Agência Estado
postado em 03/02/2019 08:00
O diplomata Sergio Florêncio tinha 32 anos quando soube que seu próximo posto seria em Teerã, para onde se mudou com a mulher e dois filhos em 1977. Quando estourou a revolução, o então embaixador brasileiro, Aluysio Bittencourt, próximo da família imperial do Irã, foi retirado do país pelo Brasil. Assim, o jovem, então encarregado de negócios, tornou-se o responsável pela embaixada no período mais turbulento da história recente do Irã.
Qual o clima no Irã em 1979?
O país era ocidentalizado. Fomos a uma casa noturna e nunca vimos tantos casacos de pele e joias. Mas era só dar dois passos para o lado e só se via miséria. Era uma distância enorme entre ricos e pobres.
Havia sinais de revolução?
O país parecia ser o mais seguro do Oriente Médio. O xá Reza Pahlevi era grande aliado dos EUA. Naquela época, ninguém poderia prever que haveria uma revolução.
A desigualdade social contribuiu para a revolução?
Foi um dos motores. O Irã era um país com um potencial de crescimento e industrialização muito maior do que os outros do Oriente Médio. O xá nunca teve uma base popular e decidiu se legitimar pela economia. Ele promoveu crescimento, mas beneficiou poucos.
Havia descontentamento?
Em meados dos anos 70, a economia desacelerou e o desemprego cresceu. O crescimento deixou de fora os grandes comerciantes dos bazares. Indignados com os privilégios, eles se tornaram uma classe fundamental para alimentar a revolução. Eram eles quem financiavam as mesquitas e tinham ligação com os aiatolás.
Antes da revolução, quem era Khomeini para os iranianos?
Ele era a grande esperança, o líder carismático que tinha apoio dos liberais. Era visto como figura iluminada, líder espiritual acima da estrutura partidária. Simbolizava as aspirações de igualdade e autonomia.
E depois?
Ele teve todo o povo com ele e, uma vez vitoriosa, a revolução começou a abandonar os princípios democráticos, os direitos humanos e a liberdade. A revolução foi tomando esse curso mais excludente, dominada pela hierarquia religiosa, que resultou em perseguições e no radicalismo político.
Houve consequência ao Brasil?
O pessoal da Petrobras tinha grande interesse no Irã. Houve um acordo entre dos dois países no qual o Brasil aumentaria suas compras de petróleo e, em troca, o Irã compraria soja, frango. Nós comprávamos somente 5% das nossas necessidades de petróleo do Irã e chegaríamos a comprar até 25%, em troca de o Irã importar os produtos brasileiros. O Brasil também participaria da construção de hidrelétricas. Mas eles (o regime) cortaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.