postado em 07/06/2019 04:06
Um dos casos mais rumorosos de assassinatos em série da história recente da Alemanha foi concluído com a condenação à prisão perpétua do enfermeiro Niels H;gel, 42 anos, que já cumpria a mesma pena por uma sentença proferida em 2015. Ontem, um tribunal de Oldenburg declarou H;gel culpado do assassinato de 85 pacientes nos hospitais onde trabalhou entre 2000 e 2005, pela aplicação de injeções letais. A policia suspeita que ele pode ter matado até 200 pessoas, mas vários casos não poderão ser esclarecidos, já que os corpos das supostas vítimas foram cremados.
Ao anunciar a decisão, o juiz Sebastian Buhrmann, que presidiu o julgamento, afirmou que os crimes do enfermeiro ;desafiam a razão e todos os limites conhecidos;. ;São tantas vítimas que o espírito humano capitula;, disse o magistrado, dirigindo-se ao réu. ;O que você fez é incompreensível, é simplesmente demais.;
As vítimas, com idades entre 34 e 96 anos, eram escolhidas ao acaso. Entre 2000 e 2005, H;gel injetou uma superdose de medicamentos em dezenas de pacientes, alegando que queria se destacar entre os colegas ao reanimar os enfermos. ;Era a única maneira de eu me integrar na equipe;, afirmou. Na véspera de ser condenado pela segunda vez à pena máxima prevista nas leis alemãs, ele disse que se sente ;perseguido dia e noite; pelos sentimentos de ;vergonha e remorso;. ;Quero, sinceramente, pedir desculpas a todos pelo mal que causei durante todos esses anos.;
Inicialmente, em 2015, H;gel tinha reconhecido a autoria de 30 assassinatos cometidos na cidade de Delmenhorst. Na ocasião, porém, negou ter matado pacientes em Oldenburg. A necropsia conduzida nos corpos das vítimas da segunda cidade, porém, demonstrou que a afirmação do enfermeiro era falsa. Durante o processo encerrado ontem, quando questionado por que havia mentido, o réu justificou-se alegando que estaria ;envergonhado com a dimensão; dos crimes que cometera.
Depois de reconhecer a responsabilidade por 100 mortes, H;gel por fim disse ter a certeza de ter ;manipulado; 43 pacientes. Alegou não se lembrar do que acontecera com outros 52 outros e negou a responsabilidade em cinco casos, provocando confusão e frustração entre as famílias das vítimas.
Os especialistas psiquiátricos indicaram que H;gel sofre de um profundo problema de narcisismo. ;Está sempre disposto a mentir, se isso permitir a ele que se destaque de alguma maneira;, avaliou o médico Max Steller, um dos que prestaram depoimento durante as audiências.
Niels H;gel nasceu em 30 de dezembro de 1976, em Wilhelmshaven, e aos 19 anos tornou-se enfermeiro, a profissão do pai. No fim de 1999, começou a trabalhar no hospital de Oldenburg e, no início de 2003, no hospital da vizinha Delmenhorst.
Suspeitas
Na condução do julgamento, as autoridades alemãs tentaram esclarecer como o assassino conseguiu matar tantas pessoas, ao longo de cinco anos, sem ser preso. O hospital de Delmenhorst admitiu ter tido suspeitas, e o de Oldenburg o demitiu em 2002, argumentando ;perda de confiança; ; embora tenha lhe dado uma carta de recomendação. Vários colegas e superiores hierárquicos de Oldenburg, que testemunharam durante o julgamento, negaram que tivessem suspeitado de H;gel. Outros disseram que não se lembravam dos fatos.
Essa ;amnésia coletiva; exasperou o juiz, que acusou 10 pessoas de perjúrio e falso testemunho. Além disso, os responsáveis pelos dois hospitais terão de prestar explicações em um julgamento diferente, no qual H;gel será chamado como testemunha.
Entre os parentes das vítimas, a sentença proferida ontem foi recebida como uma garantia a mais de que H;gel dificilmente conseguirá algum dia deixar o presídio, onde está há 10 anos. ;Que este homem nunca saia da prisão;, reagiu Petra Klein. Embora as leis alemãs não excluam a possibilidade de uma revisão futura da sentença, ela considera a ideia ;simplesmente insuportável;.
;Há tantas vítimas que o espírito humano capitula diante de semelhante quantidade de crimes;
Sebastian Buhrmann, juiz alemão