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Na Bulgária, papa encontra refugiados e celebra comunhões

Francisco está no país em encontro pela paz. Para o líder da igreja católica, só o "amor pode derreter o gelo das guerras"

Agência France-Presse
postado em 06/05/2019 16:40
Francisco está no país em encontro pela paz. Para o líder da igreja católica, só o Incansável defensor dos refugiados, o papa Francisco expressou nesta segunda-feira (6/5) seu apoio às famílias sírias e iraquianas exiladas na Bulgária, antes de concluir sua visita ao país com um encontro pela paz praticamente ignorado pela Igreja ortodoxa.

No perímetro da praça Nezavisimost, de Sofia, há uma igreja ortodoxa, uma católica, uma sinagoga, uma mesquita e uma igreja armênia.

"Neste local, durante séculos, os búlgaros de Sofia pertencentes a diferentes grupos culturais e religiosos se concentravam para se reunir e discutir. Que este lugar simbólico represente um testemunho de paz", disse o papa.

"Com o fogo do amor, queremos derreter o gelo das guerras", acrescentou Francisco, concluindo a viagem de dois dias à Bulgária.

Ele segue na região nesta terça-feira (6/5), quando chega à Macedônia do Norte.

Mais cedo, o papa visitou o centro de refugiados de Vrajdebna, nos arredores de Sofia, onde estão cerca de 50 pessoas, incluindo muitas crianças.

Um pequeno coral de meninos cantou em búlgaro e ofereceu desenhos ao papa.

O canto dos meninos "traz alegria para o caminho cheio de dor daqueles que abandonaram sua pátria para buscar a integração em outra pátria", declarou Francisco.

"Hoje em dia, o mundo dos imigrantes e refugiados é um pouco uma cruz, uma cruz da Humanidade, uma cruz de sofrimento para tantas pessoas", acrescentou.

No domingo, em seu primeiro discurso em solo búlgaro, Francisco pediu que a Bulgária seja "acolhedora" com "aqueles que fogem da guerra, ou da miséria".

A experiência de muitos refugiados tem sido, porém, cheia de obstáculos em um país onde não há plano para a integração de demandantes de asilo, apenas assistidos por voluntários e por um punhado de associações.

"Pelo menos estamos vivos, há água e eletricidade", resumiu Dzhumaa Huseyin, um curdo da Síria, cujo êxodo terminou na Bulgária.

"Mas não esperávamos viver como mendigos na Europa", suspirou o ex-técnico, que agora recolhe papelão.

Antes de encontrar uma quitinete para alugar na capital, morou na rua com sua esposa, seus dois filhos e uma sogra doente.

Encontrar moradia e um médico estão entre os principais desafios, confirmam as poucas ONGs que acompanham os recém-chegados.

"Vamos torcer para que o papa inspire os búlgaros com uma atitude positiva em relação aos refugiados", disse a presidente do Conselho de Mulheres Refugiadas, Linda Auanis.

Com capacidade para 300 pessoas, o campo de Vrajdebna, que será visitado pelo papa, acolhe apenas cerca de 60 requerentes de asilo, principalmente da Síria e do Iraque. Os outros quatro centros de recepção no país têm cerca de 75% de sua capacidade ociosa.


Fronteira fechada

O número de chegadas de migrantes à Bulgária diminuiu consideravelmente desde 2016, com o abrandamento do fluxo da Turquia e com a construção de uma cerca ao longo da fronteira de 274 quilômetros compartilhada por ambos os países.

As autoridades búlgaras afirmam terem evitado a chegada de 5.000 migrantes em 2018 e quase o mesmo número desde o começo do ano. Com frequência, o governo é acusado de violar os direitos das pessoas de buscar asilo.

Enquanto a grande minoria turca (cerca de 10% da população) resultante do longo domínio otomano sobre a Bulgária é integrada e representada politicamente, a chegada dos muçulmanos do Oriente Médio é rejeitada tanto pelo governo de direita e seus aliados nacionalistas quanto pela oposição socialista.

Até mesmo a Igreja Ortodoxa a vê como uma "ameaça à estabilidade do Estado" e ao "equilíbrio étnico".

O chefe de Estado Roumen Radev, próximo dos socialistas, garantiu ao papa no domingo que "a sociedade búlgara não tolera o racismo".

"Uma propaganda política amoral tem como alvo grupos marginais", incluindo migrantes, apresentados como peso, ou como vetores de ideias radicais, denuncia Dessislava Petkova, do Departamento de Migração da ONG católica Caritas.

Assim, uma família síria acolhida em 2017 na cidade de Belene (norte), por iniciativa de um padre católico, Paolo Cortesi, teve de deixar a localidade sob pressão de manifestantes nacionalistas. O padre foi ameaçado de morte.

Outra comunidade recebeu nesta segunda o apoio do papa: a cidade predominantemente católica de Rakovski, exceção neste país ortodoxo, na qual os católicos representam menos de 1% da população.

Cerca de 250 crianças receberam sua primeira comunhão na presença do papa nesta cidade de 17.000 habitantes, localizada a 160 quilômetros de Sofia.

"Será uma lembrança inesquecível para eles", disse o prefeito Pavel Gudzherov.

No fim da tarde, o papa voltará para Sofia para uma reunião inter-religiosa "para a paz".

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