Agência France-Presse
postado em 28/03/2019 19:38
Um relatório das Nações Unidas divulgado nesta quinta-feira revela que quase um quarto da população da Venezuela necessita de ajuda humanitária urgente, em meio ao aumento da desnutrição e das doenças decorrentes da deterioração das condições de vida no país.
O informe foi apresentado ao governo de Nicolás Maduro, que atribui a crise econômica na Venezuela às sanções dos Estados Unidos e ao chefe do Parlamento, Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por mais de 50 países.
O relatório "Visão geral das necessidades humanitárias prioritárias" apresenta dados detalhados sobre a magnitude da crise humanitária na Venezuela, enquanto a Organização das Nações Unidas busca obter apoio para acelerar sua resposta.
"Estima-se que 7 milhões de pessoas, ou 24% da população do país, têm necessidades prioritárias urgentes de assistência e proteção", assinala o relatório de 45 páginas.
Em 2018, mais de 94% da população venezuelana vivia na pobreza, incluindo 60% na pobreza extrema, segundo pesquisa realizada por três universidades de Caracas, citadas no relatório.
A crise tem impactado especialmente a nutrição, com queda no consumo de carne e verduras. Entre 2014 e 2017, o consumo de leite sofreu uma redução de 77%.
Segundo a ONU, 3,7 milhões de pessoas estão subnutridas no país, o triplo da taxa registrada no período 2010-2012.
Ao menos 22% das crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição crônica.
Doenças preveníveis como tuberculose, difteria, sarampo e malária ressurgiram e estão aumentando, do mesmo modo que a hepatite A, devido à falta de acesso à água potável.
"Devido a uma economia cada vez mais contraída e à situação política, a população venezuelana enfrenta desafios sem precedentes para ter acesso a serviços básicos, como atendimento médico, medicamentos, vacinas, água, eletricidade, educação e acesso aos alimentos".
O salários estão em queda e o fluxo migratório, incluindo o de profissionais e técnicos de todos os setores, tem agravado a deterioração das condições de vida. Ao menos um terço dos médicos do país emigraram.
Segundo o relatório, cerca de 5 mil pessoas abandonam a Venezuela diariamente, e 10% da população (3,4 milhões de pessoas) vivem agora como imigrantes ou refugiados nos países vizinhos.
Um estudo realizado pela UNICEF revelou que 48% das crianças e adolescentes matriculados nas escolas correm o risco de abandonar os estudos porque não conseguem frequentar as aulas com regularidade.
O relatório destaca que "a politização da assistência humanitária no contexto da crise torna a prestação de assistência baseada nos princípios de neutralidade, imparcialidade e independência mais difícil".
No mês passado ocorreram confrontos mortais na fronteira de Venezuela com Brasil e Colômbia, diante da pressão da oposição para entrar com ajuda humanitária, a qual o governo Maduro se opõe por considerá-la o início de uma intervenção estrangeira.