Agência Estado
postado em 06/04/2019 11:13
As tensões sobre imigração nos EUA estão aumentando e a busca do governo Donald Trump por soluções está se tornando cada vez mais tensa. Oprimido por um fluxo de imigrantes na fronteira que pesa sobre o sistema de imigração, o presidente norte-americano está à procura de algo para conter a maré.
Trump, que fez campanha com a promessa de reforçar a fronteira, avançou virtualmente em todas as opções que seus auxiliares puderam pensar sobre o problema, com pouco resultado. Ele mobilizou os militares, assinou uma declaração de emergência para financiar um muro e ameaçou fechar completamente a fronteira sul. Na quinta-feira, acrescentou uma nova ameaça, alertando para pesadas tarifas sobre automóveis fabricados no México se o país não cumprir suas exigências.
Agora, com o incentivo de um assessor influente e sua campanha de reeleição no horizonte, Trump está olhando para mudanças de equipe, enquanto tenta transferir a culpa para outro lugar. O primeiro passo foi dado na quinta-feira, quando a Casa Branca inesperadamente retirou a nomeação de Ron Vitiello para liderar permanentemente a Agência de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), onde já atuava como diretor. A reversão abrupta foi encorajada pelo principal consultor de políticas de Trump, Stephen Miller, e foi vista por alguns como parte de um esforço maior para trazer assessores que compartilham as visões de imigração linha-dura de Miller. O presidente disse que queria seguir uma "direção mais dura".
Miller também estaria de olho na remoção de Lee Francis Cissna, diretor dos Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA, que administram o sistema de imigração legal, de acordo com duas pessoas que falaram sob condição de anonimato. A Casa Branca não respondeu às perguntas sobre se Trump tinha esse plano.
O presidente dos EUA tem ficado cada vez mais exasperado com sua incapacidade de fazer mais para deter o crescente número de imigrantes que entram no país. Assessores também se queixam de que estão sendo impedidos por restrições regulatórias, limitações legais e um Congresso que zombou dos pedidos do presidente para mudanças legislativas. "Há de fato uma emergência em nossa fronteira sul", disse Trump, durante uma visita nesta sexta-feira à fronteira sul em Calexico, Califórnia, quando sua frustração era evidente. "É uma explosão colossal e está sobrecarregando o nosso sistema de imigração, e não podemos deixar isso acontecer. Então, como eu digo, e esta é a nossa nova declaração: o sistema está cheio. Não aguenta mais". Ele passou a declarar categoricamente: "Nosso país está cheio".
Especialistas em imigração dizem que as políticas de imigração de Trump causaram tanto caos ao longo da fronteira que podem estar encorajando travessias ilegais. O furor sobre as separações familiares no ano passado ajudou a destacar o fato de que as famílias não ficarão detidas por muito tempo nos EUA, se forem detidas. E a medição, na qual as pessoas são convidadas a retornar a um movimentado porto de entrada para pedir asilo, pode ter incentivado requerentes de asilo a atravessar ilegalmente, avalia Andrew Selee, presidente do Instituto de Políticas Imigratórias. "Este caos da política, juntamente com a sensação de que o governo dos EUA pode em algum momento realmente fechar a fronteira, gerou uma urgência para imigrar agora, enquanto ainda é possível", disse.
Sejam quais forem as razões do imigrante, há um consenso crescente de que os recursos das fronteiras federais estão sobrecarregados. Embora as travessias ilegais de fronteira ainda estejam em queda acentuada em relação a seu pico em 2000, atingiram uma alta de 12 anos. E enquanto a maioria dos cruzadores de fronteira ilegais costumavam ser cidadãos mexicanos solteiros que vinham para os EUA em busca de trabalho, agora mais da metade são pais e crianças que viajaram da América Central para buscar refúgio nos EUA.
Essas famílias, juntamente com as crianças desacompanhadas, estão sujeitas a leis específicas e acordos judiciais que os impedem de serem imediatamente enviados de volta para seus países de origem. Os centros de processamento e manutenção de imigrantes ficaram sobrecarregados, forçando os funcionários a ampliar uma prática há muito tempo ridicularizada por Trump, "pegar e soltar".
De fato, o ICE liberou mais de 125 mil pessoas que entraram nos EUA desde o final do ano passado e agora está transportando milhares de pessoas para o interior do país, liberando-as em cidades como Albuquerque, San Antonio e Phoenix, porque cidades próximas à fronteira já têm mais do que podem suportar.
Fonte: Associated Press