postado em 10/06/2019 04:05
A agenda ecologista ensaia em uma casa de campo nos arredores de Montevidéu para desfilar como novidade na eleição presidencial de outubro, quando o Uruguai escolherá o sucessor do médico Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, a coalizão de centro-esquerda que domina a política do país neste início de século. O porta-bandeira é o engenheiro agrônomo César Vega, 56 anos, que vive desde 1996 em bases autossustentáveis: planta alface, espinafre, alho, pimentas e tomates. Além de garantir a própria alimentação, abastece uma clientela ávida por produtos orgânicos. Graças às galinhas e ao gado que cria para consumo próprio, não compra carne há 11 anos.
Eleitor da Frente Ampla desde a juventude, quando o país saiu da ditadura militar, César afastou-se e esteve entre os fundadores do Partido Ecologista Radical Intransigente (Peri), em 2013. No ano seguinte, faltaram a ele poucos votos para chegar ao parlamento. Neste ano, como candidato a presidente, aparece nas pesquisas com 2% das intenções de voto ; pouco para aspirar à faixa que será passada por Tabaré, mas um ponto de partida animador para tentar uma cadeira de deputado no ano que vem.
;Para mim, esse assunto (a política) é um sacrifício. Imagine minha vida aqui, no campo... ;, comenta, invocando um estilo que lembra, inevitavelmente, o popular ex-presidente Pepe Mujica, que nunca deixou de morar em uma chácara. ;Digo que há uma idade para fazer as coisas. Temos de considerar seriamente o que está acontecendo no mundo, e temos de cuidar para que seja melhor;, filosofa o candidato ecologista.
A ideia mais clara que César tem para o futuro é promover ;uma forma de vida sustentável, com muita gente radicada no campo;. Em um país com população majoritariamente urbana, ele admite que não espera resultado imediato, mas não cede ao imediatismo político. ;A única coisa que eu sei é que o modelo atual, de cidades superlotadas cercadas por comunidades carentes, não é viável, seja em Montevidéu, seja em Buenos Aires ou Porto Alegre;, arremata. (SQ)
Para saber mais
Filhos da Guerra Fria
As raízes mais profundas do que se pode chamar de ecopolítica estão na primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, celebrada em 1972, em Estocolmo. Não por acaso, a temática se incorporou rapidamente à agenda social na Escandinávia. Mas foi na década seguinte, na Alemanha, que a fusão da ecologia com o pacifismo deu origem a um partido político capaz de reordenar o quadro político construído no pós-Segunda Guerra.
O começo dos anos 1980 marcou um ponto culminante na corrida armamentista travada por Estados Unidos e União Soviética, no âmbito da Guerra Fria. As duas superpotências mantinham mísseis nucleares estratégicos apontados reciprocamente, mas também instalavam armas atômicas de alcance intermediário no território dos aliados europeus. A Alemanha, dividida entre Ocidental (capitalista) e Oriental (comunista), abrigava a fronteira mais tensa entre os dois blocos.
Com Ronald Reagan na Casa Branca, os EUA decidiram reforçar as defesas nucleares na Europa com uma nova geração de mísseis, em nome de anular uma alegada superioridade soviética. Colocada no fogo cruzado entre Washington e Moscou, a sociedade alemã reagiu com um vigoroso movimento de protesto contra a iniciativa. Nele, veteranos esquerdistas das rebeliões de 1968 fundiram-se aos numerosos núcleos da cultura alternativa para articular o lançamento de uma legenda ecopacifista.
O partido dos Verdes foi fundado em 1980 e conquistou as primeiras cadeiras no Bundestag (parlamento federal) em 1983. Com a reunificação do país, em 1990, a legenda incorporou a Aliança 90, formada pelos antigos dissidentes do regime comunista alemão-oriental. Os Verdes chegaram ao governo federal em 2002, em aliança com a social-democracia. Hoje na oposição, estão presentes no governo de vários estados e presidem desde 2011 o de Baden-Württemberg, no sul, que tem Stuttgart como capital. (SQ)