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Apagões e falta d'água agravam situação de hospitais na Venezuela, diz ONG

O governo do presidente Nicolás Maduro costuma atribuir as falhas a "sabotagens", mas especialistas vinculam a crise dos serviços públicos à falta de manutenção

Agência France-Presse
postado em 29/11/2018 19:47
O governo do presidente Nicolás Maduro costuma atribuir as falhas a
Caracas, Venezuela - Afetados por uma escassez crônica de insumos, os hospitais públicos venezuelanos veem agravada sua situação pelos apagões e os cortes no abastecimento de água, revelou nesta quinta-feira (29) um estudo feito por uma ONG.

De 40 hospitais monitorados entre 10 e 16 de novembro, 67% apresentaram "algum tipo de falha" elétrica, com média de duas horas sem serviço durante a semana, expôs o diretor da organização Médicos pela Saúde, Julio Castro.

"Depois dos apagões, 32% reportaram falhas em equipamentos de assistência vital como ventiladores mecânicos", destacou Castro, cujo estudo abarca os maiores centros médicos do país.

Além disso, 70% destes estabelecimentos tiveram "cortes d;água" durante a semana da consulta, realizada desde 2014 diante da falta de cifras oficiais e avalizada pelo Parlamento, de maioria opositora.

Deste percentual, 8% não tiveram "nenhum abastecimento", enquanto outros foram abastecidos com caminhões-tanque.

O hospital Universitário de Caracas, por exemplo, faz parte de um grupo de centros que passou em média de três a cinco dias sem água no período avaliado, "sem suporte alternativo".

No edifício de 11 andares, a interrupção do serviço é frequente, disse à AFP o sindicalista Dennis Guedez. Por isso, "além de uma lista de insumos, pede-se água aos pacientes que vão para o centro cirúrgico", acrescentou.

Déficit de insumos
O governo do presidente Nicolás Maduro costuma atribuir as falhas elétricas a "sabotagens", mas especialistas vinculam a crise dos serviços públicos à falta de manutenção, ausência novos investimentos e à corrupção.

Os racionamentos de água também são comuns, a ponto de o estado petroleiro de Zulia (noroeste), afetado por apagões constantes, ter sido declarado em 19 de novembro passado em emergência devido a falhas na distribuição de água potável.

Na ocasião, a pesquisa teve um alcance limitado, pois não foram incluídos hospitais pequenos, nem clínicas particulares por dificuldades para obter a informação.

No entanto, corroborou-se que a situação na rede pública continua sendo crítica pela falta de insumos e remédios.

Documentou-se uma redução de 51% em 20 dos insumos "imprescindíveis" em áreas de emergência e 38% nos 12 exigidos em centros cirúrgicos. "Se falta algum, não se pode operar o paciente", explicou Castro.

Particularmente, os medicamentos para a pressão arterial faltam em 57% das salas de emergência, enquanto 55% dos hospitais carecem de insulina e 21%, de morfina, detalhou o estudo.

Maduro atribui o desabastecimento às sanções que os Estados Unidos aplicam desde o fim de 2017 e que, assegura, pressupõem um "bloqueio financeiro" para o pagamento das provisões.

Washington, que proíbe suas empresas e cidadãos de negociarem a nova dívida venezuelana e sancionou o próprio Maduro, justifica as medidas como uma forma de asfixiar um governo ao qual denomina de "ditadura" e que transformou a Venezuela em um "desastre".

O outrora rico país petroleiro enfrenta cinco anos de recessão, a ruína de sua vital indústria petroleira, uma inflação que chegará a 1.350.000% este ano, segundo o FMI, e falta de alimentos e demais bens básicos.

"Come-se o que tiver"
A crise hospitalar também se reflete na infraestrutura: 33% dos leitos estão inoperantes, um terço não funciona e 43% dos laboratórios estão fechados, segundo a pesquisa.

Enquanto isso, 95% dos hospitais não têm capacidade de fazer chapas de raios-X, em 10% não há nenhum tipo de comida e em 97% dos serviços abertos, "come-se o que tiver".

Como se fosse pouco, a insegurança também assombra. Só durante a semana estudada, em 45% dos centros médicos houve assaltos e em 62,1% foram registrados atos violentos contra familiares de pacientes.

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