Agência France-Presse
postado em 30/03/2019 13:30
Dezenas de milhares de palestinos se reuniram, neste sábado (30), perto da fronteira israelense na Faixa de Gaza, onde confrontos com soldados israelenses já fizeram dois mortos e dezenas de feridos palestinos, correndo o risco de uma escalada com o Estado judeu.
Os manifestantes desejam marcar o primeiro aniversário de uma mobilização chamada de "as grandes marchas do retorno", que mantém a fronteira sob tensão há um ano.
Os alto-falantes das mesquitas tocaram mensagens convocando os moradores às manifestações, enquanto vários ônibus levavam os manifestantes para a fronteira.
Entre os vários pontos de encontro, milhares de moradores do enclave espremido entre Israel, Egito e o Mediterrâneo, caminharam em direção à fronteira com bandeiras palestinas.
Em Malaka, a leste da cidade de Gaza, a maioria dos manifestantes se manteve longe da cerca para ficar fora do alcance dos atiradores israelenses. Mas alguns palestinos se aproximaram a algumas dezenas de metros, queimaram pneus para atrapalhar a visibilidade dos atiradores e jogaram pedras nos soldados antes de voltar correndo.
O Exército israelense respondeu, disparando gás lacrimogêneo e abrindo fogo. Imagens de vídeo da AFP mostram um palestino atingido por um tiro de retaliação israelense.
Um adolescente palestino de 17 anos, atingido no rosto, morreu, segundo o ministério da Saúde de Gaza. Mais cedo, perto da fronteira, um palestino de 20 anos foi morto por tiros israelenses durante uma manifestação noturna a mais de 100 metros da cerca antes do início da grande mobilização.
Ao todo, 112 palestinos foram feridos, incluindo 23 por balas reais, segundo o ministério da Saúde. O Exército israelense contabilizou 40.000 participantes na mobilização deste sábado.
As chamadas se multiplicaram em favor de um protesto não violento. O espectro de uma nova guerra ressurgiu nas últimas semanas entre Israel e o Hamas, que seria a quarta desde que o movimento islâmico, que nega a existência de Israel, assumiu o poder em Gaza em 2007.
A questão é se o Hamas tentará conter a violência contra os soldados israelenses ou se dará liberdade total aos manifestantes.
Apesar dos apelos dos organizadores, "vamos para a fronteira, mesmo que tenhamos que morrer", disse Yousef Ziyada, 21 anos, com um rosto pintado nas cores palestinas.
"Estamos aqui em Abu Safia, a leste de Jabaliya, para expulsar os judeus de nossa terra", afirmou. "Vamos voltar para a nossa terra".
Desde 30 de março de 2018, milhares de moradores de Gaza protestam toda semana para exigir o levantamento do bloqueio estrito que Israel impõe há mais de dez anos a Gaza e pelo direito de retornar às terras que eles ou seus pais fugiram ou foram expulsos na criação de Israel em 1948.
Pelo menos 259 palestinos foram mortos desde então, a maioria deles em "marchas do retorno", o restante em ataques israelenses de retaliação a atos hostis. Dois soldados israelenses foram mortos.
Palestinos e defensores dos direitos humanos acusam Israel de uso excessivo da força. Israel diz que está apenas defendendo sua fronteira.
Dezenas de atiradores de elite
O Exército israelense mobilizou milhares de soldados, dezenas de atiradores de elite, tanques e artilharia no caso de grupos armados lançarem foguetes contra Israel.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alertou que seu país está pronto para realizar uma operação "em grande escala", se necessário. Mas ele também insinuou que pretendia dar uma chance à mediação egípcia.
Negociações aconteceram na sexta-feira sob mediação do Egito, um intermediário tradicional entre o Hamas e Israel. Uma delegação egípcia visitou neste sábado o local da mobilização.
O Hamas busca nas negociações aliviar o bloqueio israelense que sufoca a Faixa de Gaza. Israel justifica o bloqueio pela necessidade de conter o Hamas.
O Hamas e Netanyahu estão sob pressão. O primeiro enfrentou recentemente manifestações contra a profunda recessão econômica, que ele reprimiu severamente. O segundo, diante da forte competição nas eleições, é acusado por seus oponentes de fraqueza contra o Hamas.