postado em 04/06/2019 04:25
O elogio à ;eterna amizade; entre os Estados Unidos e o Reino Unido nem parecia ter vindo de alguém que tinha acabado de insultar o prefeito da capital de seu maior aliado. Antes mesmo de o Air Force One aterrissar no aeroporto de Stansted, próximo a Londres, Donald Trump provocou polêmica com seus tuítes, ao atacar Sadiq Khan, o primeiro muçulmano eleito para administrar a capital britânica. ;Sadiq Khan, que, segundo todos os relatos, tem feito um péssimo trabalho como prefeito de Londres, tem sido tontamente asqueroso com o presidente visitante dos Estados Unidos, de longe o mais importante aliado do Reino Unido. Ele é um fracassado total, que deveria se focar nos crimes em Londres, não em mim;, escreveu o republicano. Sobrou até para o prefeito de Nova York, o democrata Bill De Blasio, seu potencial adversário nas eleições de 2020. ;Kahn (sic) me lembra muito de nosso estúpido e incompetente prefeito de Nova York, De Blasio, que tem feito um trabalho terrível;, acrescentou. Um porta-voz do prefeito classificou as declarações de ;um insulto infantil; e ;impróprio do presidente dos EUA;.
A mensagem ácida de Trump teria sido em resposta a um vídeo divulgado por Khan horas antes. ;Presidente Trump, se você está assistindo a isso, saiba que os seus valores e o que você defende são o completo oposto dos valores de Londres e deste país;, declarou o prefeito londrino. ;Nós pensamos que a diversidade não é uma fraqueza. A diversidade é uma força. Nós respeitamos as mulheres. E achamos que elas são iguais aos homens. (;) O que temos visto nos EUA, nos últimos anos, é um retrocesso em muito do progresso feito nas décadas anteriores;, disse. Citado por Trump, De Blasio disse que, mesmo com o republicano como protagonista, o ataque ;a um grande líder de um país aliado foi algo sórdido;. ;Temos visto tantas coisas sobre Trump, mas esta é anormal e inaceitável;, afirmou, em vídeo retuitado pelo próprio Sadiq Khan no Twitter.
Amizade
A família real britânica tentou fazer vistas grossas ante as críticas entre Trump e Khan. O norte-americano cortejou a rainha Elizabeth II, a quem qualificou de ;uma mulher formidável;, durante brinde no Palácio de Buckingham. Ao erguer a taça, Trump dedicou o gesto à ;eterna amizade de nossos povos, à vitalidade de nossas nações e ao reinado duradouro e admirável da Sua Majestade a Rainha;. Em seu discurso, Elizabeth II falou das metas e das crenças mútuas entre EUA e Reino Unido. ;Senhor presidente, enquanto olhamos para o futuro, estou confiante que nossos valores comuns e interesses compartilhados continuarão a nos unir;, disse a monarca. Ela lembrou que fez a primeira visita de Estado aos EUA a convite do general Dwight D. Eisenhower, 34; presidente norte-americano.
Ao desembarcarem do helicóptero Marine One no Palácio de Buckingham, pela manhã, Trump e sua mulher, Melania, passaram em revista a Guarda Real e foram saudados com 82 tiros de canhão ; 41 para marcar a visita e outros 41 para celebrar o 66; aniversário da coroação de Elizabeth II. Depois de um almoço privado, o casal presidencial apreciou a Coleção Real, com peças ilustrando as relações entre EUA e Reino Unido. Entre elas, estavam fotografias e documentos alusivos às visitas do rei George VI e da rainha Elizabeth aos Estados Unidos em 1939, onde foram recebidos pelo presidente Franklin Delano Roosevelt. Depois, visitaram a Abadia de Westminster, onde depositaram uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido. No fim da tarde, o príncipe Charles e Camila Parker-Bowles, duquesa de Cornualha, receberam o primeiro casal norte-americano para um chá na Clearance House. Em entrevista ao Correio, Leslie
Vinjamuri ; chefe do Programa EUA e Américas e reitora da Academia Elizabeth II do instituto Chatham House (em Londres) ; explicou que uma visita de Estado pode ser ;imensamente vantajosa; para o presidente, caso ele se saia bem. ;Em uma época na qual Trump é muito impopular em várias partes da Europa (no Reino Unido, a taxa de aprovação não chega a 21%), a visita a Londres lhe permite dizer à opinião pública americana que a relação dos dois países é forte. De fato, ela está sob forte estresse. Em muitas das questões políticas mais importantes, como Irã, clima e comércio, Washington e Londres estão em desacordo.;
Eu acho...
;As pessoas saíram às ruas para protestar contra a presença de Trump por uma razão muito simples. Os britânicos não acreditam que o presidente Donald Trump mereça uma visita de Estado. Acho que muito disso diz respeito a Trump, aos seus preconcitos e ao seu estilo, ainda mais do que suas políticas. Um dos exemplos foi o ataque ao prefeito Sadiq Khan, por meio do Twitter.;
Leslie Vinjamuri, chefe do Programa EUA e Américas e reitora da Academia Elizabeth II do instituto Chatham House (em Londres)
Banquete real
Menu requintado...
Arranjos de rosas sobre a mesa e imensos castiçais dourados. A decoração impecável no Palácio de Buckingham não destoou do requinte do cardápio. Trump, a rainha Elizabeth II e 170 convidados saborearam, na noite de ontem, filé de alabote ao vapor (peixe), acompanhado de mousse de agrião, aspargos e molho de cerefólio; cordeiro Windsor de nova estação, com recheio de ervas, legumes da primavera e molho do Porto; zibelina de morango e creme de limão verbena; e frutas frescas.
;e música eclética
Durante o banquete, os comensais apreciaram uma apresentação da Orquestra de Cordas da Condessa de Wessex. No repertório, Handel, Mozart e a canção Thinking Out Loud, do cantor britânico Ed Sheeran. A orquestra também executou trilhas sonoras de West Side Story, Chicago, Piratas do Caribe e James Bond. O concerto foi encerrado ao som das tradicionais gaitas de fole.
Mulheres de branco
Melania Trump seguiu à risca o suposto código de vestimentas para o jantar no Palácio de Buckingham: branco para todas as mulheres. A esposa de Trump usou um vestido crepe de seda marfim da Dior Haute Couture, com detalhes em tule de seda.