postado em 29/05/2019 04:28
O quadro fragmentado que se formou com a eleição da nova legislatura do Parlamento Europeu, encerrada no domingo, se refletiu ontem na primeira reunião de cúpula em que os governantes dos 28 países da União Europeia (UE) começaram a discutir a distribuição dos cargos principais no bloco. Sintomaticamente, as divergências ficaram aparentes justamente entre os líderes dos dois carros-chefes do processo de integração continental: a chanceler (chefe de governo) da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, expuseram abordagens diferentes para a escolha do novo presidente da Comissão Europeia (CE, braço executivo da UE), considerado o mais importante entre os postos a serem preenchidos pelos eurodeputados.
Cinco anos atrás, bastou um acordo para a divisão dos principais cargos entre o Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita) e os socialistas, detentores das duas maiores bancadas e, somados, da maioria absoluta no Parlamento de Estrasburgo. Neste ano, porém, embora mantenham as posições, ambos perderam dezenas de cadeiras, e dependerão de acordos com outras forças para controlar o Legislativo do bloco. Com 177 dos 751 eurodeputados, a centro-direita reclama para seu candidato, o alemão Manfred Weber, a presidência da CE, mas encontrou ontem as primeiras resistências de um dos possíveis aliados, o grupo dos liberais ; um dos que mais cresceram nas urnas, ao lado dos ecologistas e dos eurocéticos de direita.
;Hoje, teremos uma primeira discussão na qual eu, como membro da família do PPE, apoiarei, é claro, Manfred Weber;, anunciou Merkel na chegada. A chanceler mencionou o sistema conhecido pela palavra alemã spitzenkandidat (algo como ;candidato de topo;), pelo qual cada um dos grupos políticos do continente apontou previamente um nome para a chefia da CE. O princípio foi ratificado pelos socialistas, que elegeram 149 deputados, mas esbarrou na relutância do presidente francês, principal expoente dos liberais, que conquistaram 107 cadeiras e se apresentam como um das opções para completar a maioria, ao lado dos verdes, que ocuparão 69 vagas.
;Devemos escolher para que estejam à frente da UE as mulheres e os homens que tenham a experiência e a credibilidade que lhes permitam assumir essas missões e apoiem plenamente as instituições;, afirmou Macron. Ele disse que considerava prematuro falar em nomes para presidir a CE, embora tenha citado três ; mas nenhum deles era o escolhido pelo PPE. No Parlamento Europeu, a bancada liberal se opôs a um projeto de declaração que reafirmava o princípio do spitzenkandidat, embora tenham apresentado um durante a campanha, a dinamarquesa Margrethe Verstager, à qual reafirmaram o apoio. Os socialistas lançaram o holandês Frans Timmermans, cujo nome foi defendido ontem pelo premiê espanhol, Pedro Sánchez, que saiu das urnas como o o governante mais forte do bloco.
Negociações
Embora não seja o único cargo-chave a ser preenchido nos próximos meses (veja quadro), o de presidente da CE é o ponto de partida para a negociação dos demais e da componentes da comissão, em um processo que, tradicionalmente, equilibra a representatividade dos grupos políticos e dos países-membros. ;O Parlamento Europeu tem uma posição muito clara;, disse à imprensa seu atual presidente, o italiano Antonio Tajani (PPE). ;Quem se apresentou diante dos eleitores, recebeu o seu apoio, deve estar presente nesse posto;, completou.
A designação formal do presidente da CE será decidida em uma reunião de cúpula marcada para 21 e 22 de julho. Pelas normas da UE, o escolhido deve contar com o apoio de pelo menos 21 dos 28 líderes, cujos países precisam representar 65% da população do bloco. ;Assim foi da última vez e um dos candidatos principais se tornou presidente da Comissão. E assim será desta vez, novamente;, garantiu Junker.
;Hoje, teremos uma primeira discussão na qual eu, como membro da família do PPE, apoiarei, é claro, Manfred Weber;
Angela Merkel, chanceler da Alemanha
;evemos escolher para que estejam à frente da UE mulheres e homens que tenham experiência e credibilidade;
Emmanuel Macron, presidente da França
As joias da coroa
Esses são os principais cargos em jogo na recomposição do comando político da União Europeia
Comissão Europeia
A presidência da CE, braço executivo do bloco, é o posto mais importante em disputa, e os diferentes grupos políticos do Parlamento Europeu foram às urnas apontando candidatos, mas a indicação efetiva cabe aos chefes de Estado e governo dos 28 países-membros, respeitando a correlação de forças no plenário. O mais provável é que o novo titular saia do Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), que mantém a maior bancada. O escolhido substituirá o ex-premiê de Luxemburgo Jean-Claude Juncker.
Conselho Europeu
O ex-premiê polonês Donald Tusk deixa a função, que ocupa desde 2014. O presidente do Conselho Europeu comanda as reuniões de cúpula da UE, determina a agenda política do bloco e costura soluções de consenso para as questões de alcance comunitário. A escolha do sucessor faz parte do equilíbrio de poder entre forças políticas e países-membros.
Banco Central Europeu
A presidência do BCE dá ao ocupante um dos papéis centrais na condução da política monetária comum e na garantia da estabilidade do euro. Ganhou relevo nos desdobramentos da crise econômica de 2008/2009, que teve impacto profundo sobre Grécia, Espanha, Portugal e Itália e pôs em xeque a moeda comum. O novo ocupante do cargo substituirá o italiano Mario Draghi.
Política externa
Outra italiana, a ex-chanceler Federica Mogherini, deixará o posto de alta representante da UE para Política Externa e Defesa, que se sobrepõe a da Direção Geral de Relações Exteriores da CE. O chefe da diplomacia europeia, por tradição, atua em questões-chave da política global, como a resolução de conflitos armados. Mogherini teve papel de destaque nas negociações nucleares com o Irã.
Bate-boca eleitoral
A líder da União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, Annegret Kramp-Karrenbauer, protestou contra um vídeo no qual youtubers acusam o governo de coalizão com o Partido Social Democrata (SPD), de ter descumprido compromissos ambientais. ;Se 70 jornais pedissem juntos, a dois dias da eleição, o voto contra a CDU e o SPD, isso seria manipulação;, comparou. A legenda de Merkel, manteve o primeiro lugar, mas os social-democratas perderam a posição para os verdes.