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Trump descarrega fúria sobre Mueller

Ao comentar declarações do procurador especial que comandou as investigações sobre suposta interferência russa nas eleições de 2016, presidente o acusa de "tendencioso" e, ao mesmo tempo, assegura que o relatório comprova a sua inocência

postado em 31/05/2019 04:06
Donald Trump saúda militares em cerimônia de graduação da Academia da Força Aérea, em Colorado Springs: magnata comemora fim do inquérito
Donald Trump rompeu o silêncio sobre a investigação da suposta trama russa para influenciar as eleições norte-americanas de 2016. Antes de embarcar para o Colorado, o presidente republicano escolheu um alvo: o procurador especial Robert Mueller, responsável pelo inquérito. ;Acho que ele é totalmente conflituoso. Porque, vocês sabem, ele queria ser o diretor do FBI (a polícia federal dos EUA), e eu disse ;não;. (;) Mueller jamais deveria ter sido escolhido, pois queria o cargo do FBI e não o obteve. No dia seguinte, foi escolhido procurador especial;, afirmou a jornalistas, nos jardins da Casa Branca. ;Mueller é uma pessoa totalmente conflituosa, acho que ele é um verdadeiro ;Trumper jamais; (em alusão a simpatizantes de Trump);, acrescentou. As palavras do magnata foram uma resposta ao primeiro pronunciamento público de Mueller desde o início do inquérito. Anteontem, o procurador especial afirmou que não tem ;a confiança de que o presidente claramente não cometeu um crime; e instou, ainda que de forma subliminar, o Congresso a iniciar um processo de impeachment.

Os ataques prosseguiram por meio do Twitter. ;Robert Mueller veio ao Salão Oval (com outros candidatos em potencial) buscando ser nomeado diretor do FBI. Ele havia estado nessa posição por 12 anos, eu disse a ele ;Não;. No dia seguinte, ele foi nomeado procurador especial. Um total conflito de interesses. Legal!”, escreveu o presidente, que também comentou as acusações de envolvimento dos russos nas eleições que o sagraram vitorioso. ;Rússia, Rússia, Rússia! É tudo o que você escuta no começo desse trote de caça às bruxas... Agora, a Rússia desapareceu porque eu não tive nada a ver com a Rússia me ajudando a ser eleito. Foi um crime que não existiu. Então, agora, os democratas e sua parceira, a mídia de notícias falsas, dizem que ele (Robert Mueller) lutou contra esse crime falso que não existiu, essa horrível acusação falsa;, acrescentou.

Para Allan Lichtman, historiador da American University (em Washington), Trump sente o ;calor; da investigação de Mueller. ;Por isso, ele provoca os democratas a não lançarem um processo de impeachment contra ele, alegando falsamente que deseja uma luta no Congresso;, explicou ao Correio. O especialista classifica de contraproducente a postura de Trump, ao partir para a ofensiva contra o procurador especial. ;Isso somente tornará uma abertura de impeachment mais provável. Mesmo que o presidente não seja condenado pelo Senado, toda a publicidade negativa pode prejudicar sua posição ante a opinião pública;, observa Lichtman. Ele cita, como exemplo, o Caso Watergate, ao lembrar que as audiências de Richard Nixon no Capitólio contribuíram para que a popularidade do então presidente despencasse de 67% para 25%.

Defensiva
Mark J. Rozell, reitor da Faculdade Schar de Política e Governo da George Mason University (em Fairfax, na Virgínia), disse à reportagem que a retórica de Trump indica que o presidente se posiciona, na realidade, na defensiva. ;A impressão é de que ele tem motivos para temer as consequências políticas dos comentários públicos de Mueller. Quando o presidente fica sem respostas confiáveis, ele tipicamente recorre ao ataque contra o caráter daqueles que o criticam;, comentou. ;No entanto, Trump se ateve a declarações conflitantes ; a certa altura, afirmou que o Relatório Mueller o inocenta, depois tachou o procurador de tendencioso.;

Segundo Rozell, a reputação de integridade profissional de Mueller coloca em xeque qualquer ataque à sua pessoa. ;Trump pode estar sentindo a pressão de um possível impeachment, mas pode ser politicamente auxiliado por um inquérito, pois isso atua em sua narrativa que os democratas nada têm a oferecer a não ser alegações de irregularidades e investigações;, avaliou o reitor. Ele aposta que os democratas estão cientes de que, politicamente, um processo de impeachment tão próximo da eleição pode motivar a base eleitoral de Trump e ampliar as chances de reeleição em 2020.

Advogado especialista em segurança nacional, Bradley P. Moss afirmou que o republicano tenta fazer duas coisas antagônicas: alega que a equipe de Mueller foi uma ávida opositora; ao mesmo tempo, declara que o relatório o inocenta. ;O fato é que Mueller e seus assessores fizeram uma investigação extensa e abrangente. Eles seguiram as acusações apropriadas, e o comportamento do presidente fala por si;, disse ao Correio. Moss crê que as declarações de Trump foram claramente desenhadas para impulsionar a narrativa da mídia, estimular a base política republicana e amenizar o próprio ego.


Eu acho...

;A resposta de Donald Trump a Robert Mueller mostra o quanto o presidente pouco considera a verdade e a consistência. Quando Trump pensa que pode vender a ideia de que Mueller o inocentou, ele elogia o procurador especial e a investigação. Quando parece que as conclusões da investigação o incomodam, ele se posiciona no ataque contra Mueller.;


Allan Lichtman, historiador da American University (em Washington)


Republicano garante que não escondeu este navio


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou ontem que não se importava com o fato de um destróier da Marinha norte-americana ter o nome do falecido senador John McCain, seu rival político, e garantiu que não ordenou que o navio fosse escondido durante sua viagem ao Japão. ;Não sei o que aconteceu, não estive envolvido. Não fiz isso;, disse Trump aos jornalistas na Casa Branca, ao ser consultado sobre o incidente reportado pela imprensa de que o governo pediu, por ocasião da recente visita do presidente ao Japão, que o destróier USS McCain (foto) fosse escondido de sua vista. ;Não era um simpatizante de John McCain e nunca serei;, acrescentou Trump. ;Mas certamente não me importo se há um barco com o nome de seu pai.; Em reparos na base americana de Yokosuka, onde Trump pronunciou um discurso na terça-feira a bordo de outra embarcação, o navio em questão estava em uma posição de difícil deslocamento. O nome foi, então, escondido por uma lona e os marinheiros liberados por um dia, segundo o Wall Street Journal. A lona foi retirada por uma razão desconhecida e uma embarcação foi deslocada para bloquear a visão do navio.

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