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União de terapias contra o câncer de próstata

A combinação de drogas quimioterápicas e abordagens hormonais resulta em aumento de sobrevida de pacientes e redução na progressão da doença em estágio avançado, mostram estudos apresentados em congresso internacional de oncologia

postado em 09/06/2019 04:06




Chicago ;
O câncer de próstata é a segunda principal causa de morte por tumores malignos em homens no mundo, atrás apenas do câncer de pulmão (Leia Para saber mais). No estágio mais grave da doença, há poucas opções terapêuticas a serem exploradas. Cientistas internacionais descobriram que o uso de medicamentos antitumorais já prescritos por médicos, quando combinado com a terapia hormonal, pode aumentar a vida de pacientes em estágio metastático. As descobertas foram apresentadas no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia (Asco), realizado na semana passada, nos Estados Unidos.

O TITAN, um dos estudos clínicos voltados para o tratamento do câncer de próstata apresentado no congresso internacional, avaliou a eficácia e a segurança da apalutamida. ;Essa molécula pertence a uma classe de medicamentos que inibem a função normal dos andrógenos (hormônios masculinos), como a testosterona. Essas drogas agem bloqueando os receptores androgênicos, que são parte da maquinaria sofisticada usada pelas células em muitos processos biológicos normais, incluindo a regulação dos níveis de testosterona;, explica ao Correio Kim Chi, principal autor do estudo, médico oncologista da British Columbia Cancer Agency e diretor-associado de pesquisa clínica no Vancouver Prostate Center, no Canadá.

O estudo contou com a participação de 230 instituições em todo o mundo e a inscrição de mais de mil pacientes. Todos os participantes tinham câncer de próstata metastático e, em média, 68 anos de idade. Parte deles recebeu a terapia hormonal em parceria com o medicamento apalutamida. A outra parcela, um placebo combinado com a terapia hormonal. Após 24 meses de tratamento, a intervenção combinada com a droga gerou redução de 33% no risco de morte e queda de 58% na chance de progressão da doença.

Os resultados foram considerados extremamente animadores pela equipe. ;Esse é um grande estudo que mostrou, pela primeira vez, melhora significativa na sobrevida geral e no atraso da progressão da doença em homens com câncer de próstata avançado ao se usar essa nova classe de drogas conhecida como inibidor potente e direto do receptor androgênico;, ressalta Kim Chi.

Os autores do estudo acreditam que os dados obtidos poderão mudar a forma como a vasta maioria dos homens com a doença avançada é tratada. ;Esse estudo ressalta por que os ensaios clínicos são tão vitais para melhorar o tratamento do câncer. O processo de ensaios clínicos nos permite identificar tratamentos mais eficazes, avaliá-los em um ambiente controlado e trazer resultados para nossos pacientes com câncer. Com base nos dados desse estudo, estamos esperançosos de que a apalutamida obtenha a aprovação para ser utilizada no câncer de próstata avançado pela agência reguladora dos Estados Unidos nos próximos meses;, frisa Kim Chi.

Relevância
Quase 100% dos homens com câncer de próstata em estágio inicial têm sobrevida de cinco anos. Por outro lado, a taxa cai para 30% nos casos em que a doença se espalhou para outras partes do corpo, segundo a American Cancer Society. Por isso, segundo Fábio Schutz, oncologista da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, o trabalho internacional tem dados de grande relevância. ;Esse trabalho mostrou dois grandes benefícios: o prolongamento da vida e uma redução nas chances de progressão do tumor. Isso nos mostra uma possível melhor opção no futuro;, avalia.

Segundo o especialista, no Brasil, ainda não há dados sobre a quantidade de pacientes que poderiam ser beneficiados. ;Mas presumo que, de acordo com as estatísticas americanas, cerca de 5% a 10% das pessoas diagnosticadas já apresentam doença metastática no início do tratamento, e as chances disso ocorrer durante o processo terapêutico também são altas. Sendo assim, parece que um grande número de pessoas poderiam ser impactadas positivamente.;

O médico brasileiro ressalta ainda que um desafio futuro a ser enfrentado no combate a cânceres é o valor alto das drogas. ;Acho que usar esse tipo de medicamento é algo muito caro ainda, mas temos também a possibilidade de surgirem genéricos e uma possível batalha entre empresas farmacêuticas, o que pode ajudar a baratear esse processo;, explica Schutz.

Nova opção
No segundo estudo, chamado ENZAMET, os cientistas testaram a droga chamada enzalutamida. Eles recrutaram 1.125 homens, divididos conforme o tratamento experimental. Parte deles recebeu o medicamento, e o segundo grupo, outras remédios antitumorais, como bicalutamida, nilutamida ou flutamida. Os participantes também foram subdivididos quanto ao uso combinado ou não da droga odocetaxel, um medicamento quimioterápico.

Após três anos de estudo, dos 596 homens com tumores maiores e mais graves, 71% dos que receberam enzalutamida estavam vivos. Já no outro grupo que recebeu os outros medicamentos, esse número foi de 64%. Entre os homens que receberam enzalutamida sem docetaxel, 83% estavam vivos, versus 70% do grupo controle.

O benefício de sobrevida não foi observado com o uso do docetaxel em homens com baixo volume de doença, mas a enzalutamida melhorou a sobrevida nesse grupo de participantes. ;Agora, médicos e pacientes com câncer de próstata têm uma nova opção de tratamento com enzalutamida;, diz Christopher Sweeney, médico oncologista do Centro Lank de Oncologia Geniturinária, no Instituto do Câncer Dana-Farber, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.

Os resultados do trabalho serão compilados com os de ensaios similares para que os pesquisadores tenham um conjunto de dados que inclua mais de 10 mil homens. Com esse grande agrupamento de informações, eles esperam poder fazer extensas comparações entre medicamentos e, assim, determinar quais grupos específicos de homens poderão se beneficiar com cada tipo de estratégia de tratamento.

* A repórter viajou a convite da Janssen



Para saber mais

Fatores de
risco variados


De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o tumor na próstata é o segundo mais comum entre homens brasileiros, com mais de 14 mil mortes, atrás apenas do tumor de pele não melanoma. O levantamento mais recente feito pelo órgão estima que serão 68.220 novos casos da doença em 2019, sendo que os valores correspondem a um risco estimado de 66 novos casos a cada 100 mil homens.

Entre os fatores de risco da doença está o avanço da idade. No Brasil, a cada 10 homens diagnosticados com esse tipo de tumor, nove têm mais de 55 anos. Outros pontos que influenciam o câncer de próstata é histórico familiar, sobrepeso e obesidade. Hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e não ter hábitos danosos à saúde ; fumar, por exemplo ;, podem ajudar na prevenção dessa doença.




30%
Estimativa de sobrevida de cinco anos para pacientes diagnosticados com câncer de próstata metastático. Se a doença for descoberta em estágios iniciais, a previsão chega a 100%.




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