Os primeiros caminhões com a ajuda humanitária americana destinada à Venezuela chegaram à fronteira colombiana na noite de quinta-feira (7/2), mesmo dia em que os países europeus e latino-americanos do Grupo de Contato Internacional, reunidos em Montevidéu, pediram eleições presidenciais livres na nação sul-americana.
Uma dezena de veículos repletos de produtos entrou no centro de armazenamento disponibilizado pelas autoridades colombianas perto da ponte internacional Tienditas, na cidade fronteiriça de Cúcuta.
Um grupo de venezuelanos que emigrou para a Colômbia recebeu com alegria a caravana, que transportava a ajuda solicitada pelo opositor venezuelano Juan Guaidó - reconhecido como presidente interino por quase 40 países - e rejeitada pelo presidente Nicolás Maduro.
Em meio à pior crise de sua história moderna, a Venezuela sofre com a falta de produtos de primeira necessidade, uma situação que provocou o êxodo de 2,3 milhões de pessoas desde 2015, segundo a ONU.
Na Colômbia, a ajuda foi recebida pela estatal Unidade Nacional para a Gestão de Risco de Desastres (UNGRD). Em um comunicado, o órgão anunciou que sua missão é proteger e resguardar o material, "cumprindo o compromisso do governo colombiano nesta operação humanitária".
Mais carregamentos estão previstos para os próximos dias, procedentes do Brasil e de uma ilha caribenha a ser definida, de acordo com a UNGRD.
Em sua disputa com o governo, Guaidó insiste na necessidade de a Venezuela receber alimentos não perecíveis e medicamentos. Na quarta-feira, ele pediu às Forças Armadas que não impeçam a entrada da ajuda, depois que militares bloquearam a ponte Tienditas.
A forma como tais carregamentos entrarão na Venezuela e serão distribuídos é um mistério. Maduro ainda se nega a recebê-los, alegando que não existe uma crise humanitária no país e que sua entrada seria o primeiro passo para uma intervenção militar americana.
A atitude dos militares neste caso permitirá a Guaidó medir a unidade de comando das Forças Armadas, apoio tradicional de Maduro, segundo analistas.
"As tropas (venezuelanas) estão morrendo de fome, assim como a população", afirmou na quinta-feira o almirante Craig Faller, comandante do Exército americano para a América Latina, em uma comissão do Senado em Washington.
Enquanto a ajuda humanitária chegava à fronteira entre Colômbia e Venezuela, os países do Grupo de Contato Internacional (CGI) tiveram o primeiro encontro em Montevidéu.
Em Montevidéu, União Europeia (UE), oito países do bloco e três da América Latina se comprometeram a trabalhar para "estabelecer as garantias necessárias para um processo eleitoral crível no menor tempo possível" e "permitir a entrada urgente da assistência segundo princípios internacionais".
Além disso, o grupo deixou claro que a saída para a crise deve ser uma "solução venezuelana", em consonância com a posição levantada desde a abertura da reunião pela chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, que insistia na necessidade de se evitar uma intervenção externa.
México e Bolívia se abstiveram de assinar a resolução conjunta, assinada pela União Europeia e por 11 dos participantes.
O enviado dos Estados Unidos para a Venezuela, Elliot Abrams, criticou o Grupo de Contato e pediu para lidar apenas com o "governo legítimo" de Guaidó.
"Em vez de tentar conversar com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, por meio de grupos de contatos, ou diálogos, pedimos aos países que reconheçam Juan Guaidó e se juntem a nós para responder a sua chamada para a assistência humanitária internacional imediata", disse o diplomata.
"O tempo para dialogar com Maduro já passou", frisou.
O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, minimizou nesta quinta-feira a proposta do Grupo de Contato a favor de eleições presidenciais "livres" para a Venezuela, afirmando que a proposta "não é muito útil".
Surgida de uma reunião em Montevidéu dos países europeus e latino-americanos que formam esse grupo, a iniciativa "não é muito útil", porque "parte do pressuposto de uma igualdade de condições entre o governo legítimo de Guaidó e a ditadura de Maduro", declarou Araújo em uma coletiva de imprensa em Washington.