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Após massacre, Nova Zelândia vai restringir acesso às armas de fogo

Primeira-ministra anunciou que que o país adotará uma legislação mais rigorosa para a venda de armas depois do massacre de 50 pessoas em duas mesquitas

Agência France-Presse
postado em 18/03/2019 08:34
Ardern também anunciou a abertura de uma investigação interna sobre o ataque
Christchurch, Nova Zelândia - A Nova Zelândia anunciou, nesta segunda-feira (18/3), que adotará uma legislação mais rigorosa para a venda de armas depois do massacre de cometido por um supremacista branco, que decidiu fazer a própria defesa, sem advogado, nos tribunais.

"Tomamos uma decisão como governo, estamos unidos, disse a primeira-ministra Jacinda Ardern, ao lado do vice-premier, Winston Peters, ao anunciar medidas para restringir o acesso às armas. Peters, cujo partido Nova Zelândia Primeiro era contrário às mudanças na lei de acesso às armas, afirmou que respalda totalmente a primeira-ministra.

"A realidade é que depois das 13H00 de sexta-feira nosso mundo mudou para sempre. E o mesmo acontecerá com nossas leis", disse, ao citar o horário em que começou o mais violento ataque já registrado em território neozelandês.

Ardern também anunciou a abertura de uma investigação interna sobre o ataque, que provoca muitas perguntas, em particular sobre como Brenton Tarrant, fascista autoproclamado, passou despercebido pelos radares das agências de inteligência.

As redes sociais também estão no olho do furacão pela transmissão ao vivo, no Facebook e durante vários minutos, do massacre filmado por seu autor, um australiano de 28 anos. A empresa americana afirmou que retirou 1,5 milhão de vídeos do ar. Apesar dos esforços, as redes sociais são acusadas de não terem bloqueado as imagens em "tempo real do ataque terrorista".
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Um jovem de 18 anos foi acusado nesta segunda-feira por um tribunal de Christchurch por ter divulgado o vídeo transmitido pelo autor do massacre, por ter publicado uma fotografia da mesquita de Al Noor de Christchurch com a frase "objetivo alcançado" e por incitação à violência.

A tragédia provocou uma grande comoção na Nova Zelândia, país de cinco milhões de habitantes - apenas 1% deles muçulmanos -, famoso por sua tradição de hospitalidade. Nesta segunda-feira, os neozelandeses de todas as tendências expressaram o repúdio aos ataques e ao ódio racial.

Cerimônia de purificação

Na mesquita Al Nur foi organizada uma cerimônia maori de purificação, que reuniu neozelandeses aborígenes, líderes da comunidade muçulmana e autoridades locais. Estudantes depositaram flores e acenderam velas.

Outros participaram em um novo haka, dança tradicional maori, em homenagem aos mortos. Em Auckland, os alunos de um colégio se uniram para criar a forma de um coração e a mensagem "Kia Kaha" ("Sejam fortes").

Os organizadores do maior salão de armas da Nova Zelândia, o Kumeu Militaria Show, perto de Auckland, anunciaram o cancelamento do evento após o massacre e em consequência dos "elevados riscos para a segurança".

A Nova Zelândia reforçou a legislação sobre as armas nos anos 1990, mas as leis sobre posse de armas de fogo permaneceram muito permissivas. Quase todos os pedidos de porte de armas recebem resposta positiva.

David Tipple, gerente da Gun City, loja que vendeu quatro armas de fogo ao suspeito, afirmou nesta segunda-feira que não se considera responsável pelo massacre.

"Não percebemos nada fora do comum sobre este dono de uma licença de armas", disse Tipple.

Brenton Tarrant, que compareceu a uma audiência no sábado em um tribunal de Christchurch, planeja representar a si mesmo no julgamento, afirmou o advogado designado pela corte.

O advogado Richard Peters, que o representou durante a audiência preliminar, disse à AFP que o australiano, de 28 anos, "indicou que não quer um advogado".

"Ele pareceu como alguém racional e sem algum problema mental. Parece entender o que aconteceu", completou Peters.

Confiança na justiça

De acordo com a legislação neozelandesa, ele será julgado se alegar inocência, o que pode permitir um confronto com os sobreviventes e parentes das vítimas fatais.

Mustafa Faruk, presidente da Federação de Associações Islâmicas da Nova Zelândia, afirmou que confia na justiça.

"Como comunidade, gostaríamos que esta pessoa fosse tratada de maneira justa, com acesso a todos os direitos. Acreditamos na justiça e sabemos que fará o que é necessário", completou.

Ao mesmo tempo, a impaciência é cada vez maior entre as famílias, que desejam receber os corpos de seus parentes. A tradição muçulmana prevê o sepultamento em um prazo de 24 horas após a morte.

Nesta segunda-feira, operários cavavam dezenas de covas em um cemitério de Christchurch. Os legistas afirmaram que esperam atender os pedidos das famílias o mais rápido possível.

De acordo com uma lista que circula entre as famílias, as vítimas fatais tinham entre 3 e 77 anos. Algumas pessoas moravam no bairro em que ficam as mesquitas, outras eram de países afastados. Ao menos dois mortos eram da mesma família, pai e filho.

De acordo com seus respectivos governos, cinco indianos morreram no massacre, assim como nove paquistaneses, um deles quado tentava deter o agressor. Trinta e uma pessoas permanecem hospitalizadas em estado crítico.

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