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Resultado de investigação não acha provas de concluio entre Trump e Rússia

Procurador não encontra provas de conluio com russos nas eleições nem de obstrução da Justiça. Resultado de investigação é encarado como vitória por presidente. Opositores exigem ter acesso a toda documentação do caso

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 25/03/2019 06:00
Após 675 dias de uma investigação marcada por tensões entre apoiadores e críticos do governo americano, um documento de quatro páginas enviado ao Congresso é encarado com uma vitória pelo presidente Donald Trump. A carta é um resumo do trabalho do procurador especial Robert Mueller e relata que não foram encontradas evidências de que houve conluio entre russos e o então candidato republicano na última disputa eleitoral para a Casa Branca. Segundo Trump, trata-se de uma ;exoneração total;. A oposição, porém, pressiona para ter acesso ao relatório completo, alegando que o secretário de Justiça, William Barr, autor do resumo, não é ;um observador neutro;.

Mueller concluiu a investigação na última sexta-feira e entregou um relatório sobre o caso ao secretário de Justiça, principal autoridade de aplicação da lei dos Estados Unidos. ;As investigações do promotor especial não determinaram que a equipe de campanha de Trump ou qualquer um associado a ele tenha conspirado ou coordenado com a Rússia em seus esforços para influenciar a eleição presidencial de 2016;, ressaltou Barr no documento, também enviado à imprensa. A acusação não foi apresentada contra nenhuma das 34 pessoas acusadas, incluindo seis associados próximos do presidente.

Em outro dos tópicos centrais da investigação, sobre se havia obstrução da Justiça por parte de Trump, Mueller não chegou a uma conclusão definitiva. ;Este relatório não conclui que o presidente tenha cometido um crime, mas também não o inocenta;, disse Barr. Cabe ao secretário decidir sobre esse ponto, mas Barr antecipou que o relatório não menciona nenhum crime que possa levar, segundo seu ponto de vista, a processos judiciais baseados em uma obstrução da Justiça.

Trump comemorou o resultado logo após o anúncio e aproveitou para desmerecer a investigação de quase dois anos. Segundo o presidente, trata-se de ;uma (tentativa de) destituição ilegal que fracassou;. ;É uma pena que nosso país tenha passado por isso. Para ser honesto, é uma pena que seu presidente tenha passado por isso;, declarou na Flórida, antes de embarcar em seu avião para retornar à Casa Branca. Momentos antes, o presidente havia tuitado: ;Sem conluio, sem obstrução, completa e total exoneração. Mantenha a América grande;. O presidente afirmou ainda que a apuração foi ;ilegal; e ;vergonhosa; e ressaltou ;várias coisas ruins e negativas; aconteceram nos EUA por causa dela.


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Aliados de Trump reivindicaram a vitória antes mesmo de o documento ter sido divulgado. ;Até agora, o relatório Mueller era a referência absoluta, seria a salvação dos democratas e a destruição do presidente Trump. Hoje, você já vê os democratas mudarem seus discursos e dizerem ;temos que fazer novas investigações. As provas não lhes interessam. O que eles dizem é que vão destituir o presidente;, disse à rede de televisão CNN o senador republicano Ted Cruz, que por alguns meses se tornou um grande defensor de Trump.

Preparando o terreno para a ausência de revelações, alguns legisladores democratas insistiram em ressaltar os limites da investigação. ;O procurador especial estava investigando em um marco restrito. O que o Congresso deve fazer é ter uma visão geral;, disse também à CNN Jerry Nadler, presidente democrata do Comitê de Assuntos Judiciais da Câmara, onde a oposição é agora maioria.

Os democratas cogitam recorrer à Justiça para que todo o documento de Mueller seja divulgado e também pressionam para que Barr responda a perguntas sobre a falta de conclusões do procurador sobre a acusação de obstrução da Justiça. ;A carta do procurador-geral levanta tantas perguntas quanto respostas;, escreveu a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer. ;É urgente que o relatório completo e os documentos associados sejam tornados públicos;, acrescentaram.

Segundo Pette Buttigiegg, jovem prefeito da cidade de South Bend (Indiana) e candidato presidencial democrata, o documento discutido é importante, mas seu campo não deve perder de vista a data das eleições de novembro de 2020. ;Para mim, a maneira mais clara de acabar com o trumpismo é ganhar decisivamente nas urnas;, apontou.

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Comparado ao Watergate

O caso investigado por Robert Mueller por 22 meses foi comparado com o Watergate, que levou Richard Nixon à renúncia em agosto de 1974. O advogado foi nomeado consultor especial em maio de 2017, com o objetivo de investigar a interferência da Rússia nas eleições americanas e qualquer ligação de Donald Trump com os russos. No decorrer das investigações, o conselho especial divulgou acusações contra mais de duas dúzias de russos de envolvimento em conspirações para usar a mídia social para distribuir conteúdo de divisão ao público americano antes da eleição, além de hackear e-mails de democratas de alto escalão.

Nenhuma dessas acusações, porém, alegava qualquer conspiração entre os americanos e o Kremlin para se intrometer na eleição de 2016, deixando a questão central da investigação envolta em mistério. Mueller também acusou seis associados a Trump de vários crimes, incluindo declarações falsas e obstrução. O presidente ridicularizou o trabalho investigativo de Mueller diversas vezes, o definindo como uma ;caça às bruxas;, e negou veementemente que sua campanha conspirasse com Moscou para interferir no resultado da disputa.

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