Autoridades dos EUA e do Taleban concordaram nesta segunda-feira (28/1) com o esboço de um acordo de paz para o mais longo conflito com participação americana. Pelo acerto, o grupo islâmico evitaria que o território afegão seja usado por terroristas e aceitaria negociar com o governo do Afeganistão. Apesar de ser o primeiro progresso em nove anos, o governo afegão afirmou que a medida pode ser "apressada".
O governo do Afeganistão foi excluído das negociações até agora porque os insurgentes o consideram um "fantoche americano". No entanto, entre as condições apresentadas pelos EUA para retirar suas forças de combate do Afeganistão está a exigência de conversas entre os líderes do Taleban e o governo afegão, além do compromisso de um cessar-fogo duradouro.
"Nós temos o esboço da estrutura que tem de ser trabalhada antes de se tornar um acordo efetivo", afirmou nesta segunda o negociador-chefe americano, Zalmay Khalilzad. "O Taleban se comprometeu, para nossa satisfação, a fazer o que for necessário para evitar que o Afeganistão se torne uma plataforma para grupos e indivíduos terroristas. Sentimos confiança o suficiente."
Depois de nove anos de esforços por um acordo de paz, o esboço, embora preliminar, é o maior passo tangível na direção do fim de uma guerra de duas décadas que custou dezenas de milhares de vidas e mudou profundamente a política externa americana.
Os EUA mantêm atualmente 14 mil soldados no Afeganistão. Eles invadiram o país em 2001, pouco menos de um mês depois dos atentados do 11 de Setembro, para derrubar o governo do Taleban, que havia dado abrigo a Osama bin Laden, chefe da organização terrorista Al-Qaeda.
Desde então, o Taleban, que tem amplo apoio da maioria pashtun da população afegã, trava uma guerra de guerrilha contra o governo apoiado pela coalizão internacional comandada pelos Estados Unidos.
Uma autoridade de alto escalão dos EUA contou ao New York Times, sob a condição de anonimato, que a delegação do Taleban pediu tempo para deliberar com os líderes do grupo sobre a insistência americana em que os insurgentes conversem com o governo afegão e cheguem a um cessar-fogo como parte de qualquer acordo. Os americanos deixaram claro ao Taleban que todos os problemas discutidos são "interconectados", como parte de um "pacote de acordos".
Em pronunciamento à nação após a reunião com Khalilzad, o presidente afegão, Ashraf Ghani, expressou preocupação de que um acordo de paz seja "apressado". Ele citou pactos anteriores que terminaram em derramamento de sangue.
"Queremos paz rapidamente, queremos logo, mas queremos paz com prudência", afirmou Ghani. "A prudência é importante para não repetirmos erros do passado."
Eleição
A questão da inclusão do Afeganistão no processo de paz é sensível para Ghani, que está busca se reeleger em julho. Ele se opôs a sugestões de que um governo interino seja formado para implementar um plano de paz e expressou preocupação de que um acordo entre EUA e Taleban possa ocorrer à custa da "democracia e das liberdades afegãs".
Parlamentares afegãos e analistas disseram que, apesar de um importante passo para a negociação, é cedo para dizer que se trata de um acordo de paz. Um dos pontos principais seria a falta de capacidade das Forças Armadas afegãs de defender o país após a retirada americana. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.