Agência France-Presse
postado em 07/12/2018 18:41
Washington, Estados Unidos - O presidente americano, Donald Trump, lançou nesta sexta-feira (7) uma série de ataques à investigação pela trama russa a poucas horas de publicarem novos detalhes sobre os avanços do processo, em um dia no qual também indicou William Barr como procurador-geral.
Trump denunciou no Twitter "os vários conflitos de interesse" que teria com o procurador especial Robert Mueller, que investiga as acusações de conluio entre a equipe de campanha do empresário e a Rússia nas eleições de 2016.
Depois de seus tuítes, Trump anunciou a indicação de William Barr como procurador-geral, em substituição a Jeff Sessions no Departamento de Justiça, e também confirmou a ex-jornalista da emissora Fox News Heather Nauert como sua embaixadora na ONU, no lugar de Nikki Haley.
Sessions, que havia apoiado Trump desde a campanha, sentenciou o seu futuro no cargo de procurador-geral quando decidiu se afastar da investigação sobre a trama russa, e o presidente americano anunciou a sua saída no início do mês, decisão que gerou questionamentos sobre a investigação em curso.
A escolha de Barr, jurista que ocupa novamente o cargo que exerceu durante a presidência de George H.W. Bush na década de 1990, foi bem recebida em Washington, mas ainda deve ser confirmada pelo Senado, e levando em consideração o calendário legislativo, é pouco provável que assuma suas funções antes do ano que vem.
"Ele era a minha opção desde o primeiro dia, respeitado pelos republicanos e pelos democratas", declarou Trump.
Em um momento em que Washington fervia de rumores sobre a sua indicação, o senador republicano Richard Burr disse na quinta-feira que "ele seria uma boa opção" para o cargo de Sessions, cujo posto era ocupado de forma interina por Matther Whitaker.
Uma vez terminada a atmosfera de trégua induzida pela morte do ex-presidente George H.W. Bush, que mergulhou o país em um luto nacional que deu uma imagem incomum de unidade, Trump voltou às críticas nesta sexta, centrando-as no ex-chefe do FBI James Comey, a quem afastou do cargo em maio 2017 , no número dois do Departamento de Justiça, Rod Rosenstein, e na equipe de campanha de sua adversária democrata em 2016, Hillary Clinton.
Em sua conta no Twitter, o presidente denunciou uma "caça às bruxas", em um dia em que se espera que a equipe do procurador especial apresente informações sobre dois acusados centrais da investigação de conluio: o ex-chefe de campanha do presidente americano Paul Manafort, e seu antigo advogado Michael Cohen.
"Já existem 87 páginas escritas, mas obviamente não podemos terminar até que vejamos o relatório final sobre essa caça às bruxas", afirmou o presidente americano.
O silêncio de Mueller
Ao contrário de Trump, Mueller mantém há 18 meses um silêncio inquebrantável. Este fuzileiro naval que comandou o FBI por 12 anos se destaca por uma discrição extraordinária, que faz com que os vazamentos em Washington de sua investigação sejam pouco comuns.
O procurador especial planeja fornecer detalhes sobre a extensão da cooperação de Cohen, que recentemente reconheceu ter mentido ao Congresso sobre seus contatos com os russos a respeito dos projetos imobiliários de Trump.
Essas declarações provocaram a ira de Trump, que pediu que Cohen cumprisse uma pena de prisão.
Nesta sexta-feira, a equipe de investigação deve entregar à Justiça detalhes sobre as alegações de que Manafort mentiu para o FBI.
Manafort trabalhou cerca de seis meses na campanha Trump em meados de 2016. Em setembro havia concordado em se declarar culpado das acusações de conspiração contra os Estados Unidos e obstrução à Justiça em um acordo para evitar uma segundo processo por lavagem de dinheiro e lobby ilegal.
Atualmente na prisão, este ex-consultor surge como testemunha-chave do processo que hoje poderia adicionar mais acusações.
Enquanto isso, Comey, demitido por Trump do FBI em 2017, começou a depor nesta sexta-feira ante os legisladores do Congresso dos Estados Unidos.
A audiência é realizada a portas fechadas, mas seu conteúdo será publicado 24 horas depois, a pedido de Comey, que teme vazamentos de "informações seletivas" e que representantes republicanos distorçam suas palavras.
Comey chegou a ser o funcionário de mais alto nível encarregado da investigação criminal sobre o eventual conluio com Moscou para influenciar a eleição presidencial americana.