postado em 24/05/2019 04:27
A primeira-ministra Theresa May saiu para votar nas eleições europeias, ontem, com o marido, sabendo que seus dias à frente do governo britânico estão contados. Na noite de ontem, ainda sem conhecer as tendências do resultado, a expectativa era de que a líder do Partido Conservador, perfilado para uma derrota histórica, anunciaria hoje, possivelmente, a data em que deixará o cargo. A disputa pela liderança dos tories, que representa no atual parlamento a chefia do governo, deve começar oficialmente em 4 ou 5 de junho.
May foi às urnas depois de amargar mais uma derrota no difícil caminho para conduzir o Brexit, o processo pelo qual o Reino Unido deixará a União Europeia (UE). O governo desistiu de divulgar ontem, como tinha anunciado, a nova proposta da premiê para o acordo de ;divórcio;, costurada nos últimos dias, após três tentativas fracassadas. Diante da resistência antecipada dentro das próprias fileiras conservadoras, o gabinete informou que o projeto não será publicado antes de 4 de junho, quando deverá começar o debate da proposta na Câmara dos Comuns.
A nova proposta de May, anunciada na terça-feira e detalhada em plenário no dia seguinte, inclui a possibilidade de que os deputados convoquem um novo referendo sobre o Brexit ; o que contraria os setores governistas pró-Brexit. Também possibilita que o parlamento opte por uma união alfandegária temporária com a UE e por garantias sobre o direito dos trabalhadores e a proteção do meio ambiente, posições defendidas pelo Partido Trabalhista, a principal força de oposição.
As mudanças anunciadas não bastaram, porém, para convencer o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, que considerou a nova proposta ;mal integrada; e ;sem garantias;. ;Pode ser que a retórica tenha mudado, mas ela (May) não cumpriu o acordo;, afirmou. ;É pouco mais que uma versão remendada do acordo rejeitado três vezes.;
Mais importante que a rejeição de Corbyn foi a reação de Andrea Leadsom, conservadora pró-Brexit, que renunciou à posição de ministra para Relações com o Parlamento. ;Houve compromissos desagradáveis ao longo de todo o caminho, mas sempre mantive meu apoio e minha lealdade;, escreveu Leadsom, em carta eendereçada à premiê. Com a apresentação da nova proposta, porém, a política conservadora admite que ;deixou de acreditar que a nossa estratégia atende aos resultados do referendo de 2016;.
May assumiu a chefia do governo justamente após a votação, em que 52% dos britânicos aprovaram a saída do país da UE, contra a vontade do então premiê, o conservador David Cameron. Ao fim de mais de dois anos de negociações, May não conseguiu aprovar no parlamento o acordo de separação fechado com Bruxelas. Teve de pedir duas vezes o adiamento do Brexit, que deveria ter sido efetivado em 29 de março, e foi remarcado para 31 de outubro.
A demora obrigou a premiê, contra a própria vontade, a organizar a eleição dos representantes britânicos no Parlamento Europeu ; com projeções desanimadoras para os conservadores. Ela ainda aposta na possibilidade de resolver a questão antes que os eleitos tomem posse, no início de julho, mas para isso terá de aprovar o acordo antes do recesso parlamentar, no fim de junho, caso consiga se manter no cargo até lá.
;Quanto mais ela aguenta?, perguntava ontem, na capa, o jornal Daily Express, que estampava uma foto da premiê no carro oficial, com lágrimas nos olhos. ;May está prestes a partir após o fiasco de Brexit;, manchetou o The Sun.