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Milhares contra extradições

Um milhão de pessoas, segundo organizadores, pedem que governo recue no projeto que prevê o envio de réus para a China. Eles temem julgamentos politizados e parciais, opinião compartilhada por advogados, juízes e diplomatas do estado independente

postado em 10/06/2019 04:05
Vista aérea da marcha, que reuniu uma multidão nas principais avenidas de Hong Kong: a polícia calculou em 240 mil o número de manifestantes



No maior protesto popular em 30 anos, mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas de Hong Kong contra o projeto que, se aprovado, permitirá extradições para a China continental. A polícia local, que historicamente faz estimativas bem abaixo das divulgadas pelos organizadores, calculou em 240 mil o número de manifestantes, que enfrentaram o calor para, pacificamente, pedirem ao governo que recue na proposta.

Apresentado pelas autoridades da ex-colônia britânica pró-Pequim, o projeto deixará a população à mercê de um sistema judiciário chinês opaco e politizado, alegam os críticos. Apesar da manifestação de ontem ; a maior desde 1989, quando estudantes protagonizaram o que ficou conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial ;, não está claro se o clamor popular será ouvido. Em um comunicado divulgado à noite, o governo local, conduzido por Carrie Lam, apenas descreveu os protestos como ;um exemplo do exercício da liberdade de expressão do povo de Hong Kong;.

Em entrevista ao jornal The New York Times, Ivan Choy, especialista em administração pública e governo da Universidade Chinesa de Hong Kong, afirmou que dificilmente Lam vai retirar o projeto da pauta. ;O maior problema é que Xi Jinping detém o poder na China, e ele é um homem forte;, comentou, em relação ao principal líder de Pequim. ;Ele apoiará a decisão de Carrie Lam de avançar (com a proposta). A maior parte das pessoas conhece essa realidade, mas elas têm de mostrar ao mundo que essa legislação não é o desejo do povo de Hong Kong.;

Mais ações
Os organizadores da marcha advertiram que aumentarão as ações, caso o governo não volte atrás, trazendo à tona os eventos de 2014, quando manifestantes pró-democracia ocuparam durante dois meses cruzamentos de importantes vias da cidade.

Isso pode enfurecer Pequim, já que o projeto de lei tem o apoio de várias lideranças do Partido Comunista. Apesar da postura pacífica do protesto em Hong Kong, os participantes foram agredidos pela polícia, que tentou dispersá-los com cassetetes e gás de pimenta, depois que um grupo anunciou que permaneceria durante toda a noite em frente à sede do governo. Alguns responderam, lançando garrafas contra os agentes.

O projeto do governo local também provocou críticas de juristas, dos círculos financeiros e de diplomatas ocidentais.

As autoridades tentam realizar, no Conselho Legislativo (LegCo, o ;Parlamento; local), a votação. A norma autorizaria as extradições para países com os quais não existe um acordo sobre o tema, entre os quais a China continental. O Executivo da região semiautônoma defende que a lei vai preencher uma brecha jurídica e que é necessária, em especial para permitir a extradição para Taiwan de um cidadão de Hong Kong acusado de assassinar a ex-namorada. Na nota divulgada ontem, o governo local justificou o projeto dizendo que ele impedirá que a região se torne um refúgio para fugitivos. Os críticos, porém, insistem que essa é apenas uma desculpa para satisfazer Pequim.

Na semana passada, mais de 3 mil advogados e juízes fizeram uma passeata silenciosa contra o projeto que, de acordo com eles, está avançado muito rápido. A presidente Tsai Ing-wen, da ilha independente de Taiwan, alertou seu povo que ela nunca aceitaria tal acordo de Pequim. Pelo Twitter, ela afirmou que ;estamos com todas as pessoas amantes da liberdade de #HongKong;. ;Enquanto eu for presidente, ;um país e dois sistemas; nunca será uma opção;, escreveu.



;Estamos com todas as pessoas amantes da liberdade de #HongKong;

Tsai Ing-wen, presidente da ilha independente de Taiwan




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