Agência France-Presse
postado em 17/02/2019 10:55
O príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman inicia neste domingo (17/2) no Paquistão uma viagem por três países asiáticos, na qual espera obter lucrativos contratos e demonstrar que tem um papel importante no cenário internacional, cinco meses após o caso Khashoggi.
O príncipe, apelidado "MBS", chegará neste domingo à capital do Paquistão, onde ficará até segunda-feira.
A visita é feita em um momento de tensão regional, com Índia e Irã acusando o Paquistão de estar envolvido em atentados suicidas cometidos esta semana em seus países.
O príncipe viajará depois à Índia, onde se reunirá com o primeiro-ministro, Narendra Modi, e acabará a viagem na China, na quinta e sexta-feira.
Duas curtas etapas previstas neste domingo e na segunda-feira em Indonésia e Malásia foram canceladas no sábado, sem explicações.
A visita é feita cinco meses e meio depois do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico de Bin Salman, no consulado saudita em Istambul.
Após ter negado inicialmente o assassinato, Riad apresentou várias versões contraditórias e assegura agora que Kashoggi foi morto em uma operação não autorizada pelo poder.
A Turquia afirmou na sexta-feira que ainda não havia revelado todos os elementos dos quais dispõe sobre este caso, que suscitou uma onda de indignação mundial e afetou a imagem do reino saudita e a do príncipe herdeiro.
;Não é um pária;
Com esta viagem, a mais importante ao exterior desde a cúpula do G20 na Argentina em dezembro, o príncipe "quer demonstrar que não é um pária internacional", disse James M. Dorsey, analista da Rajaratnam School of International Studies.
Trata-se de fornecer a prova de que ainda "tem acesso internacional e que pode operar (...) como o mais alto representante da Arábia Saudita além do rei", acrescentou.
Li Guofu, especialista em Oriente Médio do China Institute of International Studies, vinculado ao governo chinês, estimou que a questão Khashoggi continua incomodando os países ocidentais.
"Mas não ir ao Ocidente não significa que não possa ir ao Oriente", explicou. "Os países asiáticos têm uma característica especial e importante: não interferimos nos assuntos internos dos outros países".
A viagem também tem uma importante dimensão econômica. "A China é o maior comprador de petróleo saudita e seus outros clientes principais são todos asiáticos: Índia, Japão e Coreia do Sul", explicou Dorsey.
"A Ásia é uma fonte de investimentos na energia e nas infraestruturas do Golfo. E o crescimento futuro da economia mundial será na Ásia", insiste Karen Young, analista no American Entreprise Institute.
A Arábia Saudita não é a única afetada por este posicionamento estratégico: assim escolheram todas as "petromonarquias" do Golfo, detalha essa especialista.
Negociações com talibãs
O Paquistão, onde "MBS" iniciará a sua viagem, espera que seu velho aliado lhe estenda a mão a nível econômico. Poderia ser sob a forma de bilhões de dólares em investimentos em uma refinaria e um complexo petroleiro no sul do país.
Seu primeiro-ministro, Imran Khan, já viajou em duas ocasiões à Arábia Saudita desde a sua eleição, no verão passado.
Além disso, a visita do príncipe a Islamabad poderia coincidir com as possíveis novas negociações entre os talibãs e os Estados Unidos sobre o Afeganistão. Os talibãs anunciaram uma nova rodada de reuniões, bem como um encontro com Imran Khan na capital, na segunda-feira. Nem Washington nem Islamabad confirmaram, contudo, essas informações.
Arábia Saudita e Paquistão estão muito envolvidos nessas longas negociações que buscam acabar com um conflito no Afeganistão. Mas, por enquanto, não se sabia se "MBS" iria participar destas na segunda-feira.