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Trump suaviza retórica

Republicano nega a intenção de mudar o regime iraniano, propõe novo acordo nuclear e acena com postura conciliatória em relação à Coreia do Norte. Teerã acusa Washington de causar tensões na região

Correio Braziliense
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postado em 28/05/2019 04:08
O presidente Donald Trump se encontra pela primeira vez com o imperador Naruhito (D): banquete de Estado no Palácio Imperial, em Tóquio
Três dias depois de anunciar o envio de 1.500 soldados adicionais ao Oriente Médio e após ordenar que o porta-aviões USS Abraham Lincoln rume para o Golfo Pérsico, acompanhado de uma força de bombardeiros B-52, o presidente dos EUA, Donald Trump, assegurou que não almeja uma transição de governo no Irã. ;Não buscamos uma mudança de regime, quero que isto fique claro. Estamos tentando que não existam armas nucleares;, afirmou. O republicano descartou a intenção de prejudicar Teerã e se mostrou inclinado a debater novo acordo nuclear. ;Se quiserem conversar, vamos conversar;, disse.

Trump também acenou com uma postura conciliatória em relação ao ditador norte-coreano, Kim Jong-un, apesar de dois recentes testes de mísseis de curto alcance por parte de Pyongyang. ;Kim buscar criar uma nação com grande força econômica. (;) Sabe que com o nuclear só podem ocorrer coisas ruins. Ele é muito inteligente, entende bem;, declarou, em visita ao Japão. Trump se tornou o primeiro mandatário estrangeiro a se reunir com o novo imperador do Japão, Naruhito, que ascenceu ao Trono de Crisântemo no início deste mês, depois que o pai, Akihito, abdicou do posto.

A reação do Irã às palavras de Trump foram quase imediatas e nada amistosas. O regime teocrático islâmico acusou os EUA de ;prejudicar o povo iraniano e causar tensões na região;. ;Ações, não palavras, mostrarão as intenções de Donald Trump;, escreveu no Twitter o ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif. O chanceler lembrou que, há tempos, o aiatolá Ali Khameni ressaltou que ;nós não buscamos possuir armas nucleares; e chegou a pronunciar uma fatwa (decreto religisoso), na qual proíbe a existência delas. Zarif advertiu que ;o crescimento da presença norte-americana em nossa região é muito perigoso, além de ameaça à paz e à segurança internacionais que deve ser enfrentada;.

Matthew Bunn, professor da Faculdade de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, demonstra ceticismo ante a suavização do discurso de Trump. ;Infelizmente, a campanha de ;pressão máxima; imposta pelos EUA ao Irã é improvável de levar a negociações em breve. Pelo contrário, a hostilidade crescente e a movimentação militar no Oriente Médio criam um sério risco de deflagração de uma guerra;, explicou. ;Às vezes, a percepção de que a alternativa pode ser a guerra ajuda os países a trabalharem por soluções diplomáticas. Neste ponto, me parece que, na política doméstica iraniana, qualquer acordo sob essas circunstâncias seria visto como uma humilhante concessão à pressão estrangeira.;

Trump vê com simpatia a ideia de que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, desempenhe o papel de mediador com Teerã. Segundo a imprensa japonesa, o premiê estaria considerando a possibilidade de viajar ao Irã. ;Veremos o que acontece. Sei que o primeiro-ministro (Abe) é próximo dos líderes iranianos. Ninguém quer que ocorra algo terrível, especialmente eu;, comentou o norte-americano.

Pyongyang
O premiê japonês, Shinzo Abe, admitiu que pretender ter ;conversas francas; com Pyongyang sobre a política nuclear da Coreia do Norte e sobre japoneses sequestrados pelo regime. Segundo a emissora britânica BBC, tanto Trump quanto Abe têm ambições de ver o país de Kim Jong-un desnuclearizado. Ontem, o norte-americano surpreendeu ao apoiar Kim nas críticas ao democrata Joe Biden, o potencial adversário de Trump nas eleições presidenciais de 2020. ;Kim Jong Un declarou que Joe Biden é um indivíduo com baixo quociente de inteligência. Provavelmente é, em virtude de sua experiência, acredito que concordo com ele (Kim) nisto;, disse o republicano.

Ontem foi o primeiro dia da agenda oficial de Trump em Tóquio, depois de um fim de semana regado a sumô, golfe e restaurantes. À noite, o presidente dos EUA chegou ao palácio imperial japonês acompanhado da mulher, Melania Trump, para um banquete de Estado. O imperador Naruhito e o visitante pronunciaram um brinde, com o norte-americano ensaiando algumas palavras em japonês.


Vestidos para se defender


Com trajes para responder a ameaças químicas, socorristas da Coreia do Sul participaram ontem do início de uma simulação antiterror conhecida como ;Exercício Ulchi Taeguk;. Durante quatro dias, mais de 480 mil civis se envolveram no evento, que busca ampliar as capacidades de resposta do país ante ameaças à segurança. Nas simulações, o Exército sul-coreano também comandará um exercício para fortalecer a prontidão em caso de provocações bélicas. ;O que estamos encenando é um exercício com características defensivas;, declarou o porta-voz do Ministério da Defesa, Choi Hyun-soo.


;Não buscamos uma mudança de regime, quero que isto fique claro. Estamos tentando que não existam armas nucleares;
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos


Eu acho...

;Não há virtualmente nenhuma chance de o Irã aceitar as demandas extremas feitas pelo governo Trump ; inclusive a completa eliminação de seu programa nuclear. A hostilidade e a desconfiança que as políticas de Trump têm construído tornarão muito difícil alcançar um novo acordo. Depois que Trump rasgou a última rodada de promessas dos EUA, o Irã tem poucas razões para acreditar em quaisquer promessas feitas por Washington.;


Matthew Bunn, professor da Faculdade de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard

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