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Síria: coalizão contra EI matou 1.600 civis em Raqa na ofensiva de 2017

"Muitos dos bombardeios aéreos foram imprecisos, e os ataques com milhares de bombas de artilharia foram indiscriminados", denunciou chefe da Anistia Internacional

Agência France-Presse
postado em 25/04/2019 11:01
Guerra na SíriaA ofensiva da coalizão anti-Estado Islâmico (EI), liderada pelos Estados Unidos, na cidade síria de Raqa ao longo de quatro meses em 2017, provocou a morte de mais de 1.600 civis - aponta relatório divulgado nesta quinta-feira (25).

Ex-capital do autoproclamado "califado" do EI, em 2014, a cidade de Raqa, no leste da Síria, foi destruída em quase 80% durante uma ampla ofensiva lançada pela coalizão internacional.

"Muitos dos bombardeios aéreos foram imprecisos, e os ataques com milhares de bombas de artilharia foram indiscriminados", denunciou Donatella Rovera, chefe da Anistia Internacional, grupo que dirigiu o relatório.

O documento foi produzido pela Anistia Internacional em colaboração com a ONG Airwars, que monitora o número de vítimas civis em todos os bombardeios aéreos no mundo.

Esse trabalho é resultado de meses de pesquisa no terreno e de análises de dados, incluindo mais de dois milhões de imagens por satélite avaliadas por mais de 3.000 voluntários associados ao projeto, lançado em novembro pela Anistia.

Os autores dessa investigação sem precedentes pediram aos principais países-membros da coalizão - entre eles Estados Unidos, Reino Unido e França - mais transparência em suas operações e que assumam suas responsabilidades.

"A Anistia Internacional e a Airwars pedem às forças da coalizão que parem de negar a amplitude chocante de mortes de civis e da destruição que sua ofensiva em Raqa causou", afirma o relatório.

"A coalizão admitiu ser responsável pela morte de 159 civis, ou seja, cerca de 10% do número total contabilizado de vítimas", condenou a Anistia.

Segundo Rovera, o balanço elevado de vítimas civis está ligado, sobretudo, às falhas de Inteligência e de informação.

Em vários casos, residências foram tomadas como alvo, matando famílias inteiras que viviam nesses imóveis, ou os usavam como abrigo, declarou Rovera.

A presença de civis deveria ter sido "detectada" - segundo ela - "se tivesse tido uma vigilância adequada desses imóveis".

Deflagrado em 2011, o conflito na Síria ganhou complexidade ao longo dos anos, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos extremistas, em um território cada vez mais dividido.

A guerra na Síria já deixou mais de 360 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados.

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