Mundo

Brasil e Chile se comprometem a fortalecer livre comércio na América do Sul

Após criação de fórum para progresso da região, presidentes do Brasil e Chile se comprometem a trabalhar pela aprovação de pacto bilateral de livre comércio nas casas legislativas

Leonardo Cavalcanti - Enviado especial
postado em 24/03/2019 08:00
Acordo defendido por Jair Bolsonaro e Sebastian Piñera prevê eliminação de tarifas de importação no intercâmbio de bensSantiago ; Um dia depois de participarem da primeira reunião que criou as bases para o novo fórum econômico e social da América Latina, o Prosur, os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e do Chile, Sebastian Piñera, se comprometeram, ontem, a defender a aprovação do acordo de livre comércio entre os dois países nos respectivos Legislativos ainda neste ano.

O acordo de livre comércio foi assinado em novembro pelos então ministros brasileiros e chilenos. Entre os principais pontos está a eliminação de tarifas de importação no intercâmbio bilateral de bens. Ao todo, os dois países assumem compromissos em 24 áreas não tarifárias, como comércio eletrônico e eliminação de cobrança de roaming internacional para dados e telefonia móvel.

O acordo bilateral prevê boas práticas regulatórias, incentivo à maior participação de micro, pequenas e médias empresas, comércio e meio ambiente. Os termos compreendem licitações públicas comuns e cooperação e facilitação de investimentos. Também estabelecem proteção para produção intelectual ; o Chile reconhece a cachaça como uma indicação geográfica procedente do Brasil, que, assim, protege o pisco chileno. Segundo o governo brasileiro, o acordo prevê análises de impacto regulatório para previsibilidade e segurança jurídica.

No discurso final da reunião bilateral, Piñera avançou contra o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. ;Entre os termos do acordo para a criação da Prosur (Fórum para o Progresso da América do Sul) está a necessidade de plena democracia. Assim, esperamos que a Venezuela possa ingressar o mais cedo nesse grupo;, disse o presidente do Chile que, como Bolsonaro, é um aliado do líder dos Estados Unidos, Donald Trump. ;Tive conversas reservadas com Trump que não posso revelar, mas ele está muito preocupado com a América Latina, não apenas com o Brasil e a Venezuela;, disse o presidente brasileiro.

Almoço


O encontro entre Bolsonaro e Piñera tomou parte da manhã e terminou com almoço no pátio principal do Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, sob um protesto velado de parlamentares, como o presidente do Senado, Jaime Quintana, que recusou o convite para o evento.

Na tarde de sexta-feira, o presidente brasileiro fez um passeio em um shopping de Santiago e chegou a ser aplaudido por alguns populares. ;Caso precise, posso vir aqui para ajudar na campanha ;, brincou Bolsonaro. No mesmo horário da visita de Bolsonaro ao centro comercial, porém, cerca de mil pessoas fizeram uma manifestação ao lado da sede do governo contra a presença dele no Chile.


Meio ambiente


Depois da desistência do Brasil em sediar a COP25 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), o Chile assumiu a organização do evento, que ocorrerá em novembro. Bolsonaro agradeceu a iniciativa.;Quero agradecer a vossa excelência (Piñera) por ter abraçado a COP25. O Brasil não está fora dela, mas não podemos assinar um acordo onde alguns objetivos sejam impossíveis de serem atingidos;, disse.

O presidente, crítico do Acordo de Paris, afirmou que não poderá assumir um pacto com objetivos ;impossíveis de serem atingidos;. ;O Brasil nada deve ao mundo no tocante à preservação do meio ambiente. Temos essa preocupação, mas, com ela, temos a preocupação com o desenvolvimento;.

Despedida com novas manifestações

Os protestos contra Jair Bolsonaro foram retomados no último dia do presidente brasileiro no Chile. Promovida por grupos de minorias, a manifestação reuniu centenas de pessoas que o descreveram como ;embaixador do ódio;. A concentração ocorreu na frente do Palácio La Moneda, vigiada por um paredão policial. Os manifestantes carregaram faixas com pedidos de defesa do meio ambiente, a favor de gays e lésbicas e também questões relacionadas ao assassinato de Marielle Franco (PSol-RJ).

Ao menos um jovem foi detido. No primeiro dia de protesto, na sexta-feira, mais de mil manifestantes foram repreendidos pela polícia, que usou bombas para dispersar a multidão, reunida também próximo à sede do governo chileno. No mesmo dia, Bolsonaro se defendeu das críticas. ;Mentiras, notícias falsas;, disse o brasileiro. ;Se eu fosse xenofóbico, sexista, misógino, racista, como você justifica a vitória no Brasil? Mentira, fake news (...) essas pessoas estão acreditando em notícias falsas, temos que abrir nossas cabeças;, disse no primeiro dia da visita ao Chile.

Venezuela

Ontem, em um discurso de despedida durante um almoço com a participação de 120 pessoas no Palácio La Moneda, Bolsonaro cometeu uma gafe. Ao agradecer a receptividade dos chilenos, disse que ;nossos irmãos venezuelanos merecem nossa preocupação e merecem ser lembrados em todo momento;.

O presidente seguiu dizendo que ;a América Latina deve agradecer a Deus e à vontade de muitos homens e mulheres que lutaram contra o socialismo;, assegurando que todos os países trabalham para que o ;regime venezuelano deixe de existir;. No encontro, Bolsonaro e Sebastián Piñera reiteraram a intenção de buscar um acordo pacífico para encerrar a crise na Venezuela e rejeitaram a possibilidade de intervenção militar.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação