres que faz fronteira com uma das mais movimentadas estações de trem, onde executam-se obras para uma nova linha de trem de alta velocidade

Mais de 1.200 de cerca de 40.000 restos mortais foram desenterrados em St. James Gardens, ao lado da Estação Euston, um espaço verde agora fechado ao público, que era um cemitério entre 1788 e 1853.

O local faz parte de cerca de 60 sítios arqueológicos delimitados no âmbito do megaprojeto High Speed 2 (HS2), uma nova linha de trem de alta velocidade que cruza a Inglaterra.

Durante várias semanas, o local de St. James Gardens, no norte da capital britânica, tornou-se um vasto terreno de lama escavada até oito metros de profundidade. Dezenas de arqueólogos vestidos com trajes de trabalho laranja e capacetes brancos mergulham suas pás e enxadas no chão, enquanto outros escavam os restos sob um teto temporário de 11.000 m2 que os protege da chuva e dos curiosos.

O barro preservou os túmulos em muito bom estado. Sob o revestimento de pedra de um deles foi descoberto um caixão de madeira intacto. A coluna vertebral do esqueleto é torta, mas o crânio mantém todos os seus dentes, uma descoberta que permitirá conhecer mais sobre o modo de vida e a mortalidade durante uma fase importante da era industrial no Reino Unido.

"Provavelmente é o maior acúmulo de esqueletos dos séculos XVIII e XIX que foi descoberto nessas condições arqueológicas neste país", assegura à AFP o osteologista Mike Henderson.

"Com tantos dados, podemos realmente começar a estudar questões importantes [...] como a prevalência de doenças e as taxas de mortalidade", acrescenta.

Um presente
Até agora, a equipe encontrou sinais de tuberculose, lesões traumáticas, como ossos quebrados, atendimento odontológico - dentes falsos - e cirurgia em crânios serrados.

O projeto HS2 causou muita controvérsia no Reino Unido, devido ao seu custo, às desapropriações que causa e ao trecho que atravessa o interior da Inglaterra.

A primeira fase, que liga Londres e Birmingham (centro da Inglaterra), está avaliada em 24 bilhões de libras (cerca de 27 bilhões de euros) e terminará em 2026. O HS2 continuará em direção ao norte.

O projeto, no entanto, é um presente para os arqueólogos, já que eles podem descobrir ruínas pré-históricas, medievais, romanas e industriais em todo o país. "Não faríamos essas descobertas sem esses trabalhos", disse Helen Wass, chefe do patrimônio do projeto.

Em Euston, os arqueólogos começaram com a área do cemitério reservada para os ricos, os túmulos de pedra, com gravuras ou placas de chumbo nos caixões que indicam a identidade dos corpos. Lá está James Christie, que fundou a casa de leilões que leva seu nome.

Durante o ano, a equipe de até 200 membros, incluindo os que trabalham nos laboratórios reunidos no local, estará se movendo em direção às partes mais pobres. Os esqueletos, após sua limpeza e exame, serão enterrados novamente em um lugar ainda a ser determinado. Quando os arqueólogos terminarem seu trabalho, a obra poderá começar.

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