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Fósseis indicam parceria para a caça

Correio Braziliense
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postado em 26/05/2019 04:08
Há 11.500 anos, no que é hoje o nordeste da Jordânia, o homem começou a conviver com cães. Provavelmente, porque os animais passaram a ajudá-los na caça. É o que mostra uma pesquisa dinamarquesa, que teve como base a análise de uma série de fósseis encontrados na região chamada Shubayqa 6. Estudando o material, os cientistas notaram um aumento curioso no número de lebres no momento em que os cães apareceram no local. Para eles, os fenômenos estão relacionados.

;O uso de cães para caçar presas menores e mais rápidas, como lebres e raposas, poderia fornecer uma explicação que está alinhada com as evidências que reunimos. A longa história do uso de cães para caçar tanto presas quanto animais maiores na região é bem conhecida e seria estranho não considerar a caça auxiliada por cães como uma provável explicação para a abundância repentina de presas menores no registro arqueológico;, detalha Lisa Yeoman, uma das autoras do estudo, publicado, em janeiro, no Journal of Anthropological Archaeology, e pesquisadora da Universidade de Copenhague.

Lisa Yeomans e seus colegas mostraram que Shubayqa 6 foi ocupada durante todo o ano, o que sugere que os cães viveram junto com os humanos, em vez de visitar o local quando não havia habitantes. ;Esses animais não foram mantidos à margem do assentamento, mas devem ter sido intimamente integrados em todos os aspectos da vida cotidiana e autorizados a vagar livremente ao redor do local, alimentando-se de ossos descartados e defecando dentro e ao redor do local. Nosso estudo sugere que os humanos valorizaram as habilidades de rastreamento e caça dos primeiros cães mais do que se sabia anteriormente;, detalha a autora.

Segundo Edgar Bione, professor do Departamento de Áreas Básicas e Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), os dados da pesquisa entram em concordância com teorias relacionadas à relação entre homens e cachorros, tema que tem sido bastante explorado por especialistas. ;Sabemos que os paliocães, nome dado a esse animal na pré-história, eram diferentes dos lobos. Eles se alimentavam mais de carcaças e, com a presença do homem, viram a oportunidade de seguir aquele grupo. Eles se aproximaram e, com isso, podem ter realizado uma série de tarefas;, frisa.

O professor ressalta que outros elementos podem estar envolvidos na ;amizade; entre as duas espécies. ;Além da caça, podemos ter outros fatores que influenciaram essa aproximação, mas, infelizmente, nunca vamos saber ao certo tudo que estava envolvido porque não temos esses dados disponíveis, podemos apenas especular.; (VS)

Assentamento neolítico
O Shubayqa 6 está situado no extremo norte do Qa ;Shubayqa, a cerca de 130 quilômetros a nordeste da capital da Jordânia, Amã. É o primeiro assentamento neolítico identificado no Deserto Negro e está sob investigação desde 2012. Estudos recentes demonstram que os assentamentos nessa região árida foram mais intensos do que se pensava anteriormente e que a área poderia sustentar grandes populações de animais e humanos.

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