postado em 22/05/2019 04:08
O contato com a natureza durante a infância pode gerar benefícios à saúde mental na idade adulta, preservando indivíduos de males como depressão e ansiedade. Pesquisadores do Instituto Barcelona para a Saúde Global (ISGlobal) identificaram essa relação preventiva ao avaliar dados de quase 3.600 adultos moradores de quatro cidades europeias: Barcelona (Espanha), Doetinchem (Holanda), Kaunas (Lituânia) e Stoke-on-Trent (Reino Unido). O resultado do trabalho foi divulgado ontem, no International Journal of Environment Research and Public Health.
Wilma Zijlema, pesquisadora do ISGlobal e coordenadora do estudo, ressalta que as conclusões ;mostram a importância da exposição infantil aos espaços naturais para o desenvolvimento de uma atitude que valoriza a natureza e um estado psicológico saudável na vida adulta;. A especialista lembra que 73% da população da Europa vive em áreas urbanas com acesso frequentemente limitado a espaços verdes. Em muitos outros países fora do continente, o cenário não é diferente. ;Portanto, é importante reconhecer as implicações do crescimento em ambientes com limitações oportunidades de exposição à natureza;, acrescenta.
Os autores do estudo defendem que o contato com a natureza passe a ser uma preocupação de autoridades de saúde pública e que, de alguma forma, seja considerada um cuidado essencial para o desenvolvimento infantil, como a vacinação. ;Muitas crianças levam um estilo de vida em ambientes fechados. Por isso, seria desejável que os ambientes naturais estivessem disponíveis, fossem atraentes e seguros. Fazemos um apelo aos formuladores de políticas para melhorar a disponibilidade de espaços naturais para elas;, frisa Mark Nieuwenhuijsen, diretor da Iniciativa de Planejamento Urbano, Meio Ambiente e Saúde da ISGlobal.
Do quintal à praia
A exposição a ambientes externos naturais tem sido associada a vários benefícios à saúde, incluindo melhor desenvolvimento cognitivo e físico. Porém, segundo o ISGlobal, poucas pesquisas exploraram o impacto dessa experiência ao longo da vida e a maioria considera mais espaços verdes (jardins, parques urbanos etc.) do que espaços azuis (lagoas, rios, lagos e praias, por exemplo).
Desta vez, a equipe usou um questionário com perguntas referentes à frequência com que adultos, quando crianças, frequentaram espaços naturais intencionais, como ir a um parque natural, e os espaços não intencionais, por exemplo, brincar em um quintal. Os participantes também responderam sobre o contato com a natureza na vida adulta: se sentem satisfeitos com essa experiência e a importância que dão aos espaços verdes.
Quanto à saúde mental, testes psicológicos aplicados sinalizaram a existência de nervosismo e sentimentos de depressão ao longo das quatro semanas anteriores, bem como a vitalidade ; níveis de energia e fadiga ; dos respondentes. Por fim, imagens de satélite ajudaram os cientistas a avaliar o verde circundante à área residencial dos participantes da pesquisa.
Os resultados mostram que os adultos menos expostos a espaços naturais durante a infância tiveram escores mais baixos em testes de saúde mental, comparados àqueles com maior exposição. A equipe constatou ainda a vivência em áreas verdes pode interferir na forma com que os indivíduos valorizam essa experiência. Segundo Myriam Preuss, primeira autora do estudo, ;em geral, os participantes com menor exposição na infância à natureza deram menor importância aos ambientes naturais;. Não foi encontrada associação entre a exposição na infância e vitalidade na vida adulta.
Brasileiros concentrados
Apenas 0,63% do território brasileiro concentra 160 milhões de pessoas, o equivalente a 84,3% da população do país, segundo um estudo da Embrapa Gestão Territorial (SP). Entre as cidades com mais de 200 mil habitantes, Diadema, em São Paulo, é a área urbana mais densamente povoada, com média de 13.875 moradores por quilômetro quadrado.
No Distrito Federal, a relação é de 2.793.