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De retorno à mesa

Governantes se reúnem em Bruxelas para negociar a recomposição do comando político do bloco, após a eleição que fragmentou o parlamento continental e pôs fim à maioria compartilhada das forças de centro

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 28/05/2019 04:07
O presidente da França, Emmanuel Macron, recebe o premiê da Espanha, Pedro Sánchez: articulações em marcha pela chefia do Executivo europeu
Começa hoje em Bruxelas a remontagem do comando da União Europeia (UE), com base nos resultados conflitantes das eleições para o parlamento do bloco, concluídas no domingo. Os chefes de Estado e de governo dos 28 países-membros se reúnem no imponente complexo-sede, na capital belga, para dar a largada nas articulações em torno da primeira missão da nova legislatura da Eurocâmara ; a escolha do presidente da Comissão Europeia (CE), braço executivo do bloco. As forças políticas pró-UE respiram aliviadas, já que os populistas e ultranacionalistas, embora crescendo, ficaram aquém dos resultados esperados. Mesmo assim, as bancadas dominantes de centro-direita e centro-esquerda perderam cadeiras e terão de renegociar uma maioria com ecologistas e liberais, os grandes vencedores.

Os eleitores deram ao Partido Popular Europeu (PPE, direita clássica) 180 dos 751 eurodeputados, o que representa 37 mandatos a menos. Os social-democratas, com 146 cadeiras, perderam 40, mas mantiveram a segunda posição no plenário de Estrasburgo. Os liberais, que saltaram de 68 para 109 representantes, emergem como peças-chaves para a montagem da próxima CE, ao lado dos ecologistas, que passaram de 52 para 69. Os partidos eurocéticos e de ultradireita, que esperavam compor a terceira força do Parlamento Europeu, cresceram de uma bancada combinada de 78 deputados para um total de 112, mas não terão força para obstruir projetos ou abrir caminho para sua agenda de revisão dos tratados continentais.

;Nenhuma das ;famílias; políticas da UE tem força suficiente para impor seu candidato à presidência da CE;, explica Sébastien Maillard, do Instituto Jacques Delors. Para ele, ;o jogo está aberto; e as lideranças europeias querem jogá-lo ;sem amarras;. Na largada para a cúpula de hoje, o presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu ontem em Paris o presidente de governo (primeiro-ministro) da Espanha, Pedro Sánchez, depois de ter conversado na véspera com a chanceler (chefe de governo) da Alemanha, Angela Merkel.

Os três representam a força principal dos repectivos grupos parlamentares. Merkel e sua União Democrata Cristã (CDU), apesar do recuo sofrido nas urnas, contribuem com o maior contingente para o PPE. Macron, mesmo derrotado pela Reunião Nacional (RN, ultradireita) de Marine Le Pen, aportou de maneira significativa para o salto da Aliança dos Liberais e Democratas Europeus (Alde). Sánchez, recém-vitorioso na eleição legislativa espanhola, está entre os poucos dirigentes da social-democracia que podem comemorar avanços nas urnas.

O PPE reivindica a presidência da Comissão para seu candidato, Manfred Weber, desde que o Parlamento Europeu ;confirme, nos próximos dias;, o compromisso com o sistema pelo qual cada grupo político apresentou, em campanha, o nome que levaria para o comando do Executivo do bloco. A expectativa é de que os Socialistas e Democratas renovem a aliança mantida há décadas entre as duas forças principais da UE, mas, pela primeira vez, a maioria dependerá da adesão de ao menos mais uma das bancadas mais numerosas.

;O novo equilíbrio de poder exige um candidato a presidente da Comissão que possa construir maioria sólida;, disseram em um comunicado os liberais, que saem das urnas como a terceira força. Se o candidato do PPE não conseguir o apoio de ao menos 21 dos 28 governantes europeus, cujos países representem pelo menos 65% da população, fracassará. O social-democrata holandês Frans Timmermans e a liberal Margrethe Vestager correm por fora, mas os líderes podem designar alguém que não seja candidato ; como é o caso do francês Michel Barnier, que liderou a equipe da UE nas negociações sobre o Brexit com o Reino Unido.

Quanto aos verdes, que ascenderam para a ;primeira divisão; da política continental, o dilema será entre manter-se na oposição ou assumir o papel de compartilhar o poder e integrar uma ;grande coalizão;. ;Isso decorre da percepção da sociedade sobre a urgência do tema ambiental e do fato de que não somos mais vistos como porta-vozes de um tema só, mas como uma força de governo, capaz de agir sobre a realidade;, analisa o eurodeputado ecologista belga Philippe Lamberts.


;Nenhuma das ;famílias; políticas da UE tem força suficiente para impor seu candidato à presidência da CE;
Sébastien Maillard, analista do Instituto Jacques Delors



Cai o primeiro-ministro da Áustria


Uma aliança insólita entre a oposição social-democrata e a extrema-direita, excluída do governo da Áustria no fim de semana, sob o impacto de um escândalo de corrupção, decretou ontem a queda do primeiro-ministro Sebastian Kurz, do Partido Popular Austríaco (;VP). Somados, os 103 deputados das duas legendas aprovaram uma moção de censura no parlamento. O pivô da crise foi o ex-líder do Partido da Liberdade da Áustria (FP;), Heinz-Christian Strache, demitido por Kurz depois da divulgação de um vídeo no qual aparecia negociando com a emissária de um magnata russo contribuições de campanha. Apesar da queda do governo, o premiê demissionário sai fortalecido para as eleições antecipadas, em setembro: no domingo, o ;VP venceu as eleições europeias na Áustria, com 35% dos votos.

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