postado em 06/06/2019 04:05
Em meio a notícias sobre disparos esporádicos na sobressaltada capital do Sudão, Cartum, os líderes do movimento popular de protesto contra o regime militar rejeitaram ontem uma oferta de diálogo feita pelos governantes. O impasse político no país se aprofundou com os desdobramentos da violenta repressão imposta a manifestantes, na segunda-feira, diante da sede do Exército. Um novo balanço apontou a morte de 101 pessoas, em vez das 60 vítimas relatadas inicialmente.
;O povo sudanês não está aberto a negociações;, proclamou Amjad Farid, porta-voz da Associação de Profissionais Sudaneses, que lidera o movimento. ;O povo sudanês não está aberto a esse conselho de transição militar que mata pessoas;, reforçou. ;Precisamos de justiça e de responsabilização (dos culpados) antes de podermos falar sobre qualquer processo político.;
O Conselho Militar, que assumiu o poder depois de afastar o presidente Omar al-Bashir, em 11 de abril, ordenou a dispersão à força de manifestantes, na segunda-feira. A operação foi descrita pela oposição como ;um massacre;. Nas horas seguintes, 61 corpos de vítimas foram contados nos hospitais de Cartum, mas ao longo da terça-feira feira foram encontrados mais 40 mortos nas águas do Rio Nilo. A repressão deixou 326 feridos, segundo fontes do movimento pela democracia.
Após o ataque, a Força de Apoio Rápido (RSF, em inglês), um grupo paramilitar ligado ao Exército, foi mobilizada em todo o país. Ontem, o comércio não abriu as portas na capital, e poucos eram os veículos circulando nas ruas, embora o país celebrasse o feriado de Eid al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado muçulmano do Ramadã. A internet móvel ficou inacessível desde segunda-feira, o que atinge fundamentalmente o movimento de contestação à junta militar.
O acampamento de protesto foi estabelecido na capital sudanesa em 6 de abril, e conseguiu a destituição de Bashir, cinco dias depois. A instalação do Comitê Militar de Transição, porém, motivou os manifestantes a prosseguir com a vigília diante da sede das Forças Armadas, para exigir a transferência de poder aos civis.
Em discurso transmitido pela tevê, o chefe da junta militar, Abdel Fattah al-Burhane, disse ;lamentar o que aconteceu; e pediu que ;se abra uma nova página; na transição política. ;Abrimos os braços a negociações sem restrições para fundar um poder legítimo que seja o reflexo da revolução dos sudaneses.; Os generais negam ter ;dispersado pela força; os manifestantes e alegam que uma ;operação de limpeza; promovida pelas forças de segurança perto do acampamento degenerou em violência. Uma investigação foi aberta pela Procuradoria Geral.