postado em 22/05/2019 04:08
Passados pouco mais de dois anos da eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, sob suspeita de uma consistente intervenção cibernética da Rússia, inclusive com o uso maciço de notícias falsas ; as fake news ;, as autoridades da União Europeia (UE) temem que o mesmo esquema tumultue a reta final da campanha para as eleições do Parlamento Europeu, a partir de amanhã, nos 28 países-membros. Às vésperas do pleito, a UE busca coordenar as iniciativas dos governos nacionais e aumenta a pressão sobre as redes sociais, como Facebook ou Twitter, principais vetores da desinformação.
;Existem forças externas antieuropeias que tentam influir nas decisões democráticas dos europeus;, alertou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, preocupado com eventuais ;ingerências;, sem mencionar suspeitos nominalmente. Outros dirigentes, porém, identificam sem rodeios o Kremlin como líder da tentativa de manipular a opinião pública com a distribuição de notícias falsas. É o caso de Andrus Ansip, vice-presidente da Comissão Europeia (CE, braço executivo do bloco), para quem ;existem provas; da ação de Moscou.
Desde as migrações até a corrupção das elites, passando por todo tipo de complôs, a desinformação tem seus temas favoritos ; quase sempre, acompanhando os movimentos chamados populistas ou de extrema-direita. As notícias falsas aproveitam a rapidez na distribuição e o sucesso na internet dos conteúdos sensacionalistas, assim como a desconfiança reinante em relação às instituições e à imprensa, uma ;praga invisível;, nas palavras da comissária Mariya Gabriel. Encarregada na CE da pasta de Economia Digital, ela escreveu em um recente relatório que a difusão de mentiras ;se mistura na vida de nossos cidadãos e influencia nossas opiniões e decisões;.
No esforço de coordenar as ações para proteger as eleições do Parlamento Europeu, que serão realizadas entre amanhã e domingo, a CE fixou algumas linhas de atuação e pediu apoio às empresas jornalísticas que considera idôneas, na forma da verificação sistemática dos dados e das notícias que circulam nas redes. Em março, o comando da UE lançou um ;sistema de alerta rápido; para que os países compartilhem ;em tempo real; as informações de que disponham sobre ;tentativas coordenadas de atores estrangeiros para manipular; o debate democrático.
Em Bruxelas, a diplomacia europeia, por meio do Serviço Europeu de Ação Exterior (Seae), foi à luta com uma equipe de 15 funcionários encarregados de detectar e analisar as campanhas de desinformação contra o bloco. O site euvsdisinfo.eu afirma ter desmascarado mais de 5 mil falsas notícias, vinculadas principalmente à Rússia, mas os meios dessa unidade são modestos, e seu enfoque levanta dúvidas.
Em um estudo recente sobre a ;guerra da informação;, Paul Butcher, do centro de reflexão European Policy Center, afirma que ;dar um papel de destaque ao Seae ou aos serviços de segurança dos governos pode ser contraproducente;. Isso pode, na opinião do especialista, alimentar a ideia ;de censura ou de guerra cultural entre o ;establishment; e o ;povo;; ; justamente um dos motores das fake news, assinala Butcher, que defende a participação da sociedade civil, das ONGs e do setor privado.
Nos últimos meses, as autoridades destacaram a responsabilidade das redes sociais, como Facebook ou Twitter. A colaboração poderia vir na forma de leis, como na França, ou de um ;código de boas práticas;, como o lançado em 2018 pela CE. ;De forma voluntária, a indústria se compromete com uma ampla gama de medidas, que vão desde a transparência na publicidade política até o bloqueio de contas falsas;, explica Mariya Gabriel, que comemorou a ;atenção mundial; dispensada ao tema.
A iniciativa, que também implica reduzir as ações de desinformação, produziu alguns resultados, mas continua longe do objetivo, segundo o último informe, publicado em março pelo Executivo da UE. ;A Europa está em chamas e as plataformas sociais trazem pistolas d;água para combater o fogo;, lamenta a organização Avaaz, que pede a Bruxelas a adoção de medidas vinculantes, e não apenas de um marco voluntário.
;Existem forças externas antieuropeias que tentam influir nas decisões democráticas dos europeus;
Donald Tusk,presidente do Conselho Europeu