Agência France-Presse
postado em 11/02/2019 18:19
Caracas, Venezuela - Os opositores venezuelanos, convocados por seu líder Juan Guaidó, se preparam para marchar nesta terça-feira (12) a fim de exigir aos militares que desconheçam a ordem do presidente Nicolás Maduro de impedir a entrada de ajuda humanitária americana.
Guaidó, reconhecido por 50 países como presidente interino, convocou manifestações em todo o país quando será celebrado o Dia da Juventude "para enviar uma mensagem" à Força Armada.
"A organização e mobilização de todos será crucial para que a ajuda entre e chegue ao fim a usurpação", afirmou Guaidó nesta segunda, informando que quase 100 mil voluntários se inscreveram para colaborar no processo de auxílio.
Alimentos e remédios enviados pelos Estados Unidos permanecem desde quinta-feira em um centro de armazenamento na cidade de Cúcuta, na Colômbia, perto da ponte fronteiriça Tienditas, bloqueada por militares venezuelanos com dois contêineres e uma cisterna.
O Brasil aceitou montar no estado de Roraima um centro de armazenamento de ajuda humanitária para a Venezuela, informou nesta segunda-feira, em Brasília, Lester Toledo, coordenador de ajuda humanitária designado por Juan Guaidó.
Maduro, que nega a existência de uma crise humanitária, rejeita a ajuda, considerada o início de uma intervenção militar dos Estados Unidos, além de um "show político".
O presidente venezuelano culpa as sanções americanas pela escassez de alimentos e medicamentos que atinge os cidadãos combinada a uma hiperinflação.
Força estrangeira?
Embora tenha classificado o envio de ajudar como um "show", o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, anunciou que a Força Armada tem "presença reforçada em toda a fronteira".
Tentando fissurar a Força Armada, o líder opositor ofereceu anistia aos militares que deixarem de reconhecer Maduro e advertiu-os que impedir a entrada de alimentos e remédios é um "crime contra a humanidade".
Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram considerar eximir de sanções qualquer militar venezuelano de alto escalão que reconhecer Guaidó.
"Não há sanções que desafiem ou quebrem a dignidade nacional" dos militares, disse Padrino, um dos sancionados, nesta segunda-feira.
O ministro destacou que exercícios militares tiveram início no domingo e serão concluídos na sexta, para enfrentar uma eventual invasão dos Estados Unidos.
Na sexta-feira, em entrevista à AFP, Guaidó advertiu que fará "o necessário" para conseguir que "acabe a usurpação" e "salvar vidas", sem descartar que o Parlamento autorize a intervenção de uma força estrangeira.
Um movimento opositor venezuelano pediu nesta segunda-feira para o legislativo autorizar a entrada de uma "força multinacional" caso o governo insista em bloquear a ajuda.
Embate diplomático
Guaidó, líder do Parlamento de maioria opositora, se autoproclamou presidente interino em 23 de janeiro após o Parlamento declarar Maduro "usurpador" por ter sido reeleito em um pleito questionado dentro e fora do país.
O opositor conta com o impulso decisivo dos Estados Unidos e respaldo crescente da América Latina e da União Europeia, ao qual a Itália se somou nesta segunda, pedindo "eleições livres" na Venezuela.
Uma conferência humanitária será realizada nesta quinta na sede da Organização de Estados Americanos (OEA), com representantes de governos, organismos multilaterais, empresas e ONGs, para "sensibilizá-los", segundo Guaidó.
Segundo fontes diplomáticas, os Estados Unidos propuseram ao Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução sobre a Venezuela no qual pede que facilite a ajuda humanitária e se comprometa a eleições presidenciais, um texto ao qual a Rússia se opôs.
Sem dar detalhes, a Controladoria do país abriu nesta segunda-feira uma investigação patrimonial de Guaidó porque "supostamente recebeu dinheiro proveniente de instâncias internacionais e nacionais sem nenhum tipo de justificativa".
Em meio a este acirramento, não se vislumbra um diálogo, pois Guaidó afirma que o governo já usou negociações com a oposição para ganhar tempo.