Mundo

Começa o duelo

Até domingo, cerca de 400 mihões de eleitores em 28 países votam para renovar o parlamento do bloco continental. Pesquisas apontam o crescimento da ultradireita, mas o primeiro resultado, na Holanda, premiou a centro-esquerda

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 24/05/2019 04:27
Partidários do Partido do Trabalho holandês comemoram o inesperado primeiro lugar nas eleições europeias: desapontamento para os eurocéticos


Uma surpresa, embora em pequena escala, marcou ontem o primeiro de quatro dias de votação para a renovação do Parlamento Europeu. Até domingo, cerca de 400 milhões de eleitores dos 28 países-membros da União Europeia (UE) estarão habilitados a escolher os 751 deputados que formarão o Legislativo do bloco continental, com a expctativa de crescimento sensível da extrema-direita nacionalista que se opõe à integração e promete ;mudar por dentro; a estrutura comunitária. As eleições são conduzidas sob o impacto do prolongado impasse em torno da saída do Reino Unido, que deveria ter deixado a UE no fim de março, mas não concluiu um acordo para o ;divórcio; ; e a indefinição do Brexit é vista como um dos fatores possivelmente decisivos para o resultado final.

O primeiro dia de votação teve como destaque a inesperada vitória, na Holanda, do Partido do Trabalho (PvdA, centro-esquerda), cujo líder é Frans Timmermans, atual vice-presidente da Comissão Europeia (CE, braço executivo da UE) e candidato do bloco social-democrata a suceder o luxemburguês Jean-Claude Juncker no comando da comissão. Contrariando as expectativas, o PvdA liderou a votação e caminhava para conquistar cinco das 26 cadeiras reservadas à Holanda no parlamento de Estrasburgo, à frente do Partido da Liberdade (VVD, ultradireita), com quatro vagas, e do Foro da Democracia (FvD, liberal), do premiê Mark Rutte, com três.

Com a maior parte do eleitorado chamado às urnas no domingo, o primeiro dia teve como um dos destaques o Reino Unido, que só participa do processo por não ter conseguido formalizar o Brexit em tempo. Com o cargo por um fio (leia abaixo), a premiê Theresa May saiu para votar consciente de que o Partido Conservador teria um resultado catástrófico. Nas últimas pesquisas, os correligionários de May apareciam com 7% das intenções de voto, em uma constrangedora quinta colocação, atrás inclusive dos ecologistas. A situação não parecia muito melhor para a oposição trabalhista, que aposta em voltar ao governo com a esperada queda de May, mas não conseguia passar do terceiro lugar, com 13%. O recém-fundado Partido do Brexit, de Nigel Farrage, artífice do referendo que decidiu pela saída da UE, em 2016, liderava as pesquisas, com 39%, seguido de longe pelos liberal-democratas, com 19%.

Se Theresa May parece ter enfrentado a última batalha à frente dos conservadores britânicos, com a perspectiva de um revés histórico, as eleições europeias serão um marco para outras duas mulheres que marcaram o cenário político nos dois países dominantes do bloco. Na Alemanha, a chanceler Angel Merkel, que prepara a aposentadoria ao fim ddo atual mandato, conseguiu manter como primeira força política do país a União Democrata Cristã (CDU). A despeito do crescimento da Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita), Merkel e os aliados do Partido Social Democrata (SPD) caminham para manter as primeiras posições, mesmo com a perda de cadeiras.


França
Uma batalha renhida se anuncia para o domingo, na França, entre o centrista liberal República em Marcha REM), do presidente Emmanuel Macron, e a Reunião Nacional (RN, ultradireita), de Marine Le Pen. Derrotada por Macron no segundo turno da disputa presidencial, em 2017, em uma base de dois terços dos votos contra um terço, a líder direitista comandou o rebatismo do partido, antes chamado de Frente Nacional (FN), e aposta em repetir o desempenho das eleições europeias de 2014, quando a FN obteve 25% dos votos e apareceu pela primeira vez como a primeira força do país.

Le Pen chega ao fim da campanha com a RN cotada entre 22% e 24%, ligeiramente à frente da REM, de Macron. Artífice do movimento para inserir definitivamente na vida política francesa o partido fundado por seu pai, Jean-Marie Le Pen, Marine, 50 anos, celebra a ascensão de seus correligionários na vizinha Itália e em outros países-membros, em especial no Leste Europeu. ;Antes estávamos sozinhos na cena europeia, não tínhamos ninguém para mudar a UE por dentro, não tínhamos aliados;, disse a líder direitista francesa. ;Mas, em questão de meses, várias forças políticas ganharam peso de uma forma espetacular.;



;Estávamos sozinhos, não tínhamos aliados. Mas, em questão de meses, várias forças políticas ganharam peso;

Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa



751
Total de deputados que serão eleitos para o Parlamento Europeu



Análise da notícia

À sombra
do Brexit


; Silvio Queiroz

O prolongado impasse no Reino Unido em torno dos termos em que o país deixará a União Europeia (UE) parece ter se tornado em fator de peso no ânimo dos eleitores do continente, mas em sentido contrário ao esperado há três anos. Quando a maioria dos britânicos chocou o mundo com a decisão pelo Brexit, em 2016, a extrema-direita eurocética apostou alto. A ideia era que se seguiriam o Frexit (a saída da França), o Italexit (Itália) e o Nexit (Holanda).

Hoje, os principais expoentes do campo anti-UE nos diversos países moderaram o discurso: em vez de pregar o desmanche da UE, entrou em campanha para mudar o bloco ;por dentro;. Sob essa bandeira, a francesa Marine Le Pen e o italiano Matteo Salvini foram ao palanque no esforço de levar seus partidos à posição de primeira força eleitoral no país.

O primeiro resultado conhecido, na Holanda, decepcionou os eurocéticos, que ficaram atrás da centro-esquerda. Mas, ainda que em versão moderada, a direita chamada de ;populista; deve crescer e confirmar a condição de terceira força no novo Parlamento Europeu, em condições de influir nas principais decisões ; começando pela escolha do próximo presidente da Comissão Europeia.

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