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Ex-diretor da Odebrecht reafirma repasse a partido de ex-presidente peruano

Após o suicídio do ex-presidente peruano Alan García, o Ministério Público peruano voltou a ser criticado por adotar uma política agressiva ao pedir a prisão preventiva dos investigados pelo escândalo de corrupção da Odebrecht

Agência Estado
postado em 23/04/2019 16:51
Após o suicídio do ex-presidente peruano Alan García, o Ministério Público peruano voltou a ser criticado por adotar uma política agressiva ao pedir a prisão preventiva dos investigados pelo escândalo de corrupção da OdebrechtEx-representante da Odebrecht no Peru, Jorge Barata confirmou nesta terça-feira, 23, que a construtora brasileira realizou pagamentos em 2006 para o partido Apra, do ex-presidente peruano Alan García, que se matou na quarta-feira, 17, ao receber uma ordem de prisão pelo caso de corrupção.

Barata presta depoimento aos procuradores José Domingo Pérez e Rafael Vela, responsáveis pela Lava Jato no Peru, na sede da PGR em Curitiba. Além dos pagamentos não declarados ao partido político, o ex-representante da Odebrecht deve falar sobre as obras da linha 1 do metrô de Lima.

Segundo Barata, o Apra recebeu US$ 200 mil por meio de pagamentos não declarados. Parte desse dinheiro, US$ 60 mil, foi entregue diretamente a Luis Alva Castro, conhecido como ;laque;, segundo ele. As informações confirmadas nesta terça foram ditas pela primeira vez por Barata em fevereiro de 2018. Na ocasião, ele afirmou que García agradeceu o apoio da Odebrecht em 2006.

Não está claro como o dinheiro entregue pela Odebrecht foi usado, se pelo então candidato García ou por seu partido.

Após a primeira parte das declarações, Vela afirmou estar satisfeito com o que está sendo respondido por Barata. "As hipóteses do Ministério Público estão sendo comprovadas", disse a repórteres na saída para um intervalo.

Após o suicídio de García, o Ministério Público peruano voltou a ser criticado por adotar uma política agressiva ao pedir a prisão preventiva dos investigados pelo escândalo de corrupção da Odebrecht.

Erasmo Reyna, que advogava para García, afirmou que a declaração desta terça prova que o ex-presidente era inocente. "Hoje ficou provado que Alan García nunca pediu dinheiro ou recurso da Odebrecht ou mesmo a Barata. Eles nunca conversaram durante a campanha sobre nada irregular ou ilícito", afirmou o advogado ao jornal O Estado de S. Paulo.

Para Reyna, não há provas que liguem García ao esquema de corrupção da Odebrecht. "Barata não tem a certeza de que o dinheiro entregue a Castro tenha sido destinado à campanha do candidato aprista. Além disso, um tema muito importante que pode mudar o curso das investigações é que Barata disse que só recentemente soube que o dinheiro do caixa 2 era ilícito, ou seja, ele desconhecia que era um dinheiro irregular".

Vela contestou as afirmações de Reyna. "São versões políticas alheias à questão técnica. A declaração (de Barata) contribuiu para esclarecer as linhas de investigação do MP".

García foi acusado de receber propina da Odebrecht após o início da Operação Lava Jato, quando alguns dos contratos que fechou com a construtora brasileira se tornaram alvo da investigação de procuradores no Brasil e no Peru.

As suspeitas começaram quando García disse a procuradores peruanos que havia se reunido apenas uma vez com Marcelo Odebrecht. Havia registro, no entanto, de cinco reuniões entre eles. O Ministério Público peruano então abriu duas frentes de investigação. A primeira envolvia doações ilegais de campanha feitas pela Odebrecht, em 2006, no valor de US$ 200 mil. A segunda diz respeito a contratos superfaturados para a construção da linha 1 do metrô de Lima.

"Hoje em parte se conseguiu provar que a imagem que tentaram criar de García está errada. Acreditamos que isso ficará mais evidente ao longo dos próximos dias, ele (Barata) vai responder mais diretamente que jamais esteve em contato com Alan García", concluiu Reyna sobre o primeiro dia de depoimentos em Curitiba.

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