Rodrigo Craveiro
postado em 04/05/2019 07:00
O presidente autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, e o Grupo de Lima lançaram um apelo aos militares do país para que deixem de apoiar o regime de Nicolás Maduro. Guaidó anunciou que os opositores ao Palácio de Miraflores tentarão entregar um manifesto, hoje, nas principais unidades militares da nação. ;De maneira pacífica, civilizada (...) vamos entregar um documento simples, um manifesto às Forças Armadas para que ouçam o chamado venezuelano, que é possível uma transição rápida para gerar eleições livres;, disse Guaidó em entrevista coletiva. Ele também convocou uma ;mobilização nacional para a paz;, a partir das 10h de hoje (11h em Brasília), e afirmou que ;continuar nas ruas é a única maneira de manter a atenção, a pressão, a ação da comunidade internacional, estimular a atuação constitucional das Forças Armadas e demonstrar aos que ainda respaldam o ditador que não existirá estabilidade enquanto seguir a usurpação;. Por sua vez, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, sugeriu que somente a debilitação da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) pode levar à mudança de regime.
Ao fim de uma reunião em caráter de urgência, o Grupo de Lima divulgou declaração final de 15 pontos, nos quais reafirma o pleno respaldo às ações empreendidas pelo povo venezuelano sob a liderança de Guaidó para restabelecer o Estado de direito; condena energicamente a repressão do ;regime ilegítimo e ditatorial de Maduro;; insta os membros da Fanb a cumprirem o mandato constitucional e cessar o apoio cúmplice ao ;regime ilegítimo;; exorta a ONU a tomar ;medidas inequívocas de proteção encaminhadas para mitigar as consequências da crise humanitária;.
O Grupo de Lima também decidiu convidar Cuba e o Grupo de Contato Internacional (GCI) a participarem de maneira conjunta de uma solução para o impasse na Venezuela. Ontem, o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, admitiu que recebeu uma oferta, em dinheiro, dos EUA para derrubar Maduro. ;Quiseram me comprar como se eu fosse um mercenário. Dá muita indignação que me tentem comprar com uma oferta da boca para fora;, disse, ao assegurar que rejeitou a proposta.
Leopoldo López
Em Madri, o chanceler da Espanha, Josep Borell, alertou ontem que Leopoldo López ; líder da oposição venezuelana abrigado na residência oficial do embaixador espanhol em Caracas ; não deve transformar a sede diplomática em ;centro de ativismo político;. Quase ao mesmo tempo em que o comunicado de Borell era divulgado, López reunia a imprensa e assegurava que ;mais movimentos no setor militar ocorrerão contra Maduro;.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, telefonou ontem para o homólogo russo, Vladimir Putin, para analisarem a situação na Venezuela. De acordo com Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, durante a ligação, Trump deixou claro que ;os Estados Unidos estão com o povo da Venezuela;. Ela classificou a conversa de ;muito boa; e o intercâmbio de ;no geral muito positivo;.
Em cerimônia para marcar o Dia do Diplomata, no Palácio do Itamaraty, Bolsonaro alertou: ;Se não enfraquecer o Exército da Venezuela, o Maduro não cai;. ;Não temos que conversar com ele (Maduro); o que nós queremos, no meu entender, ele não vai ceder;, acrescentou. Maristela Basso, professora de direito internacional e comparado da Universidade de São Paulo (USP), considera correto o raciocínio de Bolsonaro. ;Só existe uma maneira de debilitar a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb): os militares desertarem e se associarem ao grupo de Guaidó, o que me parece bem difícil. A alternativa que tenho defendido é o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir mandados de prisão contra Maduro e seus principais aliados militares, incluindo o ministro da Defesa (Vladimir Padrino López);, explicou ao Correio.
Para a especialista, uma intervenção militar somente ocorrerá na Venezuela se os ânimos entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) se acirrarem. ;Neste caso, veremos uma nova Síria na América Latina. E o jogo de interesse deixará de ser a Venezuela e sua crise humanitária para se tornar nova Guerra Fria entre Washington e Moscou.; Basso crê que Guaidó não tem mais opções para derrubar Maduro. ;Ele fez um voo de galinha planejado de forma precipitada e quase irresponsável. Agora, é voltar para casa e se preparar melhor;, disse.
;Se não enfraquecer o Exército da Venezuela, o Maduro não cai;
Jair Bolsonaro, presidente brasileiro
;Não estamos pedindo que os militares se ponham do meu lado. Estamos lhes pedindo que se coloquem do lado do povo, de seu país, do lado da Constituição. (;) Isso se trata de todos, da vida;
Juan Guaidó, presidente autoproclamado da Venezuela
Tiros na fronteira
Na tarde de ontem, cidadãos que atravessavam a Ponte Internacional Simón Bolívar, na fronteira entre Venezuela e Colômbia, foram surpreendidos por disparos provenientes de uma das trilhas alternativas para cruzar a divisa. Em vídeo difundido pelas redes sociais, civis e militares colombianos apareciam deitados sobre a ponte, enquanto se escutava o tiroteio. Uma jornalista do El Nacional afirmou que os tiros teriam partido de colectivos (grupos armados leais ao regime de Nicolás Maduro).
Deputado será julgado por traição
;Prefiro não falar agora. Tenho de esperar os próximos passos do governo. Não é conveniente;, afirmou ao Correio Edgar Zambrano, primeiro-vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela. Pouco antes, o Tribunal Supremo de Justiça anunciou que julgará Zambrano pelos delitos de traição à Pátria, conspiração, instigação à insurreição, rebelião civil, usurpação de funções, instigação pública à desobedinência das leis e ódio continuado.
Maduro prega lealdade da caserna
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, publicou um vídeo no Twitter, no qual tentou transmitir a ideia de que se beneficia da lealdade dos militares. ;Os soldados e as soldadas de nossa gloriosa Força Armada Nacional Bolivariana são um exemplo histórico de patriotismo e consequente lealdade à Pátria. Levam, em seus genes, a estirpe dos gigantes: (Simón) Bolívar e (Hugo) Chávez. Leais, sempre! Traidores, nunca!”, declarou Maduro.
Eu acho...
;Desde alguns meses atrás, temos militares em rebelião. Muitos foram presos e seguem detidos. Existe um ambiente de instabilidade e de protesto nos quartéis. Eu ratifico minha confiança em Juan Guaidó como o responsável por essa causa que defendemos.;