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Derrota na Câmara ameaça promessas de Trump e dá força a investigações

Com o controle dos deputados nas mãos, os democratas poderão travar a agenda do presidente e impulsionar investigações contra ele na metade final do seu mandato. A perda da maioria na Câmara, no entanto, era esperada

Agência Estado
postado em 08/11/2018 10:23

Depois de oito anos, os democratas retomaram na madrugada de quarta-feira, 7, o controle da Câmara dos Deputados nas eleições legislativas dos Estados Unidos. A votação de meio de mandato é considerada o primeiro teste para o governo e um referendo sobre o presidente republicano Donald Trump

Depois de oito anos, os democratas retomaram na madrugada de quarta-feira, (7/11)o controle da Câmara dos Deputados nas eleições legislativas dos Estados Unidos. A votação de meio de mandato é considerada o primeiro teste para o governo e um referendo sobre o presidente republicano Donald Trump.


Com o controle dos deputados nas mãos, os democratas poderão travar a agenda do presidente e impulsionar investigações contra ele na metade final do seu mandato. A perda da maioria na Câmara, no entanto, era esperada.

Na noite de terça-feira, os democratas tomaram dos republicanos cerca de 27 cadeiras - o número final ainda não está consolidado. O resultado, porém, frustrou o que se esperava de uma grande "onda azul", já que os republicanos também obtiveram vitórias importantes.

Para o presidente, a má notícia foi ter perdido eleitores importantes no chamado Cinturão da Ferrugem, com os democratas ganhando os governos estaduais em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. A área foi crucial para a eleição do republicano em 2016 e é um mau sinal para o presidente na disputa de 2020.

"Não foi uma noite ruim para os democratas, pelo contrário. Mas também não foi a ;onda azul; que se esperava há dois ou três meses", afirma Gary Nordlinger, professor da George Washington University.

Segundo ele, os republicanos se animaram a votar nas eleições de terça-feira por várias razões, entre elas o discurso de Trump contrário à caravana de imigrantes da América Central que caminha pelo México em direção à fronteira americana.

O comparecimento nas urnas foi recorde. Ao redor de 114 milhões de americanos votaram na terça-feira - bem mais do que os 83 milhões nas eleições legislativas de 2014, segundo estimativas do jornal The New York Times.

Em uma rara coletiva com jornalistas ontem, Trump comemorou a maioria no Senado como uma "grande vitória". Se por um lado o presidente não foi tão mal para alguém com alta rejeição, por outro também não evitou a perda da Câmara dos Deputados, mesmo no momento em que a economia está aquecida e as taxas de desemprego são as mais baixas em 17 anos.

"Extraordinário ver que o presidente perdeu tantas cadeiras durante um período de economia tão forte (pelo qual ele é parcialmente responsável)", escreveu Ian Bremmer, fundador e presidente do Eurasia Group no Twitter.

Daqui até 2020, a previsão é de que a oposição na Câmara dos deputados atrapalhe o dia a dia de Trump em debates que estão no centro de sua plataforma eleitoral, como a questão da imigração e a construção de um muro na fronteira com o México.

Louis Caldera, professor da American University, afirma que a tensão nas relações com os democratas é parte da plataforma política de Trump, o que indica um Congresso "improdutivo" nos próximos dois anos.

"No início, todos falam que vão tentar trabalhar juntos. No entanto, a abordagem de Trump não é de negociar, mas sim de exigir apoio. Ele quer manter sua base incendiada, para poder se reeleger."

Na coletiva de ontem, Trump disse que gostaria de trabalhar com os democratas que se elegeram para a Câmara dos Deputados, mas depois ameaçou retaliações, caso a oposição use a maioria para investigá-lo.

"Eu gostaria de ver unidade. Talvez não em tudo, mas penso que temos uma boa chance de ver isso", afirmou o presidente. Na sequência, ele disse que os democratas podem até entrar no "jogo das investigações", mas garantiu que os republicanos "jogariam melhor", com o comando do Senado nas mãos.

Investigações

Com a chefia de comissões com poder de investigação na Câmara, os democratas já possuem um planejamento de como conduzir apurações a respeito do governo de Trump - entre elas está o poder de exigir documentos, como as declarações de imposto do presidente americano.

Os democratas poderiam também abrir na Câmara dos Deputados um processo de impeachment para desgastar a imagem de Trump, mas dificilmente teriam sucesso em razão do domínio republicano no Senado. Analistas dizem ainda que o processo poderia se voltar contra os próprios democratas em 2020.

Para Caldera, os democratas terão de definir seu discurso e sua estratégia para enfrentar Trump daqui a dois anos. "Eles não conseguem fazer tudo. Eles querem o quê? Reformas nas leis de imigração, no controle de armas, na saúde ou nas investigações?", questiona Caldera.

Segundo o professor da American University, o avanço das investigações sobre conluio com a Rússia nas eleições de 2016 favorece Trump, pois inflama ainda mais seu discurso de que a oposição é injusta com ele. "Trump, basicamente, convida os democratas a fazer essas investigações", afirmou.

"O sinal para 2020 mais importante é a ausência de grandes problemas afetando a presidência de Trump. Ele não será confrontado por outro republicano nas primárias de 2020. Desta forma, está certo de que será o candidato do partido", avalia Gary Nordlinger.


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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