Agência France-Presse
postado em 10/01/2019 12:00
Caracas, Venezuela - O presidente Nicolás Maduro toma posse, nesta quinta-feira (10/1), para um segundo mandato de seis anos, considerado ilegítimo por vários países da comunidade internacional e com uma Venezuela em ruínas e cada vez mais isolada.
Maduro, de 56 anos, vai prestar juramento no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), e não no Congresso, único poder não oficialista. A cerimônia está prevista para as 10h locais (12h em Brasília).
Coincidindo com a posse, duas horas depois, a Organização dos Estados Americanos (OEA) fará uma sessão extraordinária para abordar a situação da Venezuela.
"Assumo com maior responsabilidade e compromisso o novo período presidencial 2019-2025. Venceremos", tuitou Maduro antes da posse.
União Europeia (UE), Estados Unidos e o Grupo de Lima - composto por 14 países - não reconhecem a reeleição de Maduro, obtida nas urnas em 20 de maio.
A UE e o Grupo de Lima - à exceção do México - não enviarão representantes para a cerimônia, que contará com a presença dos presidentes de Bolívia, Cuba, El Salvador e Nicarágua, além de delegados de outros países aliados, como China, Rússia e Turquia.
Hoje, a UE lamentou que Maduro não tenha dado ouvidos aos apelos da comunidade internacional.
"Lamentamos que, apesar de todos os apelos da comunidade internacional, incluindo a UE, não se tenha realizado novas eleições em conformidade com as normas internacionais", disse a porta-voz da diplomacia europeia, Maja Kocijancic, em entrevista coletiva.
Segundo ela, a UE "vai continuar com seu compromisso diplomático e político em apoio a uma solução política, democrática e pacífica para a crise na Venezuela, mantendo os canais de comunicação abertos com todas as partes".
Herdeiro político do líder socialista Hugo Chávez (1999-2013), o ex-motorista de ônibus e ex-sindicalista governa com pulso firme, após tirar seus adversários do jogo, com o controle institucional e com o apoio dos militares, aos quais deu enorme poder econômico.
;Agonia;, ou ;prosperidade;
"Eu sou presidente", lê-se nos cartazes pendurados pelas ruas de Caracas, que deve ver hoje uma forte presença de partidários do governo.
Setores do oeste da capital amanheceram com uma presença incomum de militares, que também mantinham uma forte mobilização no centro. Alguns estabelecimentos de ensino suspenderam as aulas hoje.
Em paralelo à mobilização da base eleitoral, desesperança e resignação são vísiveis em muitos venezuelanos, asfixiados pela pior crise já sofrida pelo país na história moderna.
"Isso vai prolongar ainda mais a agonia que vivemos nos últimos anos. Tudo decaiu gravemente. Os bens e serviços básicos estão a cada dia mais impossíveis. Nos sentimos de mãos atadas", disse à AFP a enfermeira Mabel Castillo, de 38 anos.
Durante o governo Maduro, a economia se reduziu pela metade e deve se contrair 5% em 2019, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Além disso, o país e sua estatal do petróleo, a PDVSA, caíram em default, e a produção dessa commodity, fonte de 96% da receita nacional, caiu para 1,4 milhão de barris diários. É o nível mais baixo em 30 anos.
Em meio a esse cenário, o presidente promete, porém, bem-estar. "Eu me comprometo a realizar as mudanças que são necessárias na Venezuela para (...) a prosperidade econômica", declarou ontem.
Sua reeleição provocou uma sequência de sanções de Estados Unidos e UE contra o círculo de poder mais próximo de Maduro. Nesse sentido, os analistas preveem uma maior pressão internacional, sobretudo, regional, com a onda conservadora em governos da América Latina.
Na véspera de sua posse, o presidente socialista advertiu o Grupo de Lima que tomará medidas diplomáticas "enérgicas", se, em 48 horas, não retificar sua posição sobre a Venezuela.
Com o apoio de Washington e à exceção do México, o Grupo de Lima emitiu, em 4 de janeiro, uma declaração, pedindo a Maduro que não tomasse posse e transferisse o poder para o Parlamento. O presidente venezuelano classificou o gesto como uma tentativa de golpe de Estado.
Os analistas não veem mudanças no horizonte, com uma oposição fraturada e diminuída e uma população frustrada que opta por deixar o país.
"Embora o início do novo mandato aprofunde ligeiramente o isolamento, é pouco provável que altere significativamente a dinâmica da política interna", afirmou a consultoria Eurasia Group.