Agência France-Presse
postado em 15/01/2019 18:45
Buenos Aires, Argentina - A Argentina fechou 2018 com inflação de 47,6%, a segunda mais alta da América Latina, depois da Venezuela, e na contra-mão da maior parte dos países do mundo, que controlaram este mal há anos. O índice de preços ao consumidor também foi o mais alto registrado no país desde 1991 - quando começou a ser aplicada, a partir de abril, a conversão de 1 peso por 1 dólar, mas que ainda assim registrou alta de 84%.
Em dezembro, a inflação foi de 2,6%, mostrando uma desaceleração em relação aos meses anteriores, informou nesta terça-feira o estatal Instituto de Estatísticas. Em novembro, tinha alcançado 3,2%, em outubro 5,4% e em setembro 6,5%.
"Claramente a Argentina está entre os cinco maiores países com a inflação mais alta", disse à AFP o economista Martín Vauthier, da Eco Go consultores. "É uma inflação muito alta. A Argentina é um caso surpreendente de uma sociedade que se acostumou a viver com inflação. Há vários anos que a inflação não é um problema no mundo, nem nos países desenvolvidos, nem nos emergentes", acrescentou.
A Argentina sofreu com uma crise econômica em 2018 que levou o país a pegar um empréstimo de US$ 56 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Prevê-se que, em 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) caia 2,6%. A desvalorização da moeda ao longo do ano foi de 51%.
Alimentos, transporte e serviços
Os aumentos de preços mais significativos em 2018 foram dos setores de transporte (66,8%), alimentação (51,2%) e habitação e serviços de água, eletricidade e gás (45,7%). Como os preços subiram, a pobreza aumentou, atingindo 27,3% até o primeiro semestre do ano passado, seu registro mais recente. "Os insumos estão muito mais caros, 40%, 50%, até 100%, podemos dizer, e a venda é a mesma, os consumidores são os mesmos de todos os dias. Não posso transferir o aumento para os comensais", queixou-se Guillermo Fegan, dono de um restaurante em Buenos Aires.
Para conter a espiral de inflação e desvalorização, o Banco Central decidiu zerar o crescimento da oferta monetária e o governo do presidente liberal Mauricio Macri comprometeu-se a alcançar o equilíbrio fiscal em 2019. O déficit fiscal foi de 3,9% em 2017 e projetado em 2,7% para 2018, embora provavelmente seja menor.
Segundo Vauthier, o índice de inflação "não foi maior porque o Banco Central aumentou muito a taxa de juros, mas isso levou a economia à recessão". Com taxas de juros que atingiram 80% ao ano e atualmente estão em 58%, o consumo caiu. Segundo a Confederação da Média Empresa, as vendas no varejo caíram 15,6% em novembro passado em relação ao mesmo mês de 2017.
Deflação lenta
No orçamento de 2019, o governo de Macri projetou inflação anual de 23%. Mas os primeiros meses do ano já verão fortes altas das tarifas de serviços públicos e do transporte. "O processo de deflação vai ser muito lento. Nossa projeção para 2019 é de 34%. Se o mercado cambial acabar de estabilizar, pode diminuir. Fechar 2019 com 30% seria um sucesso. Mas é muito difícil após tantos anos de inércia inflacionária", afirmou Vauthier.
O ano promete ser tenso com eleições presidenciais em outubro, nas quais Macri buscará um novo mandato, enquanto os sindicatos pressionam por aumentos salariais.