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Em vez de embaixada, Bolsonaro estuda abrir só escritório em Jerusalém

Na vinda ao Brasil, em dezembro passado, o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu disse que tinha ouvido de Bolsonaro a promessa de transferência da embaixada brasileira para Jerusalém

Agência Estado
postado em 29/03/2019 10:30
Bolsonaro e Netanyahu se encontram em dezembro de 2018 no Brasil, antes de o brasileiro tomar posse como presidenteÀs vésperas de sua primeira viagem oficial a Israel, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou, nesta quinta-feira, 28, que não deve anunciar a transferência da embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém durante os três dias que ficará no país, considerado um aliado-chave de seu governo. A solução encontrada deve ser a instalação de um escritório de negócios em Jerusalém.

"Nós talvez abramos agora um escritório de negócios em Jerusalém", disse nesta quinta o presidente ao ser questionado sobre a eventual mudança da embaixada. O gesto poderia servir como parte do processo de reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, mas sem comprometer a relação do Brasil com os países árabes, fortes parceiros comerciais do País.

Decisão semelhante foi tomada pela Austrália, no final do ano passado, que anunciou a instalação de um escritório comercial em Jerusalém, mas ponderou que a transferência da embaixada só vai acontecer quando o status da cidade for determinado por um acordo de paz.

A mudança da embaixada para Jerusalém é uma promessa de campanha de Bolsonaro e uma cobrança da comunidade evangélica. Ele cita Donald Trump para justificar que a promessa, na prática, ainda deve demorar. "Trump levou nove meses para decidir, para dar a palavra final para que a embaixada (americana) fosse transferida", disse o presidente ontem.

A possibilidade de instalação de um escritório, em vez da mudança da embaixada, agrada a bancada evangélica num primeiro momento, mas não deve cessar as cobranças pela mudança efetiva. O deputado Marco Feliciano afirmou que optar por um escritório de negócios poderia ser uma "boa solução a princípio". Para ele, seria uma solução provisória, até o Brasil "conseguir um maior apoio da comunidade árabe".

Já o deputado Sóstenes Cavalcante deixou claro que escritório avançado não é transferência de embaixada. "Estou ansioso para ver o cumprimento do compromisso com os evangélicos e com os judeus da transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém. Eu tenho convicção que o presidente Jair Bolsonaro é um homem de palavra", escreveu no Twitter.

O Brasil possui atualmente três escritórios no exterior: em Ramallah, na Cisjordânia; em Taiwan e em Nova York, nos EUA. Os dois primeiros possuem características semelhantes ao que seria instalado em Jerusalém. Já o de Nova York é mais limitado por ser apenas um escritório de finanças.

Cautela
Entre a comunidade árabe, o clima é de cautela para aguardar o que Bolsonaro vai fazer. Eles trabalham com todos os cenários, considerando a transferência, a não transferência e a criação do escritório. Por isso, evitam se manifestar antes da viagem. A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira foi contactada, mas não deu declarações.

Já a Confederação Israelita do Brasil vê "com bons olhos" a instalação do escritório. "Uma visão mais equilibrada dos conflitos na região contribuirá para se chegar a soluções justas. A capital de Israel fica em Jerusalém, e um movimento do Brasil no reconhecimento desse fato é positivo", disse o presidente da entidade, Fernando Lottenberg.

O presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, Jayme Blay, disse que a abertura do escritório traz "esperança de novos negócios. A Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria vai levar 40 empresários para Israel no mesmo período em que Bolsonaro estiver no país, entre domingo e quinta-feira. Eles devem se reunir na terça-feira. Segundo a assessoria de imprensa, a viagem não tem ligação direta com a de Bolsonaro, mas acontecerá "paralelamente".

Contrariando a posição dos últimos anos, o Brasil tem se posicionado a favor de Israel em fóruns internacionais. Ontem, Bolsonaro reforçou a nova orientação. "Nós já começamos a votar de acordo com a verdade na ONU. Israel, EUA, Brasil e mais alguns outros países já começaram a votar diferentemente da forma tradicional, que era o lado da Palestina, por exemplo, e defendendo coisas voltadas a Cuba. Nós voltamos a uma realidade. Nós temos direitos humanos de verdade", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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