O papa Francisco recebeu nesta segunda-feira (18/3) o cardeal Philippe Barbarin, o mais alto dignitário católico francês, que foi apresentar a renúncia após sua condenação a seis meses de prisão com sursis por não denunciar os crimes sexuais de um padre.
A reunião privada foi realizada com discreção no Vaticano, confirmou a Santa Sé. No final da manhã, o cardeal foi visto e fotografado por um vaticanista italiano andando nos jardins da Cidade do Vaticano.
O papa argentino defendeu por muito tempo o cardeal francês. Em 2016, considerou que uma demissão antes do julgamento seria "uma imprudência". Francisco pode levar várias semanas para decidir se aceita ou não a renúncia.
Arcebispo de Lyon desde 2002, cardeal desde 2003, primaz da Gália (título honorário conferido ao arcebispo de Lyon desde o século XI), Philippe Barbarin é considerado o mais alto dignitário da Igreja da França. Se sua renúncia for aceita, ele se tornará "bispo emérito" de Lyon e permanecerá cardeal.
Barbarin, de 68 anos, uma idade precoce na Igreja para renunciar, foi condenado em 7 de março a seis meses de prisão com sursis por seu silêncio sobre os ataques pedófilos cometidos pelo padre Bernard Preynat nos anos 1980/1990 e sobre os quais ele havia sido informado por uma vítima em 2014.
O cardeal insistiu durante seu julgamento que "nunca procurou esconder, muito menos acobertar esses fatos horríveis". Mas o acórdão acusa-o de ter optado por não dizer nada às autoridades francesas "para preservar a instituição" da Igreja, impedindo assim "a descoberta de muitas vítimas de abuso sexual pela justiça".
Apesar de o bispo querer se demitir para apaziguar sua diocese, onde sua presença agora é difícil, ele já recorreu de sua condenação.
O papa, decidido a fazer com que os bispos encarem suas responsabilidades individuais e colegiais face aos escândalos, vai se posicionar antes da apelação?
"Nenhum abuso deve ser encoberto, como foi o caso no passado, e subvalorizado", declarou em fevereiro o pontífice, depois de uma reunião da cúpula da Igreja sobre a pedofilia.
Os advogados do cardeal Barbarin redigiram uma nota jurídica sobre sua condenação, expondo as perspectivas de um julgamento em apelação. Um documento traduzido para o espanhol para a atenção do papa argentino.
Em outubro, Francisco concordou relutantemente, e depois de três semanas de reflexão, a renúncia do cardeal americano Donald Wuerl, arcebispo de Washington suspeito por um júri popular de ter abafado um vasto escândalo de abuso sexual na Pensilvânia (nordeste Estados Unidos).
O prelado americano de 77 anos, que afirma ter agido "no interesse das vítimas" e foi elogiado pelo papa, não foi condenado como o cardeal francês.
O caso Barbarin ocorre em um momento delicado nas relações diplomáticas entre a França e a Santa Sé.
A Procuradoria de Paris acaba de pedir o levantamento da imunidade diplomática do núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) na França, o monsenhor Luigi Ventura, para ouvi-lo em uma investigação por "agressão sexual".
A Justiça francesa recebeu uma quarta queixa, que se soma àquelas apresentadas por três homens acusando o bispo de 74 anos de apalpar suas nádegas.
No início de março, a ministra francesa dos Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, disse que esperava que o Vaticano assumisse suas "responsabilidades".
Para complicar ainda mais, a França ainda não propôs uma substituição ao seu embaixador na Santa Sé, que se aposentou há oito meses e meio, mesmo que o ínterim seja assegurado por seu encarregado Yves Teyssier d;Orfeuil.