Agência Estado
postado em 01/02/2019 09:05
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, o opositor Juan Guaidó, denunciou nesta quinta-feira, 31, que forças de segurança de elite do chavismo se aproximaram de sua casa e ameaçaram sua família, e responsabilizou o governo de Nicolás Maduro, que negou a acusação. Momentos antes, Guaidó havia anunciado um plano econômico para "frear a inflação" e reduzir os subsídios sociais.
Entre as principais propostas de Guaidó, em meio ao seu chamado "Plano País", estão a eliminação do controle cambial e estabelecimento de liberdade para negociar moeda estrangeira, um cronograma de reajuste de preços de combustíveis e tarifas de serviços públicos, reestruturação das empresas estatais e o fim de subsídios econômicos. "Basta de controle social, basta de depender de subsídio", disse Guaidó. "Ninguém quer receber nada de graça. Quer produzir como sempre fez", afirmou o líder opositor.
Após apresentar as propostas, Guaidó afirmou que homens identificados como membros das Forças de Ações Especiais (Faes) se aproximaram de sua casa, em duas motos e uma caminhonete sem placa, e perguntaram por sua mulher, Fabiana Rosales, e pela família. "Buscavam informações. O objetivo é evidente. A esses funcionários digo: não cruzem o limite", disse Guaidó. "Não vão me amedrontar", acrescentou o líder opositor à imprensa, na porta de sua casa, com sua filha de 20 meses nos braços.
O governo negou que agentes de segurança tenham se aproximado da casa de Guaidó e reiterou sua intenção de dialogar. O líder opositor rejeitou a oferta e afirmou que "nunca mais" a oposição aceitará "diálogos falsos" com o chavismo. "Maduro diz que agora sim, agora é verdade. Que fique claro: nunca mais vamos nos prestar a um falso diálogo", disse.
Os EUA, que reconheceram Guaidó como presidente interino, advertiram Maduro. O conselheiro americano de Segurança Nacional, John Bolton, disse nesta quinta, em pronunciamento na Casa Branca, que os chavistas deveriam aproveitar a oportunidade para deixar o governo. "Desejo a Nicolás Maduro e a seus principais assessores uma aposentadoria longa e tranquila em alguma praia longe da Venezuela. Eles deveriam aproveitar a anistia do presidente Guaidó e seguir em frente. Quanto antes, melhor", disse Bolton.
O Parlamento Europeu reconheceu nesta quinta-feira Guaidó como presidente interino da Venezuela, pressionando a União Europeia a fazer o mesmo. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, anunciou a criação de um "grupo de contato de países europeus e latino-americanos", que terá 90 dias para encontrar uma saída para a crise.
A medida foi criticada por países europeus, que consideraram o prazo de 90 dias um respiro para o regime de Maduro tentar frear o avanço da oposição. Sob a pressão de Espanha, Alemanha e França, a União Europeia deu um ultimato a Maduro, que vence no sábado, para que ele convoque eleições "livres" no país.
Mogherini negou que o prazo de 90 dias seja muito dilatado. "É o prazo ideal para criar confiança e criar as condições para um processo crível surgir", disse Mogherini. "Não permitiremos que este prazo seja usado para ganhar tempo."
Na quinta, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, afirmou que a crise na Venezuela só será resolvida no momento em que os militares do país se rebelarem contra o chavismo.
"A questão venezuelana só será resolvida quando as Forças Armadas venezuelanas se derem conta que não dá para continuar da forma que está", disse Mourão. "Acho que este momento está chegando, porque as pressões estão cada vez maiores e nós, militares, em todos os lugares do mundo, entendemos que há limite e quando este limite está chegando."
Jornalistas liberados
Os três jornalistas da agência de notícias EFE que foram presos pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), da Venezuela, foram libertados nesta quinta-feira. Os colombianos Maurén Barriga e Leonardo Muñoz e o espanhol Gonzalo Domínguez haviam sido presos na quarta-feira, enquanto cobriam os protestos contra o governo de Nicolás Maduro. O motorista que acompanhava Muñoz, José Salas, de nacionalidade venezuelana, também foi libertado da sede do Sebin, em Caracas. Além deles, dois jornalistas franceses, Pierre Caillet e Baptiste de Monstiers, foram detidos segunda-feira à noite quando cobriam uma pequena manifestação do governo. Na manhã de quinta, eles foram levados por policiais para o aeroporto de Caracas para embarcar em um voo de volta para França, informou o embaixador francês no país, Romain Nadal. Na última semana, com a intensificação da crise venezuelana, o chavismo deteve ao menos 13 jornalistas estrangeiros para esclarecimentos. Segundo a Associação de Imprensa da Venezuela, ao menos 26 jornalistas foram atacados e 8 equipes de repórteres foram alvo de roubos no país nesse período. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.