Agência France-Presse
postado em 02/01/2019 11:55
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A violência irrompeu no sul da Índia nesta quarta-feira (2/1) depois que duas mulheres desafiaram os tradicionalistas ao entrarem, pela primeira vez, em um dos templos mais sagrados do Hinduísmo após uma decisão tomada pela Suprema Corte.
A polícia usou gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e jatos de água quando protestos e confrontos entre grupos rivais começaram no estado de Kerala, no sul do país, informou a mídia local. Vários oficiais ficaram feridos, segundo relatos.
Em setembro, a Suprema Corte revogou a proibição de décadas de que mulheres em idade fértil - consideradas entre 10 e 50 anos - entrassem no templo banhado a ouro de Sabarimala.
Nas últimas semanas, tradicionalistas hindus - apoiados pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi - impediram as tentativas de acesso das mulheres ao local, algumas vezes violentamente.
Em uma operação surpresa na madrugada desta quarta, anunciada por ativistas, mas que enfureceu os devotos conservadores, a polícia permitiu que duas mulheres entrassem no templo e, em seguida, saíssem sem serem vistas, confirmaram as autoridades.
Imagens de vídeo mostraram as mulheres de 42 anos, Kanaka Durga e Bindu, que tem apenas um nome, usando túnicas pretas e com as cabeças abaixadas enquanto corriam para dentro.
"Não entramos no santuário subindo os 18 degraus sagrados, mas atravessamos o portão para funcionários", contou uma elas.
Ambas permaneceram sob proteção policial nesta quarta-feira, informou a imprensa local.
O ministro-chefe de Kerala, Pinarayi Vijayan, disse: "É um fato que as mulheres entraram no santuário. A polícia é obrigada a oferecer proteção a qualquer um que deseje adorar no santuário".
- ;Purificação; -
Assim que a notícia se espalhou, o líder espiritual do templo ordenou que este fosse fechado para um ritual de purificação. O santuário foi reaberto cerca de uma hora depois.
Mais tarde, confrontos violentos foram relatados entre dezenas de pessoas, que gritavam palavras de ordem em frente ao Parlamento estadual de Thiruvananthapuram.
Com cassetetes, a polícia também acusou os manifestantes de tentarem impor o fechamento de lojas na região, solicitado pela cúpula do templo de Sabarimala.
O governo de Modi não reagiu imediatamente à notícia da entrada de mulheres no templo, mas ativistas celebraram.
"Assisti-las entrando no santuário me faz chorar de alegria. Quanto tempo demoramos para reivindicarmos espaço, para escrevermos nosso caminho na história", escreveu a autora feminista Meena Kandasamy no Twitter.
Líderes locais do BJP anunciaram dois dias de protestos em Kerala contra a violação. O estado é governado por uma aliança de partidos de esquerda.
Rahul Easwar, um ativista de direita em Kerala, condenou as autoridades do estado por ajudarem a organizar a operação secreta.
"Essas táticas baratas são impróprias para um governo estadual", disse no Twitter.
- Progressista -
O veredicto de setembro foi a mais recente decisão progressista do tribunal, apresentando um desafio para o tradicionalista BJP de Modi.
Em comentários raros sobre o templo de Sabarimala na terça-feira, Modi - que concorre a um segundo mandato no final deste ano - pareceu apoiar a proibição, dizendo que era uma questão de tradição.
"Existem templos que têm suas próprias tradições, aonde os homens não podem ir. E os homens não vão", disse Modi à mídia indiana.
A restrição às mulheres em Sabarimala reflete uma crença - não exclusiva do Hinduísmo - de que mulheres em idade fértil, ou seja, que menstruam, são impuras.
Os tradicionalistas argumentam também que a divindade do templo, Ayyappa, era celibatária.
Desde setembro, data da decisão, as mulheres tentam entrar no templo, mas eram expulsas, às vezes violentamente, por devotos hindus. Por segurança, a polícia precisava escoltá-las.
Na terça-feira, milhares de mulheres formaram uma corrente humana em Kerala em apoio ao veredicto para que pudessem entrar no templo. Os jornais noticiaram que algumas foram atacadas por ativistas de direita.
A Suprema Corte deve começar a ouvir a contestação de sua decisão em 22 de janeiro.