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EUA vão realizar exames médicos em crianças migrantes após segunda morte

Na véspera de Natal um guatemalteco de oito anos morreu na fronteira. Esse é o segundo caso em menos de um mês

Agência France-Presse
postado em 26/12/2018 11:22
EUA vão realizar exames médicos em crianças migrantes após segunda morte
Washington, Estados Unidos - O serviço de vigilância das fronteiras dos Estados Unidos (CBP) anunciou que fará exames médicos em todas as crianças sob sua custódia, após a morte na véspera de Natal de um guatemalteco de oito anos, a segunda de uma criança em circunstâncias semelhantes.

Identificado pelo congressista Joaquin Castro como Felipe Alonzo Gomez, o menino foi transferido para um centro médico do Novo México na segunda-feira, depois de apresentar sinais de doença, informou o CBP em um comunicado. A equipe médica o diagnosticou com um resfriado comum. Ele recebeu alta na parte da tarde, com receitas de ibuprofeno e amoxicilina.

O quadro evoluiu, e Alonzo, que estava detido com seu pai, começou a sentir náuseas e a vomitar. O menino foi, então, levado de volta para o hospital, onde acabou falecendo na segunda-feira, pouco antes da meia-noite.

O CBP informou na terça-feira que não havia estabelecido a causa da morte, mas que vai garantir "uma revisão independente e completa das circunstâncias".

Mais tarde, Kevin K. McAleenan, funcionário da agência, anunciou que o organismo "vai realizar exames médicos em todas as crianças sob os cuidados e custódia" e "revisará suas políticas, com especial atenção para o cuidado e custódia de crianças menores de 10 anos".

Ele acrescentou que o CBP considera a possibilidade de buscar apoio médico de outras agências e que está coordenando os esforços com os Centros para Controle de Doenças.

Investigação

Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores da Guatemala, o menino e seu pai foram detidos em 18 de dezembro após atravessarem a fronteira pela cidade de El Paso, no Texas. No dia 23, foram transferidos para Alamogordo, no estado vizinho. O governo guatemalteco pediu "uma investigação clara e respeitando o devido processo".

Em 8 de dezembro, a menina guatemalteca Jakelin Caal morreu no hospital de El Paso por causas ainda não reveladas. Ela havia sido detida com o pai, depois de atravessar ilegalmente a fronteira na noite de 6 de dezembro.

Segundo o jornal "The Washington Post", que citou o CBP, a menina faleceu de "desidratação e choque".

O caso de Jakelin gerou indignação nos Estados Unidos, e uma delegação do Congresso que visitou o local onde a menina foi detida denunciou "falhas sistêmicas" no processo e condições de higiene deploráveis. Após a morte, o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) anunciou uma investigação, cujos resultados serão apresentados ao Congresso e serão públicos.

"Estou arrasada ao saber da morte de um segundo menino em detenção", escreveu no Twitter a representante Nydia Velazquez.

"Devemos atribuir responsabilidades, encontrar respostas e acabar com a odiosa e perigosa política contra os migrantes deste governo", acrescentou. "Outra criança morre sob a supervisão deste governo", tuitou o congressista democrata Marc Veasey, do Texas.

A American Civil Liberties Union (ACLU) descreveu os eventos como uma "tragédia assustadora". "O CBP deve prestar contas e parar de prender crianças. O novo Congresso deve ter como uma de suas primeiras prioridades conduzir uma investigação sobre o Departamento de Segurança Interna (DHS)", apontou a ONG.

O presidente Donald Trump promove uma política de tolerância zero contra a imigração, no marco da qual 2.300 migrantes menores de idade foram separados de seus pais entre 5 de maio e 9 de junho. A medida gerou indignação dentro e fora do país.

Para conter a imigração, Trump quer construir um muro ao longo da fronteira com o México com um orçamento de 5 bilhões de dólares, esbarrando na oposição democrata.

A queda de braço resultou em uma paralisação parcial do governo federal há quatro dias. O presidente prometeu que não cederá até obter fundos para o muro.

Os migrantes que fogem da pobreza e da violência de gangues em Honduras, Guatemala e El Salvador arriscam suas vidas para chegar aos Estados Unidos através das passagens do Novo México, do Texas e do Arizona.

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