Chicago ; Avanços terapêuticos contra o câncer de mama foram um dos assuntos mais abordados no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, em inglês), realizado na cidade de Chicago, nos Estados Unidos. Ontem, encerramento do evento científico de cinco dias, um grupo de americanos apresentou os benefícios proporcionados pela adição da droga ribociclibe no tratamento padrão de hormonioterapia em mulheres na pré-menopausa e com tumor de mama metastático. Os testes mostraram que o medicamento aumenta por 10 meses a sobrevida das pacientes. Outra pesquisa apresentada mostrou uma ferramenta que poderá ajudar a reduzir a exposição à toxicidade durante a recuperação de cirurgias de retirada do tumor de mama.
O primeiro estudo, chamado MONALEESA-7, contou com 672 mulheres que tinham menos de 59 anos, estavam na pré-menopausa e com câncer de mama metastático positivo para receptor de hormônio HER2. Nenhuma delas havia sido previamente tratada para a doença em estágio avançado. Metade recebeu terapia hormonal e placebo. O outro grupo recebeu terapia hormonal com ribociclibe ; medicamento que pertence à classe dos inibidores de ciclina, que bloqueiam a atividade de proteínas que promovem a divisão celular e o crescimento do câncer. O trabalho revelou dois ganhos importantes no segundo grande grupo de mulheres: redução da velocidade de progressão da doença e aumento do tempo de vida (sobrevida global) de 10 meses a mais que o grupo que recebeu a terapia hormonal padrão e placebo.
Também constatou-se que, entre as participantes que receberam a terapia combinada, a doença não progrediu por, em média, 23,8 meses. No caso das mulheres que receberam a terapia endócrina e o placebo, o valor foi de em média 13 meses A diferença corresponde a um risco 29% menor de morte em pacientes que recebem a terapia combinada. ;É ótimo ver que estamos ampliando a duração da vida de uma pessoa, e não apenas o tempo que a doença é controlada. Muito poucos ensaios mostram melhora na sobrevida global. Isso é o que é tão fenomenal sobre os dados do nosso trabalho;, frisou Sarah Hurvitz, principal autora do estudo e professora-associada de hematologia da Universidade da Califórnia (UCLA).
A autora do estudo, que também foi publicado, ontem, na revista especializada New England Journal of Medicine, ressalta que os dados são ainda mais importantes devido ao perfil das pacientes analisadas. ;Esse teste foi único, porque ele olha para as mulheres mais jovens que não passaram pela menopausa. Esse é um grupo importante para estudar, uma vez que o câncer de mama avançado é a principal causa de morte por câncer em mulheres com idade entre 20 e 59 anos, e a grande maioria dos casos de câncer de mama é positivo para receptores de hormônios;, explicou, durante a apresentação do trabalho no Asco. Os autores também não relataram efeitos colaterais diferentes dos descritos na abordagem padrão.
Ineditismo
Para Cristiano Rezende, oncologista do Instituto Onco-Vida/Oncoclínicas, em Brasília, o maior ganho da pesquisa é o aumento de tempo de vida das pacientes. ;É um estudo que, pela primeira vez, mostra o aumento da sobrevida global. Esse ganho de 10 meses é muito importante;, ressaltou. O médico explica que o medicamento testado é amplamente usado, mas o trabalho americano traz novidades. ;Temos três moléculas disponíveis para fazer esse papel inibidor de CDK. Todas já estão disponíveis no Brasil e em uso, mas a grande questão é que essas drogas foram testadas apenas em mulheres com câncer de mama no cenário pós-menopausa e pós-metastático. Em todos os estudos, as drogas aumentaram a sobrevida em relação apenas à velocidade da progressão da doença e não em relação ao ganho de vida global, que é algo extremamente importante;, explica.
Rudinei Linck, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, também ressalta que a pesquisa mostra dados extremamente importantes para a área de tratamento do tumor de mama. ;Ele confirmou os benefícios que já imaginávamos ocorrer, de redução da mortalidade de mama. Esse medicamento foi aprovado há mais ou menos um ano e, agora, uma dúvida se dissipa. Confirmamos que a paciente vai viver por mais tempo, e por um tempo significativo, o que nos dá mais segurança para usá-lo. Isso contribui para um tratamento mais eficaz.;
* A repórter viajou a convite da Janssen
Menos toxicidade
Na edição deste ano do encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, em inglês), também foram apresentados avanços em uma ferramenta genômica que se mostrou promissora no congresso do ano passado. Novos testes mostraram que a oncotype é eficaz para determinar qual paciente pode melhor se beneficiar da quimioterapia após ser submetido a uma cirurgia para tratar o câncer de mama.
O estudo apresentado neste ano mostra que, com informações básicas de uma paciente, como idade e estado menopausal, pode-se gerar uma triagem mais inteligente, capaz de impedir que ela receba tratamentos quimioterápicos preventivos sem necessidade. Dessa forma, evita-se uma exposição inútil a toxicidades.
;Usamos essa ferramenta também como uma espécie de segurança, para evitar que possíveis resquícios do câncer que possam ter ficado não se espalhem;, complementou Cristiano Rezende, oncologista do Instituto Onco-Vida/Oncoclínicas, em Brasília. A oncotype foi criada por pesquisadores do Centro Albert Einstein e Montefiore Health System, nos Estados Unidos. (VS*)
Um freio no câncer de pâncreas
Chicago ; Um estudo apresentado no domingo, durante o encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, em inglês), mostrou que a inclusão de uma terapia farmacológica traz a possibilidade de reduzir significativamente a propagação do câncer de pâncreas. O ganho é extremamente significativo, já que os pacientes diagnosticados com essa doença não sobrevivem em média mais que um ano.
O estudo analisou especificamente pacientes com mutações no gene BRCA, que são hereditárias e ligadas ao aumento das chances de surgimento de tumores no pâncreas, nos ovários, na próstata e na mama. A mutação afeta a capacidade do corpo de reparar o DNA danificado, o que pode ocorrer por fatores como excesso de luz solar e exposição ao amianto. ;As células normais podem ser capazes de repará-lo, mas as que têm a mutação não conseguem e, logo, começam a crescer anormalmente, porque têm seu DNA danificado;, detalha, em comunicado, Hedy Kindler, oncologista do University of Chicago Medical Center e um dos autores do estudo.
O teste foi realizado com mais de 3.300 pessoas com câncer de pâncreas, sendo que 250 foram identificadas com o gene defeituoso. Um grupo, escolhido ao acaso, recebeu o medicamento olaparib e outro, um placebo. Os resultados mostraram que o remédio diminui o risco de progressão da doença em 47%, quando comparado ao grupo de controle. ;Em pacientes que receberam o olaparib, a doença ficou controlada por quase o dobro do tempo em comparação com os pacientes que ingeriram apenas placebo, com os pacientes superando os dois anos de vida; frisou Kindler.
Para Elger Werneck, oncologista do grupo Oncoclínicas em Brasília, o estudo sinaliza a possibilidade de uma nova forma de realizar o tratamento de pessoas com câncer de pâncreas. ;Quando vemos que esse medicamento retarda tanto a progressão de uma doença letal e extremamente agressiva, isso realmente abre um cenário para uma nova estratégia de tratamento, de tal forma que os pacientes devem ser testados em relação a essas mutações genéticas para serem submetidos a esse tratamento;, frisou o especialista brasileiro. (VS*)