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Massacre de 1989: autor conta como produziu a foto do Homem dos Tanques

Imagem icônica foi captada pelo repórter fotográfico Jeff Widener, que conversou com o Correio

Rodrigo Craveiro
postado em 04/06/2019 06:00
A foto de Widener que se tornou mundialmente famosaHá 30 anos, uma foto rodou o mundo e se tornou a imagem-símbolo da resistência de estudantes ao regime do Partido Comunista Chinês. Captada por Jeff Widener, hoje com 62 anos, a fotografia se tornou conhecida como o Homem dos Tanques, e mostra um jovem chinês que impediu, sozinho, o avanço de uma fila de tanques de guerra nas proximidades da Paça da Paz Celestial, palco de um dos maiores massacres da história, que até hoje atromenta o país asiático.

À época do massacre, Widener era editor de Fotografia para o Sudeste da Ásia da agência de notícias Associated Press, baseado em Bangcoc. Hoje, mora em Hamburgo (Alemanha) e trabalha para a agência de notícias Zuma Press, em San Diego, de onde falou ao Correio sobre seu histórico registro e gentilmente enviou outras imagens que produziu nos dias de protesto estudantil (veja galeria abaixo).

O fotógrafo Jeff Widener, autor da foto do Homem dos TanquesQuando o senhor viu o homem solitário diante da coluna de tanques, o que passou pela sua cabeça?
Naquele dia, eu estava muito gripado e gravemente ferido. Na noite anterior, em 4 de junho, eu tinha sido atingido na cabeça por uma grande rocha lançada por um manifestante. Quando fiz a foto do Homem dos Tanques, eu estava muito atordoado e bastante doente. Eu também estava muito assustado, pois quase tinha morrido. Diante de tudo o que eu havia visto, a imagem de um homem diante de um tanque de guerra parecia algo normal. Não era algo incomum. Eu tinha presenciado um homem queimando vivo no chão, pessoas dentro de um ônibus fuzilado, soldados mortos. Para mim, ver um homem caminhando diante de um tanque não parecia incomum.

Então, o senhor não imaginou que sua foto seria um símbolo tão poderoso do massacre?
Não, eu realmente não pensei nisso por muitos anos. Eu sabia que era uma boa foto. Outros colegas me disseram que era uma boa foto. Sabia que países ao redor do mundo a publicariam e que era simbólica, uma imagem muito forte, a qual não desapareceria com o tempo. Muitos anos depois, eu estava em casa, navegando na internet, quando a AOL trouxe uma história sobre as dez fotos mais memoráveis da história. Eu fiquei curioso. Entre aquelas fotos, havia a da garota atingida pelo bombardeio de napalm (de autoria de Nick Ut), a do desastre do dirigível em Hindenburg, a do homem recebendo um tiro na cabeça em Saigon. Todas imagens icônicas que eu tinha visto quando criança. Então, vi uma fotografia colorida, e era o meu ;Homem dos Tanques;. Eu quase chorei. Foi uma sensação incrível, como se tivesse atingido por um raio. Foi quando percebi que tinha captado algo extraordinário.

O que mudou na sua vida após essa foto?
Eu tinha 33 anos quando fiz a foto. Recebi vários prêmios por ela. Fui finalista do Prêmio Pulitzer. Ganhei o Prêmio Chia, na Sardenha; e o Scoop Award, na França, uma espécie de Pulitzer da fotografia. Ainda recebo vários convites para palestras. Na última terça-feira, fui premiado pela Arts Foundation, de Los Angeles. O melhor prêmio que ganhei foi minha esposa, Corina, que conheci no 20; aniversário do massacre.

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