Agência France-Presse
postado em 25/01/2019 18:46
Panamá, Panamá - O papa Francisco lançou do Panamá uma dura reprovação aos "muros invisíveis" que dividem a sociedade entre "bons e maus", durante uma visita a um centro de reclusão de menores nesta sexta-feira (25).
A sua mensagem ressoa em um momento em que caravanas de centro-americanos castigados pela violência e pela falta de oportunidades desafiam o empenho do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de construir um muro na fronteira com o México para frear a imigração ilegal.
Comovido, o pontífice ouviu o testemunho de Luis, que compartilhou seu sonho de ser um chef internacional assim que terminar de cumprir a sua pena por um crime não especificado. "Não existem palavras para descrever a liberdade que sinto nesse momento", disse o jovem, detido desde 2016.
Francisco, que chegou na quarta-feira ao Panamá para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), questionou em sua mensagem os "rótulos e estigmas" e a "cultura do adjetivo" que desqualifica de uma "vez por todas".
"Rótulos que, definitivamente, só fazem dividir: aqui estão os bons e lá estão os maus", sustentou.
Essa atitude, enfatizou o papa, "contamina tudo porque ergue um muro invisível que fazer acreditar que marginalizando, separando, isolando, todos os problemas serão resolvidos magicamente".
"E quando uma sociedade ou comunidade se permite fazer isso, e a única coisa que faz é cochichar e murmurar, entra em um círculo vicioso de divisões, reprovações e condenações; entra em uma atitude social de marginalização, exclusão e de (...) confronto", declarou.
Uma parada caridosa
Antes de sair do Centro de Cumprimento de Menores Las Garzas de Pacora, nos arredores da Cidade do Panamá, o papa recebeu cinco jovens reclusos em confissão.
Ao enfatizar em sua mensagem o perdão e advogar pelas segundas chances, o papa assinalou: "Uma sociedade adoece quando não é capaz de comemorar a transformação de seus filhos (...), uma comunidade adoece quando vive o murmúrio esmagador, condenatório e insensível".
O papa fez a sua parada mais caridosa durante uma visita com alto teor crítico.
Diante das autoridades e de personalidades do país, o papa condenou a "praga dos feminicídios" e a ação das "gangues armadas e criminosas", assim como o "tráfico de drogas" e a "exploração sexual de menores e de não tão menores", que agravam o êxodo de jovens.
Também pediu mais compromisso contra a corrupção política, em um contexto de escândalos regionais, como o protagonizado pela empreiteira Odebrecht, centro do esquema de subornos a políticos que montou em 12 países para conseguir bons contratos.
Entretanto, o drama dos migrantes foi o foco de sua pregação. Na quinta-feira, o papa ofereceu a intervenção da Igreja na onda migratória que leva centro-americanos para os Estados Unidos.
A América Latina também enfrenta o êxodo sem precedentes de venezuelanos que fogem de país em país por causa do colapso econômico e da aguda crise política.
Cautela com a Venezuela
Em uma mensagem divulgada por seu porta-voz, o papa evitou se pronunciar diretamente sobre as tensões geradas na Venezuela depois que o chefe do Parlamento, o opositor Juan Guaidó, se autoproclamou presidente.
O Vaticano mantém assim a cautela, apesar de a hierarquia da Igreja local ter sido muito crítica com o governo de Maduro.
"Estamos com muitas esperanças. A Igreja faz o que pode e, na medida de suas possibilidades, tenta dar ajuda humanitária. Mas agora foi aberta uma porta grande para uma Venezuela melhor", comentou o jovem Eduardo González, de 21 anos, um das centenas de venezuelanos que participam da JMJ.
Em sua linha de atenção aos marginalizados da sociedade, o papa programou para domingo uma visita à Casa Lar Bom Samaritano, que abriga pacientes soropositivos e pessoas com deficiências de vários tipos.
O dia da compaixão terminará nesta sexta-feira com uma Via-Crúcis que o pontífice presidirá junto com jovens de todo o mundo e na qual passarão pelas 14 estações do calvário de Jesus Cristo.
Na cerimônia é usada a mesma cruz que percorre o mundo desde que João Paulo II criou a JMJ, há quase 30 anos.
No sábado, depois de uma missa na Catedral de Santa María la Antigua, o pontífice almoçará com jovens e, à noite, liderará uma vigília ao ar livre no Campo São João Paulo II, um complexo muito próximo ao Oceano Pacífico que pode abrigar 700.000 pessoas, o momento que se espera ser o mais animado da festa da juventude católica.