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Em meio a impasse político, espanhóis vão às urnas neste domingo

Na terceira eleição parlamentar desde 2015, o premiê socialista Pedro Sánchez tenta romper o impasse político, mas tem como adversários a fragmentação partidária e a ascensão de uma legenda ultranacionalista

postado em 28/04/2019 08:00
Comício do Vox no encerramento da campanha eleitoral: sucesso fulminante com discurso de combate ao separatismo catalãoÉ sob a atenção concentrada dos vizinhos europeus que 37 milhões de espanhóis devem comparecer hoje às urnas para a terceira eleição legislativa dos últimos quatro anos, sem maiores expectativas de que o resultado ajude a resolver o prolongado impasse político ; ao contrário. As pesquisas finais de opinião dão ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do presidente de governo (primeiro-ministro) Pedro Sánchez, cerca de 30% das intenções de voto e uma vantagem clara sobre o Partido Popular (PP, direita), de Pablo Casado. Mas nenhuma das duas forças, que se alternam no poder desde a redemocratização, em 1975, parece a caminho de obter a maioria das 350 cadeiras do parlamento.

O fator que complica definitivamente a aritmética política do país é exatamente o mesmo que coloca em guarda os demais 27 países-membros da União Europeia (UE). Com um patamar consolidado de 10% nas pesquisas, o partido Vox, de Santiago Abascal, levará de volta ao jogo parlamentar a extrema direita, ausente desde o fim da ditadura do generalíssimo Francisco Franco. A ascensão da legenda, com um programa anti-UE e anti-imigração, acentuou ainda mais a fragmentação partidária presente desde a eleição de dezembro de 2015, quando entraram em cena o Podemos (esquerda radical) e o Ciudadanos (direita liberal).

Como vem se repetindo em todo o continente, o discurso ultranacionalista e contrário à UE rouba votos praticamente em todo o espectro político. No caso espanhol, inclusive dos partidos que romperam o bipartidarismo de fato. Em relação a 2015 e a 2016 ; quando uma segunda eleição manteve o impasse ;, a novidade neste ano é a recuperação dos socialistas. Desde fevereiro de 2018, quando uma moção de censura derrubou o premiê Mariano Rajoy, do PP, Pedro Sánchez encabeçou um gabinete de minoria que implantou agenda social capaz de resgatar a imagem do PSOE, destinado a retomar a condição de maior bancada.

;As maiorias são muito improváveis, tanto à esquerda quanto à direita;, analisa Francisco Camas, do Instituto Metroscopia. Para ele, será decisiva a votação dos nacionalistas bascos e catalães ; estes últimos, os responsáveis pelo movimento separatista que acirrou a crise política espanhola. É em parte a rejeição dos demais espanhóis à fracassada tentativa de independência da Catalunha que impulsionou o Vox ; a ponto de alcançar 11% na eleição regional da Andaluzia, reduto histórico da esquerda, e favorecer a queda do PSOE do governo local.

;Ou separatismo, ou a continuidade histórica da nossa pátria;, resumiu Santiago Abascal, no encerramento da campanha, referindo-se à decisão de hoje. ;Ou a anti-Espanha, ou a Espanha viva!” Encurralado na perspectiva de sair das urnas sem os votos necessários para governar, o líder do PP deixou entreaberta a porta para um acordo com a extrema direita. ;Se Vox e Ciudadanos conquistarem o resultado que pretendem, terão influência na formação do próximo goveno;, afirmou Pablo Casado, ;Portanto, por que vamos sair criticando uns aos outros, se o que precisamos é somar?;


Bloco do contra


A um mês da crucial eleição para a renovação do Parlamento Europeu, a extrema direita anti-UE cerra fileiras para despontar como o grande fenômeno da temporada, animada com as pesquisas favoráveis em países como Itália e Hungria, onde participam do governo, ou mesmo França e Alemanha, onde legendas ultranacionalistas crescem a cada votação. A ideia de uma maré do Vox na Espanha ; ou mesmo da entrada da legenda em um gabinete do PP ; coloca em guarda as forças políticas tradicionais do continente.

;A ausência preocupante do tema da Europa durante a campanha eleitoral furta aos cidadãos o debate sobre o futuro da UE;, alertou em editorial o jornal El País. ;É uma questão de máxima relevância para a Espanha;, reforça o texto, que assinala o risco colocado para o bloco com o crescimento das forças contrárias, em meio ao impasse do Brexit ; a saída do Reino Unido. ;Enfrentamos a emergência de potências (eleitorais) com linguagem hostil ao que a UE representa. É preciso dar resposta às mudanças profundas que estão favorecendo a chegada ao poder de governos da ultradireita.;

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