Agência Estado
postado em 15/11/2018 22:04
Em uma reunião de mais de cinco horas, o gabinete de ministros da premiê britânica, Theresa May, chegou na quarta-feira, 14, a um consenso para apoiar o acordo prévio para a saída do Reino Unido da União Europeia. A ala do Partido Conservador favorável a uma ruptura mais radical com o bloco criticou o pacto e pediu aos deputados da legenda que não o aprovem na Câmara dos Comuns. Ao menos 11 dos 29 ministros expressaram ressalvas ao acordo, mas May conseguiu um consenso pela aprovação.
O esboço do projeto foi divulgado depois da reunião. Ele prevê a manutenção do livre fluxo de bens e pessoas na fronteira entre as duas Irlandas até o fim de 2020, quando deve ser substituído por um novo acordo negociado entre as partes. Não haverá, no entanto, nenhuma fronteira física na região - pacificada desde os Acordos da Sexta-Feira Santa, em 1998. Caso não haja um acordo, será criada uma zona aduaneira na região, o chamado "backdrop".
O acordo também reduz o acesso atual do poderoso setor financeiro britânico aos mercados continentais e o coloca no mesmo nível de empresas americanas e japonesas. Regras alfandegárias que atualmente unem o Reino Unido à União Europeia serão mantidas durante o período de transição, que vai até o fim de 2020, e o acesso a mercados entre o arquipélago e o continente terá como base o princípio da equivalência. A libra esterlina subiu em comparação ao dólar após o anúncio.
Os direitos de cidadãos britânicos e europeus vivendo dos dois lados do Canal da Mancha foram mantidos, mas depois do Brexit o fluxo livre de pessoas será mantido para viagens de curto prazo.
Segundo May, o acordo foi o melhor possível e o debate entre os ministros foi apaixonado e longo. O pacto, diz ela, atende às principais reivindicações dos britânicos sobre o Brexit, envolvendo principalmente o controle das leis, fronteiras e recursos do país.
"Acredito firmemente que o acordo prévio foi o melhor que conseguimos negociar e coube ao gabinete decidir prosseguir com as negociações", disse May. "As escolhas diante de nós eram bem difíceis, particularmente em relação à fronteira da Irlanda do Norte, mas essa foi a decisão coletiva do gabinete."
May ainda disse que um passo decisivo foi dado e cabe agora ao governo finalizar o acordo nos próximos dias. "A escolha diante de nós é bem clara: ou este acordo, que nos dá o controle sobre nosso dinheiro, leis e fronteiras, acaba com o trânsito livre de fronteiras, protege empregos e a nossa segurança, ou nós saímos sem acordo, ou nós saímos sem Brexit", disse.
Agora, o pacto deve ser apresentado ao Parlamento, que deve ratificá-lo. Os deputados da Câmara dos Comuns devem sabatinar May hoje sobre o acordo. O debate legislativo deve ser recheado de dificuldades, em meio a críticas dentro do Partido Conservador ao pacto.
Jacob Rees-Mogg, que lidera os conservadores eurocéticos, divulgou uma carta aos membros do partido pedindo que rechacem o acordo. O Partido Nacional Escocês emitiu nota dizendo que o pacto é ruim para os escoceses.
Antes de o texto do projeto ser divulgado, o Partido Trabalhista e o Partido Liberal-Democrata, que se opõem a May, também indicaram que votariam contra o acordo.
Os unionistas do DUP, que governam com os conservadores, disseram antes do fim da reunião que não aceitariam um acordo que trata a Irlanda do Norte de maneira diferente do restante do Reino Unido.
A imprensa britânica também especulou sobre possíveis deserções no gabinete da premiê. Pelo menos uma ministra poderia deixar o cargo, segundo a BBC. (Com agências)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.